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Crítica/"Taxi Driver"
Clássico de Scorsese é ponto alto de época ousada
"Taxi Driver" (1976) retorna em DVD
com dois discos, recheados de extras
SÉRGIO RIZZO
CRÍTICO DA FOLHA
Pequenos caprichos do
destino, aliados a opções que foram depois
abandonadas, poderiam ter feito de "Taxi Driver" um filme dirigido por Brian De Palma, com
Dustin Hoffman no papel de
Travis Bickle. Nesse mundo paralelo, ele talvez fosse realizado
em vídeo, em preto-e-branco e
fora de Nova York.
De Palma foi quem primeiro
recebeu o roteiro de Paul
Schrader para que examinasse
a possibilidade de filmá-lo, mas
julgou que o argumento era
mais adequado a Martin Scorsese. Em diferentes estágios do
projeto, cogitou-se adaptá-lo
aos escassos recursos disponíveis para torná-lo viável.
Por fim, um orçamento (modesto) de US$ 2 milhões, Robert De Niro, película colorida
e as ruas da perigosa Nova York
de meados dos anos 70 fizeram
com que "Taxi Driver" encontrasse o seu caminho como um
clássico da "nova Hollywood",
agora relançado em DVD, em
"edição definitiva" com dois
discos e muitos extras.
De notável valor arqueológico, esse material proporciona
uma expedição a um dos momentos mais férteis de ousadia
e inventividade no cinema norte-americano, detonado no final dos anos 60 com a tomada
do poder, no coração da indústria, por uma nova geração de
diretores, produtores, técnicos
e atores.
De "Sem Destino" (1968) a
"Touro Indomável" (1980),
usando os marcos inicial e final
adotados pelo jornalista Peter
Biskind para reconstituir o período no livro-reportagem
"Easy Riders, Raging Bulls", foram anos de feliz sintonia com
as expectativas do público que
havia se tornado adulto na década de 60, sob a influência da
contracultura, da revolução sexual e da Guerra do Vietnã.
"Taxi Driver" é uma das mais
bem-sucedidas expressões desse ambiente favorável à experimentação, desde a escolha incomum de argumento a solidão e a violência urbanas nos EUA
sob a perspectiva de um insone
ex-combatente no Vietnã até a
vitalidade estilística (com o risco assumido do exagero) eleita
para dar conta dele.
De acordo com os depoimentos detalhados de Scorsese nos
mini-documentários que
acompanham o filme, suas
principais referências -meramente "inspiracionais" ou fornecedoras de parâmetros estéticos- foram o franco-suíço Jean-Luc Godard, o alemão
Rainer Werner Fassbinder, o
italiano Francesco Rosi e o inglês Alfred Hitchcock.
Os extras reúnem também
entrevistas com Schrader, o
produtor Michael Phillips, o diretor de fotografia Michael
Chapman, De Niro e colegas de
elenco, como Jodie Foster,
Cybill Shepherd e Albert
Brooks, além de convidados como o cineasta Oliver Stone e o
crítico Robert Kolker, autor de
um livro seminal ("A Cinema of
Loneliness") sobre a solidão no
cinema norte-americano dos
anos 60 e 70.
Para contrabalançar a saudade daqueles tempos inquietos e
de seus filmes notáveis, sobretudo se comparados à Hollywood de hoje, ex-taxistas de
Nova York dão seus depoimentos. "Bickle não estava errado",
diz um deles. "A cidade era o inferno de Dante."
TAXI DRIVER
Direção: Martin Scorsese
Distribuidora: Sony (R$ 30)
Avaliação: ótimo
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