São Paulo, Segunda-feira, 20 de Dezembro de 1999


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Jovovich d'Arc é um arraso

PAULO SANTOS LIMA
especial para a Folha

Cabelos tratados a luzes e banhos de creme, cortados geometricamente, emoldurando um belíssimo rosto de modelo. Dá para acreditar que a moça da foto acima seja Joana d'Arc, a camponesa que mobilizou os franceses contra o domínio inglês, no século 15?
No cinema de Luc Besson, sim. Como em "O Quinto Elemento" (97), a estética cumpre um papel importante, e não seria diferente neste "Joana d'Arc" de Luc Besson (99), superprodução que criou polêmica em solo francês e que estreou no Brasil na sexta.
O diretor convidou a estonteante Milla Jovovich -que já havia trabalhado na ficção científica de 97- para encarnar a mulher que foi queimada em praça pública, após ter sido traída pelos compatriotas, capturada pelo inimigo e condenada por heresia. Tudo isso após ter levantado o moral do povo francês e, dentro de uma armadura, expulsado boa parte dos invasores ingleses, em 1431.
Há o visual anos 90 e Jovovich mais como um belo rosto (e corpo) do que como boa atriz, mas, em meio à empetecação típica do cinema de Besson, há muitas qualidades, como as presenças de Dustin Hoffman, John Malkovich e Faye Dunaway, montagem frenética, ação devastadora e cabeças decepadas como não se via desde "Conan, o Bárbaro".
Besson não foi nada ingênuo e soube -corajosamente- pôr em xeque a santidade de D'Arc.
As impressionantes cenas de batalha -o melhor deste filme- mostram uma Joana d'Arc patética, insegura e impulsiva. Sua arrogância e egocentrismo dão forças para ela aguentar flechadas e pancadas, mas mostram seu distanciamento com a realidade.
Suas tão sacralizadas visões tornam-se um delírio nas mãos de Besson, em que um Cristo abatido dança estranhamente com ela, quase uma alucinação.
Enfim, mostrar uma top model varada por flechas, amalucada e detonando o símbolo de um país é motivo para visitar o cinema.


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