São Paulo, segunda-feira, 16 de dezembro de 2002

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escuta aqui

Um ano que vai deixar boas lembranças na música

J. Michelle Martin/Divulgação
O trio americano Flamming Lips


ÁLVARO PEREIRA JÚNIOR
COLUNISTA DA FOLHA

Vem dobrando a última esquina o ano de 2002, e "Escuta Aqui" faz seu balanço do que de mais bacana ouviu. Vamos nessa!

"Fire on the Moon", The BellRays
Nenhuma dúvida: o lançamento mais repleto de som e fúria que chegou aos ouvidos de "Escuta Aqui" nos últimos 365 dias. Os BellRays, da área de Los Angeles, autodefinem-se como "maximum rock & soul". Seu som pulveriza qualquer barreira que ainda possa existir entre o rock e seus pais negros, o soul e o funk. Nada menos que George Clinton e MC5 em uma hibridização improvável. Quatro faixas, disco do ano. E ponto.
"Yoshimi Battles the Pink Robots", The Flaming Lips
Opostos aos BellRays no espectro sonoro, os Flaming Lips lançaram essa obra-prima, uma tapeçaria extensa, composta por pequenos pontos que só fazem sentido se examinados em conjunto. Em cada canto perdido dessas canções melancólicas, mas repletas de esperança, uma ousadia delicada nos espera. O álbum fala de robôs sanguinários, mas trata também da morte fora de hora e de como lidar com ela.
"Songs for the Deaf'", Queens of the Stone Age
A estética do hard rock ressuscitada a partir do nada absoluto e levada a extremos nunca antes visitados pela música pop. Um álbum adulto, que, espera-se, sepultou de vez o chamado nu-metal, espécie de doença infantil do som pesado, que decolou em 1998/99 e começou a definhar em 2002.
"Nada Como um Dia Após o Outro Dia", Racionais MC's
Álbum duplo, claudicante, com produção menos esmerada do que se podia pensar, em vista do longo tempo que os Racionais demoraram preparando o disco. Ainda assim, uma voz única na MPB, inconformada, dona de um poder absoluto de síntese e de assimilação da linguagem das ruas.
"One by One", Foo Fighters
Rock melódico, de vocação estradeira, comandado por um homem, Dave Grohl, que conhece seu lugar na história do rock. Tantas bandas novas, cheias de atitude, lançam manifestos, teorias, mas são incapazes de compor uma melodia que se guarde na cabeça e no coração. Não é o caso, felizmente, dos Foo Fighters.
"Kelly Key", Kelly Key
Pop brasileiro bem produzido, com letras simples mas não idiotas, conduzidas pela voz de veludo da pequena Kelly Key. Dona de imenso carisma, Kelly se livrou, com classe, do estigma de clone de Britney Spears.
"Everyone Who Pretended to Like me is Gone", The Walkmen
Os Walkmen são como os Flaming Lips, mas com 15 anos a menos. Seu terreno é o do rock de arte, esculpido com segurança de esteta. Está nesse disco a melhor canção do ano, na opinião de "Escuta Aqui": "Revenge Wears No Wristwatch".
Engodo do ano: The Vines
Quase todo mundo se prostrava aos pés desse clone australiano do Nirvana, mas "Escuta Aqui", solitária no deserto, alertava: um primeiro álbum de mão tão pesada na produção não poderia ser bom sinal. Pois bem: em sua última edição, a revista "Spin" tocou músicas de sucesso em 2002 para o julgamento de Dave Grohl (ex-Nirvana, atual Foo Fighters) e Taylor Hawkins (também dos FF). Entre elas, "Get Free", dos Vines.
Hawkins: "Esses caras são uns bostas. Essa música é chata para cacete."
Grohl: "Até a música da Avril Lavgne é mais instigante do que isso aí."
Hawkins: "É tipo... Vá lá e compre sua angústia no supermercado."

Está falado. Feliz 2004, porque 2003 vai ser punk. Até.


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