São Paulo, Segunda-feira, 06 de Setembro de 1999
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DISCO/LANÇAMENTO CRÍTICA
Tropicália ganha coleções para "inglês ver"

PEDRO ALEXANDRE SANCHES
da Reportagem Local

Milagre, milagre. Pela primeira vez, o atual falatório em torno da tropicália, a mais "nova descoberta" norte-americana, escapa, no Brasil, do oba-oba e resulta em duas edições de peso em CD.
São "The Best of Tropicália", coletânea nitidamente orientada ao mercado gringo, e -enfim!- a edição nacional de (o título é longo) "World Psychedelic Classics 1: Brazil - The Best of Os Mutantes - Os Mutantes - Everything Is Possible!", condensação do imaginário da banda tropicalista paulista por David Byrne.
Não passam de compilações em CDs simples, o que resulta, sempre, em material de alcance limitado. Mas são, como sejam, os objetos capazes de legitimar (para brasileiros que ainda precisem de legitimação) a lengalenga arrogante em torno do novo "ovo de Colombo" norte-americano, alegremente importada e enviesada pelos conterrâneos de cá.

"The Best of Tropicália"
Sem poder ser abrangente, "The Best of Tropicália" consegue ainda assim ir ao âmago do movimento que mudou o pop brasileiro em 67/68, vasculhando até (poucos de) seus recantos ocultos. Para começar -outro espanto-, traz reveladoras artes de capa e contracapa, desenhadas pelo ex-mutante Arnaldo Baptista. Os pingos dos "i"s de "Tropicália" são comoventes coraçõezinhos, e a metáfora do movimento esquizofrênico é atinada num papagaio azul (uma semi-arara?) e num Rio de Janeiro (e a tropicália foi entre baiana e paulista!...) verde e azul.
A seleção inteligente não foge aos temas inevitáveis -"Tropicália" e "Alegria, Alegria", com Caetano Veloso, "Domingo no Parque", com Gilberto Gil e Mutantes, "Bat Macumba", com Caetano, Gil e Mutantes (e não só com Gil, como erra o CD), "Baby" e "Divino, Maravilhoso", com Gal Costa, "Panis et Circensis", com Mutantes-, mas vai além.
Contempla a "Lindonéia" de Nara Leão, a "Procissão" tropicalista (antes, houvera outra versão, tipo canção de protesto e mais conhecida que esta) de Gil, a genial/ cinematográfica "Luzia Luluza", também de Gil, o "Não Identificado" de Gal, quase pós-tropicalista, e aquele que é talvez o único momento de fato coletivo da tropicália, o monumental "Parque Industrial", composto por Tom Zé e interpretado por Gil, Caetano, Gal e Mutantes.
Avança na raridade moderada em versão limpa de "É Proibido Proibir", com Caetano e Mutantes, e na raridade total na dupla "Canção para Inglês Ver"/"Chiquita Bacana", com Mutantes e Rogério Duprat, gravada para o LP "A Banda Tropicalista do Duprat" (68), inexplicavelmente desaparecido há décadas. Antes pouco do que nada...

"Everything Is Possible!"
Quanto à coletânea norte-americana dos Mutantes, não há surpresas além dos minuciosos capa e encarte. David Byrne dispôs dos cinco discos oficiais do grupo ainda com os três membros fundadores, Rita Lee e os irmãos Arnaldo Baptista e Sérgio Dias, para sintetizá-los aos ouvidos ianques desacostumados.
Retirou pedras fundamentais do mais importante dos grupos pop brasileiros, como "A Minha Menina" (do semitropicalista Jorge Ben), "Adeus, Maria Fulô" (68), "Dia 36", "Fuga N� 2 dos Mutantes" (69), "Ando Meio Desligado", "Ave, Lúcifer" (70), "El Justiciero" (71), "Cantor de Mambo" (72).
Ou seja, é tudo que os brasileiros deviam conhecer de cor e salteado -mas não conhecem. Quanto ao álbum "Technicolor", gravado em Paris em 1971 e mantido inédito até hoje, o mistério completo continua a rondar sua continuada inexistência. Antes pouco do que nada...


Avaliação:     


Discos: The Best of Tropicália e Os Mutantes - Everything Is Possible! Lançamentos: Universal Quanto: R$ 18, cada CD


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