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CINEMA/ESTRÉIAS
"REPULSA AO SEXO"
Polanski cria metáfora da fragmentação urbana
ALVARO MACHADO
ESPECIAL PARA A FOLHA
Ainda horripilante aos 35
anos de idade, "Repulsa ao
Sexo" é relançado em São Paulo
em cópia nova. O filme pertence
ao "primeiro Polanski". Até o premiado "Tess", de 1979, o cineasta
era um criador original, com domínio magistral do "thriller".
"Enfant terrible" à esquerda de
Alfred Hitchcock (por seu "Bebê
de Rosemary", de 1968, e por este
"Repulsion"), assinou também o
"noir" "Chinatown" (1974).
A partir de "Piratas" (1985), o cineasta se tornaria um simulacro
de si mesmo, como se estivesse
em uma das tramas bizarras que
inventou com seu "cúmplice", o
roteirista francês Gérard Brach.
"Repulsa ao Sexo", apenas o segundo longa-metragem de Polanski, confirmava um olho infernal para detalhes cenográficos em
enquadramentos eloquentes, intimidade mefistofélica com a personalidade dos atores (aqui sua
Margarida fáustica é Catherine
Deneuve em botão, aos 21) e uma
narrativa de tal forma limpa que,
a rigor, o filme poderia prescindir
de diálogos -pena, porém, se
não existisse a preciosa trilha sonora jazzy de Chico Hamilton.
Nessa primeira fase, Roman Polanski alimentou fixação pelas
(des)proporções de significação
que apartamentos em selvas de
concreto podem assumir no comportamento de cada um de seus
habitantes.
Construiu uma "trilogia do
apartamento macabro" com "Repulsa ao Sexo", "O Bebê de Rosemary" e "O Inquilino" (1976), focalizando respectivamente Londres, Nova York e Paris.
Mais plausível que a existência
de fantasmas com sobrenome e
endereço é a idéia de que paisagens, cidades e moradias projetam em nossa mente sua "personalidade". Como a normalidade
interessa pouco ao cinema, é a face negativa desse fenômeno que o
cineasta resolveu abordar.
Em "Repulsa", a psique de Carol, manicure belga solitária em
Londres, se desintegra sob nossos
olhos. Trama absorvente, inspirada no comportamento de pessoa
das relações de Polanski, mas
também metáfora para um fenômeno social de fragmentação de
proporções vastíssimas, que apenas começava a se delinear.
Carol/Deneuve é boneca frágil
de carne, sem qualquer aptidão
para as chantagens e hipotecas
emocionais e sexuais adotadas
como norma de conduta.
Incapaz de capitalizar qualquer
relacionamento, a esquizofrênica
se deixa vampirizar pelo íncubo
que se esconde nas paredes de seu
apartamento. De resto, um destino partilhado por milhares de zé-ninguéns urbanos em seus compartimentos de concreto.
Polanski toma emprestadas as
poéticas mãos de pedra de "A Bela e a Fera", de Cocteau, e, num
pesadelo de closes paranóicos,
forja uma autêntica referência para o cinema de horror psicológico.
Repulsa ao Sexo
Repulsion
Direção: Roman Polanski
Produção: Inglaterra, 1965
Com: Catherine Deneuve, Ian Hendry
Quando: a partir de hoje no Top Cine 1
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