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Os melhores álbuns do século
ÁLVARO PEREIRA JÚNIOR
Colunista da Folha
Não dá para fugir dessa: na última ""Escuta Aqui" antes do ano
2000 (a semana que vem tem Folhateen especial), é hora de avaliar o século que termina daqui a
um ano.
Na coluna de hoje, a lista dos
dez melhores álbuns de todos os
tempos, na modesta opinião deste signatário.
De antemão, aviso que os critérios são pessoais e idiossincráticos. Procurei escolher discos inovadores e, principalmente, que
exerceram influência nos anos
seguintes. As primeiras experiências psicodélicas, a intersecção
com ritmos negros, a gênese do
barulho, o rock em estado bruto:
tudo isso faz parte da lista.
Elvis Presley ficou de fora, porque seu forte sempre foram os
compactos, não os LPs.
Alerto também que um critério
decisivo acabou sendo minha
própria ignorância. Excluí músicos importantes, mas cujo trabalho nunca acompanhei com a devida atenção. São exemplos David Bowie, Bob Dylan e Marvin
Gaye.
Mas chega de desculpas e vamos à relação.
1) "London Calling", The
Clash. Lançado no fim de 1979 na
Inglaterra e em 1980 nos EUA, esse disco duplo marca a entrada
do punk na idade adulta. Ao contrário dos debochados Sex Pistols, seus contemporâneos, o
Clash tinha atitudade política e
via na música um modo de sabotar o status quo (é verdade que
biografias recentes têm contestado essa visão, mas foi o que passou para a história). Até um reggae chinfrim de Eddie Grant,
""Police on My Back", soa como
puro rock em "London Calling".
A faixa título é a descrição apocalíptica de uma Londres arrasada
pelo furacão punk.
2) "Revolver", The Beatles. Em
1966, os Beatles embarcavam na
psicodelia e atingiam um nível de
sucesso que levou John Lennon,
nesse mesmo ano, a declarar que
eram mais famosos que Jesus
Cristo. "Revolver" é um disco de
transição. A suavidade de "Here,
There and Everywhere" aparece
lado a lado com a loucura de "Tomorrow Never Knows" e "She
Said She Said".
3) "The Stooges", The Stooges.
É quase inacreditável que essa
bomba lançada em 1969 por Iggy
Pop e capangas ainda possa soar
tão incisiva e urgente. Em pleno
verão do amor, "No Fun" e
"1969" falavam de tédio e revolta,
na contramão do "paz e amor, bicho", que vigorava na época dominada pelos hippies. Os punks
iriam fazer igualzinho, quase dez
anos depois.
4) "Pet Sounds", The Beach
Boys. Minha geração cresceu assistindo "Sessão da Tarde", onde
a Califórnia era um lugar ensolarado onde todo mundo só pensava em namorar e se divertir. Mas
"Pet Sounds", de 1966, mostra
uma outra Califórnia, aquela dos
psicóticos que não saem de casa e
têm medo até do sol. É a Califórnia de Brian Wilson, o perturbado Beach Boy. Se o rock alguma
vez pôde ser chamado de arte, foi
em "Pet Sounds".
5) "Never Mind the Bollocks",
Sex Pistols. Foi aqui que o punk
começou. Cheio da grandiosidade do rock progressivo e de dinossauros como o Led Zeppelin,
um bando de moleques ingleses
lembrou-se, em 1977, que o rock
era simples e qualquer um poderia fazer. Se até hoje você assobia
"God Save the Queen", agradeça
aos Sex Pistols.
6) "Velvet Underground and
Nico", Velvet Underground. Popularmente conhecido como "o
disco da banana", de 1967, "Velvet Underground and Nico" foi
pioneiro ao incorporar elementos da cena artística de Nova
York à podreira do rock and roll.
Traz clássicos minimalistas, como "All Tomorrow's Parties".
Lembre-se: o Velvet Underground inventou o rock cabeça.
7) "Their Satanic Majesties Request", Rolling Stones. Durante
muito tempo, esse álbum de 1967
foi visto como uma tentativa patética de os Rolling Stones correrem atrás da onda psicodélica
lançada pelos Beatles. Os próprios Stones não se lembram de
tê-lo gravado! Mas a gente não
esquece de "2000 Light Years
From Home", nem de "She's a
Rainbow", provas definitivas da
influência das drogas no rock.
8) "Closer", Joy Division. Lançado em 1980, o mesmo ano em
que o líder e vocalista Ian Curtis
se enforcou. Os ingleses do Joy
Division incorporaram à batida
seca do punk uma carga inédita
de melancolia. "Closer" é o segundo disco da banda. São apenas nove faixas, entre elas "Colony", "Isolation" e "Decades".
Teclados glaciais dão o clima
para letras sobre claustrofobia e
desespero.
9) "Psychocandy", The Jesus
and Mary Chain. Ruídos, reverberação e microfonia como
uma forma de arte. Esse é um
dos discos mais influentes de todos os tempos, reponsável por
um número incontável de bandas de guitarra desde que foi
lançado, em 1985. Até hoje, ninguém superou os irmãos escoceses William e Jim Reid na capacidade tranformar rock em
caos elétrico.
10) "The Queen is Dead", The
Smiths. Esse LP de 1986 já foi
eleito pelos leitores da revista
"Spin" como o melhor de todos
os tempos, um evidente exagero. Mas não é exagero dizer que
foram os Smiths que definiram
todo um estado de espírito nos
anos 80, de jovens que contemplavam a terra arrasada pelo
punk, uma década antes, mas
não sabiam para onde ir. A melhor faixa é "I Know It's Over".
Álvaro Pereira Júnior, 36, é jornalista e
mora em San Francisco. E-mail:cby2k@uol.com.br
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