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Em "Jesus", conflito gira em torno de Maria
Filme teve estréia no Vaticano, mas atriz de 16 anos que está grávida não foi
Lançamento mundial de fim de ano conta a trajetória de Maria e José entre a descoberta da gravidez e o nascimento de Cristo
TETÉ RIBEIRO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM WASHINGTON
Tudo estava programado para que o filme chegasse aos cinemas do mundo todo hoje
sem nenhum atrito. A pré-estréia mundial aconteceu no último domingo, no Vaticano,
com a presença de 7.000 fiéis e
as maiores autoridades da Igreja Católica, menos o papa Bento 16, que não foi à sessão aberta do filme, mas provavelmente
já tinha dado o seu ok sagrado.
Um desconforto, no entanto,
acompanha toda essa operação:
há dois meses, noticiou-se que
a atriz Keisha Castle-Hughes,
indicada ao Oscar pelo seu primeiro filme, "A Encantadora de
Baleias", em 2003, estava grávida aos 16 anos. É ela a intérprete de Maria no filme.
Curiosamente, seu nome não
estava na lista das celebridades
confirmadas para a pré-estréia
no Vaticano. "Ela não poderá ir
porque tem conflito de agenda,
já está em outro filme, e, por
causa da gravidez, precisa fazer
suas cenas antes que a barriga
fique muito evidente", contou a
diretora Catherine Hardwicke,
pelo telefone, à Folha, antes da
sessão no Vaticano.
Ela tem 51 anos, cara de surfista e fala como uma adolescente que não tem certeza absoluta do que diz. Parece ter
mais a ver com as personagens
de seus dois primeiros filmes,
"Aos Treze" e "Os Reis de Dogtown", do que com tipos religiosos. Mas Catherine Hardwicke diz que há muitas semelhanças entre a história do nascimento de Cristo e os personagens de seus longas anteriores. "Maria tinha apenas 13 ou
14 anos quando ficou grávida.
Comecei a pensar o que aconteceria com Nikki (Reed, autora do roteiro de "Aos Treze")
ou Evan (Rachel Woods, protagonista do mesmo filme) se
elas fossem obrigadas a se casar
com um homem que mal conheciam e carregar o filho de
Deus", contou a diretora.
Sobre a gravidez de sua protagonista, disse que se surpreendeu com a notícia mas
que entendeu a escolha da
atriz. "Keisha sofreu muito
pensando no que iriam dizer
sobre ela, mas decidiu levar a
gravidez adiante. Sua mãe também acabou de ter um bebê, e
as duas vão criar seus filhos
juntas". Questionada se acredita que foi inspirada pela história de Maria que a atriz decidiu
ter o filho, Catherine nega: "Ela
tem um namorado firme há
dois anos, acho que ele tem
mais a ver com isso do que o
seu trabalho no filme".
"Jesus - A História do Nascimento" é baseado nos livros de
Mateus e Lucas, da Bíblia. Com
algumas "liberdades": "O que é
uma frase na Bíblia virou uma
cena no filme, e com isso acredito que o papel de José tenha
ficado maior", diz a diretora,
que também optou por contrariar a crença popular de que o
parto de Maria teria acontecido sem dores. "Não tem nada
disso na Bíblia. Acho que é o
que as pessoas gostariam de
acreditar", completa ela.
Sem polêmica
Catherine não acredita que
seu filme provocará o mesmo
tipo de polêmica que o blockbuster "A Paixão de Cristo", de
Mel Gibson, provocou em
2004. Mas ela elogia o colega e
usou em seu filme algumas das
mesmas locações e o mesmo figurinista, o italiano Maurizio
Millenotti. "Maurizio é um dos
melhores figurinistas em atividade, e, sobre as locações, o diretor [Píer Paolo] Pasolini também as usou em 1964 em "O
Evangelho Segundo Mateus".
Jerusalém, Belém e Nazaré estão muito modernizadas hoje
em dia", defende-se.
Catherine nasceu em McAllen, no Texas, em 1955, perto
da fronteira com o México.
Seus pais são presbiterianos e
ela passou a infância e a adolescência indo à Igreja todos os
domingos. "Por causa da influência dos mexicanos na minha cidade, conheci e comecei
cedo a fazer presépios no Natal", contou ela, que, não por
acaso, começou a trabalhar no
cinema como produtora de arte, em 1986, e só estreou como
diretora em 2003.
Para garantir a autenticidade
da história, o time de Catherine
recriou Nazaré na cidade de
Matera, no sul da Itália, e preparou os figurinos um mês antes do começo das filmagens.
Nesse tempo, seu elenco morou na cidadezinha e os atores
passaram os dias com as roupas
do filme para que soubessem
"andar pelas pedras com aquelas sandálias de couro, sentissem o cheiro das oliveiras e o
peso das roupas".
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