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CINEMA/ESTRÉIA
"O EXORCISTA - VERSÃO DO DIRETOR"
Ele voltou para reafirmar seu terror atemporal
LÚCIO RIBEIRO
DA REPORTAGEM LOCAL
Ele voltou. No caso, eles
voltaram. O filme e "aquela
coisa", a maior encarnação do
mal da história do cinema. Estréia
hoje a versão "nunca vista" e remodelada de "O Exorcista", clássico dos anos 70 dito o mais aterrorizante filme da história.
A produção, dirigida por William Friedkin em 1973, reapareceu no ano passado nos EUA e na
Europa, 11 minutos mais longa e
com o selo "versão do diretor".
Mais: além de "nunca vista", a
versão é "nunca ouvida": praticamente todo o áudio mono ganhou sofisticação digital.
A questão é: "O Exorcista" sobrevive em um cinema que já viu
sustos de todos os tipos? Sim.
Hoje universal, "O Exorcista" é
uma versão do livro de William
Peter Blatty (1971), sobre suposto
caso real de exorcismo de um garoto de 14 anos em Washington.
Virou best seller e vendeu 13 milhões de cópias apenas nos EUA.
Dois anos depois, seria a maior bilheteria em um fim-de-semana de
estréia na história e se colocaria
depois como a segunda maior arrecadação de todos os tempos, só
atrás de "O Poderoso Chefão".
Teve dez indicações e levou dois
Oscar, roteiro adaptado e som.
No Brasil, ainda está entre os dez
filmes estrangeiros mais vistos.
O que fez dele fenômeno foi dar
um padrão novo, pesado e explícito ao terror psicológico, sem
monstros, histórias fantásticas.
O filme colocou uma inocente
menina de classe média da capital
dos EUA, sofrendo uma possessão demoníaca com aval científico, num roteiro apoiado em clímax e com antológicos efeitos que
seriam imitados até hoje, como o
vômito verde feito de sopa de pêra
e a cabeça girando 180 graus.
Essa menina é a lendária Linda
Blair, que nunca mais conseguiu
fazer nada de vulto: é sempre "a
menina de "O Exorcista'".
A mesma "maldição" sofreu o
diretor. Nome de ponta da excelente leva de novos cineastas surgidos nos 70 (Francis Ford Coppola e Martin Scorsese), Friedkin
ganhou o Oscar de diretor com
"Operação França" (1971), fez história com "O Exorcista", dois
anos depois, e... O diretor assinou
várias produções, mas só conseguiu sucesso (bem) relativo com
"Viver e Morrer em Los Angeles"
(1985) e "Regras do Jogo" (2000).
Voltando à história, Linda Blair
é Regan, normal garota de 12 anos
que de uma hora para outra começa a se sentir esquisita. Das primeiras e inofensivas consultas
médicas ("É da idade") até a famosa masturbação com um crucifixo, a possuída desafia dois padres psicólogos (Max von Sydow
e Jason Miller), cujas doutrinas de
exorcismo entram em conflito.
"O Exorcista" resiste ao tempo
porque não é baseado só em seus
espetaculares (para a época) efeitos especiais. O elixir de longa vida do filme está no fato de o sobrenatural invadir vidas normais.
Primeiro a da mãe, que está
mais preocupada com sua carreira de atriz e em arrumar um novo
casamento. Depois a de um padre
psicólogo que anda com problemas de fé e com a mãe doente. E
por último o "herói" do filme, um
padre arqueólogo cansado, lutando apenas por sua saúde.
Esse terror não é datado. Consta
que, no ano passado, o papa João
Paulo 2� rezou preces para livrar
do mal uma moça de 19 anos, em
plena praça São Pedro, em Roma,
que estaria se debatendo incontrolavelmente e gritando palavrões em voz gutural.
Mexe ainda com o medo da perda de identidade. Pior, da identidade tomada, pavor que atravessa
não só os limites religiosos, mas
também o social e cultural.
E, quanto mais perto do final,
mais cresce a perturbação de não
saber o que acontece pouco antes
dos créditos. Final feliz é que não.
Mesmo com todos seus méritos,
talvez "O Exorcista" não precisasse das "cenas adicionais" (veja
quais são no quadro ao lado).
Com exceção de uma, a tenebrosa e bizarra cena de Regan
descendo as escadas da casa parecendo uma aranha, com o corpo
curvado, barriga para cima, andando com os pés e as mãos e cuspindo sangue. A cena foi retirada,
depois apareceu no vídeo e agora
foi restaurada e alongada.
Parece que no original seria
mais assustadora. Enquanto na
versão 2000 Regan desce as escadas e logo retorna ao quarto, a cena inteira a mostraria perseguindo a mãe e sua ajudante pela sala.
Nem Sam Raimi faria melhor.
O Exorcista - Versão do Diretor
The Exorcist - Director's Cut
Direção: William Friedkin
Produção: EUA, 1973
Com: Ellen Burstyn, Max von Sydow, Lee
J. Cobb, Kitty Winn
Quando: a partir de hoje nos cines
Central Plaza, Paulista e circuito
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