São Paulo, Segunda-feira, 20 de Dezembro de 1999


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Os melhores álbuns do século


ÁLVARO PEREIRA JÚNIOR
Colunista da Folha

Não dá para fugir dessa: na última ""Escuta Aqui" antes do ano 2000 (a semana que vem tem Folhateen especial), é hora de avaliar o século que termina daqui a um ano.
Na coluna de hoje, a lista dos dez melhores álbuns de todos os tempos, na modesta opinião deste signatário.
De antemão, aviso que os critérios são pessoais e idiossincráticos. Procurei escolher discos inovadores e, principalmente, que exerceram influência nos anos seguintes. As primeiras experiências psicodélicas, a intersecção com ritmos negros, a gênese do barulho, o rock em estado bruto: tudo isso faz parte da lista.
Elvis Presley ficou de fora, porque seu forte sempre foram os compactos, não os LPs.
Alerto também que um critério decisivo acabou sendo minha própria ignorância. Excluí músicos importantes, mas cujo trabalho nunca acompanhei com a devida atenção. São exemplos David Bowie, Bob Dylan e Marvin Gaye.
Mas chega de desculpas e vamos à relação.
1) "London Calling", The Clash. Lançado no fim de 1979 na Inglaterra e em 1980 nos EUA, esse disco duplo marca a entrada do punk na idade adulta. Ao contrário dos debochados Sex Pistols, seus contemporâneos, o Clash tinha atitudade política e via na música um modo de sabotar o status quo (é verdade que biografias recentes têm contestado essa visão, mas foi o que passou para a história). Até um reggae chinfrim de Eddie Grant, ""Police on My Back", soa como puro rock em "London Calling". A faixa título é a descrição apocalíptica de uma Londres arrasada pelo furacão punk.
2) "Revolver", The Beatles. Em 1966, os Beatles embarcavam na psicodelia e atingiam um nível de sucesso que levou John Lennon, nesse mesmo ano, a declarar que eram mais famosos que Jesus Cristo. "Revolver" é um disco de transição. A suavidade de "Here, There and Everywhere" aparece lado a lado com a loucura de "Tomorrow Never Knows" e "She Said She Said".
3) "The Stooges", The Stooges. É quase inacreditável que essa bomba lançada em 1969 por Iggy Pop e capangas ainda possa soar tão incisiva e urgente. Em pleno verão do amor, "No Fun" e "1969" falavam de tédio e revolta, na contramão do "paz e amor, bicho", que vigorava na época dominada pelos hippies. Os punks iriam fazer igualzinho, quase dez anos depois.
4) "Pet Sounds", The Beach Boys. Minha geração cresceu assistindo "Sessão da Tarde", onde a Califórnia era um lugar ensolarado onde todo mundo só pensava em namorar e se divertir. Mas "Pet Sounds", de 1966, mostra uma outra Califórnia, aquela dos psicóticos que não saem de casa e têm medo até do sol. É a Califórnia de Brian Wilson, o perturbado Beach Boy. Se o rock alguma vez pôde ser chamado de arte, foi em "Pet Sounds".
5) "Never Mind the Bollocks", Sex Pistols. Foi aqui que o punk começou. Cheio da grandiosidade do rock progressivo e de dinossauros como o Led Zeppelin, um bando de moleques ingleses lembrou-se, em 1977, que o rock era simples e qualquer um poderia fazer. Se até hoje você assobia "God Save the Queen", agradeça aos Sex Pistols.
6) "Velvet Underground and Nico", Velvet Underground. Popularmente conhecido como "o disco da banana", de 1967, "Velvet Underground and Nico" foi pioneiro ao incorporar elementos da cena artística de Nova York à podreira do rock and roll. Traz clássicos minimalistas, como "All Tomorrow's Parties". Lembre-se: o Velvet Underground inventou o rock cabeça.
7) "Their Satanic Majesties Request", Rolling Stones. Durante muito tempo, esse álbum de 1967 foi visto como uma tentativa patética de os Rolling Stones correrem atrás da onda psicodélica lançada pelos Beatles. Os próprios Stones não se lembram de tê-lo gravado! Mas a gente não esquece de "2000 Light Years From Home", nem de "She's a Rainbow", provas definitivas da influência das drogas no rock.
8) "Closer", Joy Division. Lançado em 1980, o mesmo ano em que o líder e vocalista Ian Curtis se enforcou. Os ingleses do Joy Division incorporaram à batida seca do punk uma carga inédita de melancolia. "Closer" é o segundo disco da banda. São apenas nove faixas, entre elas "Colony", "Isolation" e "Decades". Teclados glaciais dão o clima para letras sobre claustrofobia e desespero.
9) "Psychocandy", The Jesus and Mary Chain. Ruídos, reverberação e microfonia como uma forma de arte. Esse é um dos discos mais influentes de todos os tempos, reponsável por um número incontável de bandas de guitarra desde que foi lançado, em 1985. Até hoje, ninguém superou os irmãos escoceses William e Jim Reid na capacidade tranformar rock em caos elétrico.
10) "The Queen is Dead", The Smiths. Esse LP de 1986 já foi eleito pelos leitores da revista "Spin" como o melhor de todos os tempos, um evidente exagero. Mas não é exagero dizer que foram os Smiths que definiram todo um estado de espírito nos anos 80, de jovens que contemplavam a terra arrasada pelo punk, uma década antes, mas não sabiam para onde ir. A melhor faixa é "I Know It's Over".


Álvaro Pereira Júnior, 36, é jornalista e mora em San Francisco. E-mail:cby2k@uol.com.br


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