|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
FUTEBOL
Os volantes não olham para a frente
TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA
E xiste uma divisão no meio-campo do futebol brasileiro
entre o armador defensivo, ou volante, com a função de proteger os
zagueiros e laterais, e o ofensivo,
com a de auxiliar os atacantes.
Um desarma e o outro arma as
jogadas. Parece que é proibido fazer as duas coisas. Existem algumas exceções, como o Vampeta.
A primeira grande função de
um volante (sem ordem de importância) é a de se colocar corretamente em campo; ter a sabedoria de entender o momento de
avançar ou recuar; de tentar desarmar ou fechar espaços; de ser
um armador ou um terceiro zagueiro. Parece simples, mas não é.
Poucos sabem, como Rincón.
Depois de se colocar bem em
campo, o volante precisa desarmar o adversário. O bom marcador não é o que chega junto ou
atrasado e faz faltas, e sim o que
antevê o passe, se antecipa e sai
com a bola, como Leandro Ávila e
César Sampaio.
Depois de se colocar e desarmar,
é preciso iniciar o contra-ataque
com um bom e rápido passe. De
preferência longitudinal, para a
frente. Raríssimos sabem. A
maioria demora uma eternidade
com a bola nos pés. Não sei o que
é mais lento: o pensamento ou a
morosidade dos movimentos.
Além disso, grande parte dos volantes parece vesga. Só olha para
os lados e nunca para a frente. Se
o adversário marcar os avanços
dos laterais, fica sem saber para
quem tocar. Vampeta e Rincón
são exceções, mas não se aproximam de Guardiola (Barcelona).
Depois de se colocar, desarmar e
dar um bom passe, o volante precisa ter habilidade, mobilidade,
ginga e capacidade de driblar em
pequenos espaços. No Brasil, somente Vampeta e Felipe fazem isso. Todos os adversários que marcam a seleção brasileira por pressão tomam a bola com facilidade.
Redondo, do Real Madrid, é o
melhor nesse fundamento. Raramente perde a bola. Deu um show
de habilidade contra o Valência,
na final da Copa dos Campeões.
Por fim, após se colocar bem,
desarmar, passar e driblar, é desejável que o volante saiba finalizar
bem de fora da área. Vampeta e
Ricardinho, do Cruzeiro, melhoraram muito. Evidentemente, seria muito perfeccionismo exigir
que o volante tivesse todas essas
qualidades. Vampeta é o único,
no Brasil, que reúne várias dessas
habilidades. Davids, da Holanda,
e Redondo são os que mais se
aproximam da perfeição.
Por outro lado, se a perfeição é
um ideal, não se aceita que um
grande time não tenha um único
volante que não execute bem pelo
menos um desses fundamentos.
Infelizmente, é o que acontece.
Muitos só fazem faltas e tocam a
bola de lado. Se fosse citar todos,
teria de escrever outra coluna.
Palmeiras e Santos fizeram ontem as primeiras partidas da semifinal do Paulista. Enquanto os
torcedores enfrentam longas filas
e tentam, sem sucesso, comprar os
ingressos pela Internet e nas bancas de jornais, os cambistas vendem os bilhetes nas portas dos estádios por preços elevados. Quando será que o Farah e outros dirigentes vão abandonar o discurso
delirante e resolver os problemas
essenciais do futebol?
Hoje, o Corinthians, com a vantagem de jogar por dois resultados iguais, enfrenta o São Paulo.
Se o França não se cansou tanto
na partida de ontem, viajou à
noite numa confortável poltrona
da primeira classe, dormiu bem e
sonhou que fazia um gol, será importante hoje para o São Paulo.
Caso contrário, é melhor ficar de
fora. O mesmo serve para o Dida,
já que o goleiro precisa estar com
os reflexos afinados.
Assim como o Corinthians, o
forte do São Paulo são seus excelentes jogadores do meio-campo e
ataque. O time tem uma boa base
e pode se tornar, nos próximos
anos, o que o Corinthians é hoje.
No momento, existe uma desconfiança sobre a capacidade de decisão da equipe, o que não acontece com o Corinthians.
No Rio, Vasco e Flamengo fazem outro clássico. O Vasco jogou
muito mal os dois últimos jogos,
contra o Fluminense. O Flamengo
fez uma boa partida contra o Bahia, no retorno de seu querido técnico Carlinhos, mas a equipe é
muito inconstante. Romário, que
ia ficar cinco dias sem pisar no
chão, segundo os médicos, recuperou-se "milagrosamente" e talvez
jogue. Como disseram vários leitores, parece que o desejo do jogador de não atuar nos amistosos
da seleção era bem consciente.
O técnico Vicente Del Bosque
não moveu um único músculo da
face após o Real Madrid marcar o
primeiro gol do título contra o
Valencia, pela Copa dos Campeões. No dia anterior, Luxemburgo dava saltos espetaculares
de alegria, com risco de cair fora
do estádio, comemorando o segundo gol do Brasil, no amistoso
contra o fraco time do País de Gales. Parecia que o Brasil tinha ganho uma Copa do Mundo. Questão de estilo. Salve os opostos!
E-mail
tostao.folha@uol.com.br
Texto Anterior: +Esporte - Arquibancada: Paulistas enfrentam maratona de jogos decisivos esta semana Próximo Texto: Olimpíada 2000: Taekwondo quer chutar a fama de "panelinha' Índice
|