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Senhora do DESTINO
Gianne Carvalho/TV Globo
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Renata Sorrah, que vive a vilã Nazaré em "Senhora do Destino" |
Renata Sorrah fala de Nazaré, a vilã que roubou a cena na novela das oito da Globo
DANIEL CASTRO
COLUNISTA DA FOLHA
A atriz Renata Sorrah, 57, só
soube depois de começar a gravar
"Senhora do Destino" que seu nome não era o primeiro da lista para interpretar a vilã Nazaré.
Sorrah aparenta não ligar para
isso, até porque Nazaré "roubou"
a novela, que, assim, poderia se
chamar "Senhora do Desatino".
A atriz diz ter muito prazer com
a personagem, mas ainda não
consegue avaliar se é maior do
que a alcoólatra Heleninha Roitman, que interpretou em "Vale
Tudo" (1988). A seguir, trechos de
entrevista concedida por Sorrah.
Folha - Nazaré é a sua maior personagem na TV ou Heleninha Roitman continua imbatível?
Renata Sorrah - Era a Heleninha.
Falta distanciamento para saber
[se Nazaré é a maior]. É incrível
como até hoje todo mundo fala da
Heleninha. Tenho uma certa noção da repercussão da Nazaré,
mas acho que daqui a pouco é que
eu vou ver. Só sei que são duas
personagens adoráveis.
Folha - Como o público reage?
Sorrah - A Nazaré é a realmente
a primeira vilã, vilã mesmo, que
eu faço. São vários tipos de reação. Tem as pessoas que percebem o humor que há na personagem. Ela é engraçada porque as
coisas dão errado pra ela.
Folha - Ela não é louca, certo?
Sorrah - Eu também acho que
ela não é louca. É uma mulher
surtada, carente, descontrolada.
Não é muito normal, tem um descontrole. Eu faço ela absolutamente normal, com humor, assim, do meu jeito. Mas as ações
dela são estranhas.
Folha - A criação da personagem
Nazaré foi toda sua?
Sorrah - Não, ela já veio muito
saborosa no texto do Aguinaldo
[Silva]. Nos primeiro capítulos,
fui fazendo com o Wolf [Maia, diretor-geral da novela], que me
ajudou muito.
Não me baseei em ninguém. A
gente pensava assim: "Meu Deus,
será que é uma loira gelada? Será
que é uma loira gelada do [Alfred]
Hitchcock? Será uma mulher
mais Nelson Rodrigues?". E a gente foi chegando a uma coisa que é
a Nazaré. Que se acha glamourosérrima, o máximo. Adoro quando ela olha para o espelho e fala:
"Gostosa, irresistível".
Folha - Por que a Nazaré é tão despudorada?
Sorrah - Ela era uma prostituta,
mas acho que ela tem isso no sangue, ela gosta. Outro dia eu estava
passando numa praça e as pessoas disseram: "Gosta do babado,
hein, Nazaré?". Fui chamada de
pegadeira e fiquei nervosa.
Folha - Já te ofenderam?
Sorrah - Ah! Não, não, pelo contrário. Elogiam muito.
Folha - Ela vai matar mais gente?
Sorrah - Não sei, porque as coisas não dão muito certo para ela.
Ela vai com as tesouras em cima e
não consegue.
Folha - Você acha que a Nazaré
tem que morrer no final?
Sorrah - Acho que ela vai acabar
morrendo, mas não para pagar
pelos crimes. Porque acho que ela
vai ter uma morte espetacular,
porque viveu em grande estilo,
dramática, hollywoodiana.
No começo eu falava que ela tinha que acabar no Caribe, com
chapelão, olhando uma outra
criança, para armar de novo.
Mas, agora, acho que não, porque realmente ela matou, seqüestrou. Seqüestro é horrível, um crime hediondo. Então, eu acho que
ela tem que pagar, sim.
Folha - O que existe da Nazaré no
Brasil, nos brasileiros?
Sorrah - Nazaré é totalmente ficção. Não penso naquela Vilma,
que seqüestrou o Pedrinho, não
penso um minuto naquele encosto, que não vai me tirar o prazer
de fazer o personagem.
Mas com os brasileiros? Eu não
sei. Acho ela um tipo tão popular.
Ela gosta de se relacionar com homens bem brasileiros, o taxista, o
bicheiro. Acho o povo brasileiro
bárbaro. É um povo sofredor,
sim, mas é um povo tão talentoso,
tão emocionante, que eu não gostaria de compará-lo à Nazaré.
Folha - Qual instituição mereceria
umas tesouradas ou um empurrão
na escada da Nazaré?
Sorrah - Várias. A segurança pública do Rio, onde a gente vive numa guerrilha urbana, é uma.
Folha - O que você acha da televisão brasileira, tem muita baixaria?
Sorrah - Eu não assisto.
Folha - Não assiste?
Sorrah - Não. Coisas de baixaria
eu realmente não assisto. Mas tem
coisas ótimas. Achei linda a minissérie "Hoje É Dia de Maria". A
nossa novela eu acho muito bacana, muito bem feita.
Folha - O que você não gosta?
Sorrah - Tem uns programas da
tarde que eu nunca vi, que dizem
que são horríveis. Da Globo, que
tem a melhor programação, eu
não gosto do "Big Brother".
Folha - Por quê?
Sorrah - Não gosto. Não me interessa aquilo.
Folha - Às vezes você se sente
"carregada" por causa da Nazaré?
Sorrah - Não. Quanto melhor eu
faço, mais contente eu fico. Então,
não, eu não fico carregada, mas o
que me pegou desprevenida, que
me deu uma tristeza, foi a separação dela da Isabel.
Folha - Vocês choraram?
Sorrah - A gente ficou muito
emocionada e eu senti em casa
um vazio. Eu falei: "Não estou
acreditando que isso está acontecendo". Há muito tempo eu não
me envolvia com uma novela como essa.
Folha - Você gostaria de fazer
mais novelas do que tem feito?
Sorrah - Não, está bom, porque
faço teatro, cinema.
Folha - Quantas novelas você já
fez?
Sorrah - Umas 23.
Folha - Você acha que a Heleninha
Roitman ajudou a mulher brasileira
a ficar mais liberada?
Sorrah - A mulher eu não sei,
mas ela ajudou os alcoólatras. Recebia muitas cartas de pessoas
tentando se recuperar.
Folha - Heleninha marcou muito,
virou até adjetivo, não?
Sorrah - Foi. É incrível, até hoje
fazem festas da Heleninha, só para beber. Tem comunidade dela
no Orkut. Acho que ela tinha glamour para beber, era engraçado o
jeito como falava.
Folha - É melhor fazer novela hoje
do que dez, 20, 30 anos atrás?
Sorrah - Não mudou muito. Hoje a produção é mais profissional.
Antes, tudo era menor, caseiro.
Agora, é uma grande indústria.
Folha - A TV melhorou ou piorou
desde então?
Sorrah - Eu acho que melhorou,
porque somou com essas coisas
todas da modernidade.
Folha - É verdade que você não
iria fazer a Nazaré inicialmente?
Sorrah - É, eu soube depois. Tinha-se pensado em outras atrizes,
mas, quando me chamaram, eu
falei: "Oba!".
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