|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
DISCO/LANÇAMENTO CRÍTICA
Tropicália ganha coleções para "inglês ver"
PEDRO ALEXANDRE SANCHES
da Reportagem Local
Milagre, milagre. Pela primeira
vez, o atual falatório em torno da
tropicália, a mais "nova descoberta" norte-americana, escapa, no
Brasil, do oba-oba e resulta em
duas edições de peso em CD.
São "The Best of Tropicália",
coletânea nitidamente orientada
ao mercado gringo, e -enfim!-
a edição nacional de (o título é
longo) "World Psychedelic Classics 1: Brazil - The Best of Os Mutantes - Os Mutantes - Everything
Is Possible!", condensação do
imaginário da banda tropicalista
paulista por David Byrne.
Não passam de compilações em
CDs simples, o que resulta, sempre, em material de alcance limitado. Mas são, como sejam, os objetos capazes de legitimar (para
brasileiros que ainda precisem de
legitimação) a lengalenga arrogante em torno do novo "ovo de
Colombo" norte-americano, alegremente importada e enviesada
pelos conterrâneos de cá.
"The Best of Tropicália"
Sem poder ser abrangente,
"The Best of Tropicália" consegue
ainda assim ir ao âmago do movimento que mudou o pop brasileiro em 67/68, vasculhando até
(poucos de) seus recantos ocultos. Para começar -outro espanto-, traz reveladoras artes de capa e contracapa, desenhadas pelo
ex-mutante Arnaldo Baptista. Os
pingos dos "i"s de "Tropicália"
são comoventes coraçõezinhos, e
a metáfora do movimento esquizofrênico é atinada num papagaio
azul (uma semi-arara?) e num Rio
de Janeiro (e a tropicália foi entre
baiana e paulista!...) verde e azul.
A seleção inteligente não foge
aos temas inevitáveis -"Tropicália" e "Alegria, Alegria", com Caetano Veloso, "Domingo no Parque", com Gilberto Gil e Mutantes, "Bat Macumba", com Caetano, Gil e Mutantes (e não só com
Gil, como erra o CD), "Baby" e
"Divino, Maravilhoso", com Gal
Costa, "Panis et Circensis", com
Mutantes-, mas vai além.
Contempla a "Lindonéia" de
Nara Leão, a "Procissão" tropicalista (antes, houvera outra versão,
tipo canção de protesto e mais conhecida que esta) de Gil, a genial/
cinematográfica "Luzia Luluza",
também de Gil, o "Não Identificado" de Gal, quase pós-tropicalista, e aquele que é talvez o único
momento de fato coletivo da tropicália, o monumental "Parque
Industrial", composto por Tom
Zé e interpretado por Gil, Caetano, Gal e Mutantes.
Avança na raridade moderada
em versão limpa de "É Proibido
Proibir", com Caetano e Mutantes, e na raridade total na dupla
"Canção para Inglês Ver"/"Chiquita Bacana", com Mutantes e
Rogério Duprat, gravada para o
LP "A Banda Tropicalista do Duprat" (68), inexplicavelmente desaparecido há décadas. Antes
pouco do que nada...
"Everything Is Possible!"
Quanto à coletânea norte-americana dos Mutantes, não há surpresas além dos minuciosos capa
e encarte. David Byrne dispôs dos
cinco discos oficiais do grupo ainda com os três membros fundadores, Rita Lee e os irmãos Arnaldo Baptista e Sérgio Dias, para
sintetizá-los aos ouvidos ianques
desacostumados.
Retirou pedras fundamentais
do mais importante dos grupos
pop brasileiros, como "A Minha
Menina" (do semitropicalista Jorge Ben), "Adeus, Maria Fulô"
(68), "Dia 36", "Fuga N� 2 dos
Mutantes" (69), "Ando Meio Desligado", "Ave, Lúcifer" (70), "El
Justiciero" (71), "Cantor de Mambo" (72).
Ou seja, é tudo que os brasileiros deviam conhecer de cor e salteado -mas não conhecem.
Quanto ao álbum "Technicolor",
gravado em Paris em 1971 e mantido inédito até hoje, o mistério
completo continua a rondar sua
continuada inexistência. Antes
pouco do que nada...
Avaliação:
Discos: The Best of Tropicália e Os
Mutantes - Everything Is Possible!
Lançamentos: Universal
Quanto: R$ 18, cada CD
Texto Anterior: Abertas inscrições do Festival de Brasília Próximo Texto: Artes Plásticas: Bienal vai buscar mais consenso Índice
|