São Paulo, segunda-feira, 16 de dezembro de 2002

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CINEMA

Cópia restaurada da comédia "O Grande Ditador" estréia dia 25

Rir para não chorar

CÁSSIO STARLING CARLOS
EDITOR DO FOLHATEEN

Se você costuma achar que a palavra "clássico" é daquelas que esconde um monte de poeira, vai levar um bom susto na próxima quarta-feira.
No dia, 25, chegam às telas de São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília uma cópia restaurada de um clássico que retorna novinho em folha e sem cheiro de mofo.
Trata-se de "O Grande Ditador" filme dirigido e protagonizado por Charles Chaplin (1889-1977) em 1940. O lançamento coincide com os 25 anos de sua morte, em 1977.
Criador do personagem Carlitos (aquele que usa um chapéu engraçado, um bigodinho e vive se metendo em encrencas), Chaplin foi também um gênio do cinema mudo.
Enquanto não existia o som (só inventado em 1927), os atores usavam aquele gestual mais exagerado (tanto nos dramas como nas comédias). Assim, alguns deles criaram um gestual próprio e representavam com bastante ênfase no próprio corpo (as chamadas gags, ações físicas capazes de provocar o riso no espectador). Carlitos é um personagem típico dessa fase do cinema, fácil de identificar com seu jeito desengonçado, suas roupas desajustadas, a bengala girando e o rosto ingênuo.
Depois, com a chegada do som, Chaplin encarnou outros personagens, mas conservou aquela espécie de desajeito em relação ao mundo. É o que acontece em "O Grande Ditador".
Feito no auge da Segunda Guerra Mundial, antes da entrada dos Estados Unidos no conflito, o filme é uma deliciosa comédia que faz uma gozação sem fim com o ditador alemão Adolf Hitler (na época, vivo, no poder e feroz em sua política de exterminação dos judeus).
Cansado de ouvir comparações de sua imagem no cinema com a de Hitler (o famoso bigodinho, que diziam que o nazista havia copiado dele), Chaplin resolveu levar a coincidência até o fim.
Aqui, ele interpreta ao mesmo tempo o ditador Adenoid Hinkel e um barbeiro judeu, que desperta de uma amnésia e descobre que agora é mais uma das vítimas da perseguição promovida por Hinkel.
A história bem conhecida do nazismo se transforma numa grande piada, o que pode parecer estranho para quem sabe como foi terrível essa época para a Alemanha e para o mundo. Só que Chaplin não é nenhum bobo. Ele usou o cinema como arma para ridicularizar um líder político que, àquela altura, ainda recebia certa simpatia em alguns setores (nos EUA, inclusive).
Então, o Hitler/Chaplin é um bufão, alguém que se imagina tão dono do mundo quanto um idiota que brinca com um balão em forma de globo terrestre (numa das cenas mais antológicas do cinema).
Para a gente gargalhar da cara desse (e tantos outros) tirano é que foi relançado esse clássico (sem nenhuma poeira).


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