São Paulo, quinta-feira, 10 de agosto de 2006

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Festival Música Nova aposta na diversidade

Evento apresentará obras de Berio, Chostakovitch, Arrigo Barnabé e Flo Meneses

Com entrada franca, tradicional mostra da produção erudita contemporânea vai até o dia 22, em SP e Santos


IRINEU FRANCO PERPETUO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Vai ter de Chostakovitch a Arrigo Barnabé, passando por Stravinski, Berio e Flo Meneses. Mais tradicional mostra de música contemporânea da América Latina, o Festival Música Nova contempla a diversidade em sua 41� edição.
O evento vai até o dia 22 de agosto, em São Paulo e Santos, com entrada franca para todas as atrações, e ocupando espaços de apresentação distintos, como o Auditório Ibirapuera, o Sesc Consolação e o Centro Universitário Maria Antônia.
O primeiro concerto paulistano acontece amanhã, no Auditório Ibirapuera, com a Banda Sinfônica do Estado de São Paulo, sob regência de Dario Sotelo, percorrendo um programa que inclui obras de compositores russos do século 20, como Stravinski e Chostakovitch, ao lado de autores brasileiros da atualidade, como Denise Garcia e Eduardo Guimarães Álvares.
No mesmo lugar, no dia seguinte, o pianista Yuri Serov é o convidado especial da Orquestra Sinfônica Municipal de Santos na execução do concerto para piano do russo-germânico Alfred Schnittke. No domingo, é a vez do Ensemble Orchestral Contemporain, da França, subir ao palco do Ibirapuera para tocar peças do italiano Luciano Berio, do paulista Flo Meneses, entre outras.
A soprano Celine Imbert mostra, no dia 14, no Sesc Consolação, um repertório que inclui canções de Arrigo Barnabé, enquanto, no dia 16, no mesmo local, a soprano Andrea Kaiser e o baixo Carlos Eduardo Bastos atuam na ópera "Eros Íon", de Paulo César Chagas, 53, radicado na Alemanha desde a década de 90.
O Sesc Consolação recebe ainda dois destaques internacionais, os alemães do Ensemble Aventure, dia 21, e o performático grupo inglês Apartment House, dia 22.

Música e cinema
A abertura do festival não traz um concerto, mas um filme: o documentário "A Odisséia Musical de Gilberto Mendes", exibido hoje à noite, no Cinesesc, em que o cineasta Carlos de Moura Ribeiro Mendes conta a trajetória de seu pai, criador do festival, em Santos, em 1962. Desde então, o evento só não ocorreu entre 1965 e 1967, por causa do regime militar, sofrendo nova interrupção em 2002, devido à falta de patrocínio.
A abertura terá, além do filme, a execução, pelo saxofonista Roberto Sion, de uma obra do diretor artístico do festival: "Peixinho Danse le Frevo au Brésil", que Gilberto Mendes compôs em 1999, em memória de seu amigo, o compositor luso Jorge Peixinho (1940-1995), sob encomenda do saxofonista francês Daniel Kientzy.
Com pouco mais de cinco minutos de duração, a obra tem como base um frevo imaginado por Mendes, e requer, ao longo da performance, que o instrumentista utilize, sucessivamente, saxofone soprano, alto, tenor e barítono.

Encenação viável
Escrever peças breves sob encomenda tem sido a tônica da produção do compositor, hoje com 83 anos de idade. "Sempre tem um amigo que pede música", diz. "Não faço mais a música que quero, faço a que me pedem."
Uma encomenda da qual o compositor tem especial orgulho é "Alegres Trópicos - Um Baile na Mata Atlântica", que a Osesp estreou no mês passado. "Foi uma obra muito bem paga. Reclamei no começo, daí eles aumentaram minha remuneração", conta.
Mendes continua a persistir no projeto de compor uma ópera; "Issa", da qual já fez a abertura, sobre texto do poeta Décio Pignatari. Sem vocação de escrever para as gavetas, ele se preocupa em produzir uma obra cuja encenação seja viável em cidades como Santos ou Ribeirão Preto.
"Todas as minhas peças, mesmo as de vanguarda, foram tocadas, porque são executáveis", argumenta. "Quero uma obra simples, com cenário sumário, e que tenha uma fluência mozartiana."
Ele prepara, ainda, uma continuação de seu livro anterior, "Uma Odisséia Musical", lançado pela Edusp, em 1994, contando sua trajetória musical. A sair pela mesma editora, a nova publicação tem o título provisório de "Com Stravinski e Meus Ouvidos, Rumo à Estação São Petersburgo".


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