São Paulo, segunda-feira, 05 de dezembro de 2005

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CRÍTICA

Para seus jovens fãs, grupo faz música atual

ÁLVARO PEREIRA JÚNIOR
COLUNISTA DA FOLHA

O Pearl Jam tem repertório, brinca com ele, se dá ao luxo de fazer shows com 24 horas de diferença trocando metade das músicas. O Pearl Jam tem quase 15 anos de estrada, sabe tocar. Eddie Vedder, o vocalista, nasceu com pulmões e cordas vocais de alta potência -chega às notas mais difíceis com os lábios semicerrados, sem fazer força. O Pearl Jam é uma banda completa. Talvez a última banda de rock.
Não havia o menor sinal de nostalgia ou desejos necrófilos sábado no Pacaembu. Inexistia aquele sentimento geral de busca de tempos perdidos, tão comum quando outros grupos "antigos" aterrissam aqui. A platéia era jovem, gente de 20 e poucos anos que, como dizia Bob Dylan, não olha para trás. Para esses jovens, o som do Pearl Jam é som de AGORA.

Festa na Terra
"É como se ela tivesse perdido o convite para a festa na Terra / E ficado do lado de fora odiando todo mundo que entrou." São versos da letra de "Breakerfall", a primeira das 26 canções que o Pearl Jam apresentou no sábado, em São Paulo. E festa na Terra é mesmo uma boa definição para o que se viu e ouviu no Pacaembu (só não dá para dizer se quem ficou de fora acabou odiando os 40 mil que entraram).
A ironia maior é que, no auge do grunge, o Pearl Jam era acusado, por bandas como o Nirvana, de oportunismo, de não ter "street cred", o respeito das ruas. Era um pouco demais para os caipiras de Seattle, vindos de suas famílias despedaçadas e de seus parques de trailers, aturar um grupo que se dizia grunge, mas tinha como vocalista um surfista da ensolarada San Diego, e que fazia um som perigosamente próximo do hard rock.
Hoje, Kurt Cobain morto e o grunge enterrado, nenhuma banda tem mais credibilidade de rua do que o Pearl Jam.

Simples e natural
O Pearl Jam erigiu um universo próprio, fora das rádios e gravadoras, que Vedder e seus parceiros habitam com tranqüilidade. Nesse domínio, há espaço para influências como Beatles, Ramones e Neil Young (os três representados em covers no show de sábado), há tempo para shows de mais de duas horas, existe disposição para o engajamento em causas humanitárias.
Os festivais dos últimos meses trouxeram ao Brasil muito do que de mais novo acontece no pop/rock mundial. Vários artistas claramente talentosos, mas que ainda não estocaram repertório, não sabem se postar no palco nem tocam direito. Conquistam a platéia pelo "hype", não por méritos musicais.
O Pearl Jam é o oposto de tudo isso. Porque seu show é tão simples e envolvente, e a banda toca com tanta naturalidade, que tudo se resume a uma palavra: música.


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