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CRÍTICA
Para seus jovens fãs, grupo faz música atual
ÁLVARO PEREIRA JÚNIOR
COLUNISTA DA FOLHA
O Pearl Jam tem repertório, brinca com ele, se dá
ao luxo de fazer shows com 24
horas de diferença trocando
metade das músicas. O Pearl
Jam tem quase 15 anos de estrada, sabe tocar. Eddie Vedder, o
vocalista, nasceu com pulmões
e cordas vocais de alta potência
-chega às notas mais difíceis
com os lábios semicerrados,
sem fazer força. O Pearl Jam é
uma banda completa. Talvez a
última banda de rock.
Não havia o menor sinal de
nostalgia ou desejos necrófilos
sábado no Pacaembu. Inexistia
aquele sentimento geral de
busca de tempos perdidos, tão
comum quando outros grupos
"antigos" aterrissam aqui. A
platéia era jovem, gente de 20 e
poucos anos que, como dizia
Bob Dylan, não olha para trás.
Para esses jovens, o som do
Pearl Jam é som de AGORA.
Festa na Terra
"É como se ela tivesse perdido o convite para a festa na Terra / E ficado do lado de fora
odiando todo mundo que entrou." São versos da letra de
"Breakerfall", a primeira das 26
canções que o Pearl Jam apresentou no sábado, em São Paulo. E festa na Terra é mesmo
uma boa definição para o que
se viu e ouviu no Pacaembu (só
não dá para dizer se quem ficou
de fora acabou odiando os 40
mil que entraram).
A ironia maior é que, no auge
do grunge, o Pearl Jam era acusado, por bandas como o Nirvana, de oportunismo, de não
ter "street cred", o respeito das
ruas. Era um pouco demais para os caipiras de Seattle, vindos
de suas famílias despedaçadas
e de seus parques de trailers,
aturar um grupo que se dizia
grunge, mas tinha como vocalista um surfista da ensolarada
San Diego, e que fazia um som
perigosamente próximo do
hard rock.
Hoje, Kurt Cobain morto e o
grunge enterrado, nenhuma
banda tem mais credibilidade
de rua do que o Pearl Jam.
Simples e natural
O Pearl Jam erigiu um universo próprio, fora das rádios e
gravadoras, que Vedder e seus
parceiros habitam com tranqüilidade. Nesse domínio, há
espaço para influências como
Beatles, Ramones e Neil Young
(os três representados em covers no show de sábado), há
tempo para shows de mais de
duas horas, existe disposição
para o engajamento em causas
humanitárias.
Os festivais dos últimos meses trouxeram ao Brasil muito
do que de mais novo acontece
no pop/rock mundial. Vários
artistas claramente talentosos,
mas que ainda não estocaram
repertório, não sabem se postar
no palco nem tocam direito.
Conquistam a platéia pelo
"hype", não por méritos musicais.
O Pearl Jam é o oposto de tudo isso. Porque seu show é tão
simples e envolvente, e a banda
toca com tanta naturalidade,
que tudo se resume a uma palavra: música.
Avaliação:
![](https://cdn.statically.io/img/www1.folha.uol.com.br/fsp/images/ep.gif)
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