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Wolfe vê imigrantes de Miami
"Back to Blood", próximo livro do escritor, é resultado de visitas que incluem clube de strippers russas
Em entrevista na Feira do Livro de Buenos Aires, um dos criadores do novo jornalismo diz que gostaria de "votar em Bush de novo"
ADRIANA KÜCHLER
DE BUENOS AIRES
Sentado numa espécie de
trono branco que combina com
um de seus 36 ternos da mesma
cor, o escritor norte-americano
Tom Wolfe parece estar em casa no glamouroso hotel Faena,
em Buenos Aires, onde se hospeda em uma das suítes mais
luxuosas. Tão em casa como se
sente em um clube de strippers
russas em Miami esse senhor
de 78 anos.
"A reportagem é mesmo uma
atividade apaixonante. De que
outra maneira eu conheceria
esse desfile de strippers russas
que usam codinomes como Natascha?", conta um dos criadores do novo jornalismo, após
agradecer a distinção da cadeira-trono, em entrevista coletiva na capital argentina, onde é a
atração principal da Feira do
Livro de Buenos Aires.
A aventura vivida por Wolfe
faz parte do material de pesquisa que está reunindo para seu
novo livro de ficção, "Back to
Blood" (de volta ao sangue), sobre o fenômeno da imigração
em Miami, que deve ser lançado em 2009. O sangue do título,
explica, se refere à linhagem.
"Miami é a única cidade do
mundo composta, na maioria,
por imigrantes recentes, dos últimos 50 anos. Pessoas com
idiomas e culturas diferentes,
como os cubanos, que hoje governam a cidade", afirmou o
autor dos best-sellers "A Fogueira das Vaidades", "Os Eleitos" e "Radical Chique".
Apesar de escrever uma ficção, Wolfe não dispensa o trabalho de repórter e foi seis vezes à cidade para descobrir
strippers russas e afins.
"Queria poder votar novamente em Bush", afirma o autor diante da pergunta da Folha sobre quem seria o seu escolhido nas próximas eleições
americanas. Apesar disso, diz
que "foi um erro" declarar seu
voto no atual presidente George W. Bush.
"Quando entrava nos restaurantes, outros jornalistas me
olhavam como se eu tivesse levantado a mão e dito "sou um
abusador de menores"."
Entre os atuais candidatos, o
escritor não se alinha com nenhum, e diz que a política americana é muito chata.
"Quando Richard Nixon renunciou [em 1974], nenhum
bêbado republicano foi às ruas
quebrar um vidro. Ficaram assistindo pela TV", relata Wolfe.
"A única vez em que me diverti
cobrindo política foi em Cuba,
em 1960, quando as pessoas andavam pelas ruas com as veias
do pescoço inchadas."
Defensor do romance de
não-ficção, Wolfe afirma que só
há um tipo de literatura viva: "a
que é como a minha". Os romances, diz o autor, foram colocados no alto de uma montanha. "É mais fácil elogiá-los do
que chegar a eles."
Uma das coisas que mais causa graça hoje em Wolfe são os
blogs, que se baseiam em rumores, fazem graves acusações
a funcionários, "de escravidão
branca ou perversão", e cometem erros enormes. "Depois a
pessoa apaga aquilo, troca de
blog e ninguém a processa."
O autor se preocupa com o
fato de que os jovens de hoje
preferem se informar por blogs
do que pela imprensa. "O problema é saber quem põe aquela
informação ali."
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