São Paulo, domingo, 28 de maio de 2000


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FUTEBOL
Os volantes não olham para a frente

TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA

E xiste uma divisão no meio-campo do futebol brasileiro entre o armador defensivo, ou volante, com a função de proteger os zagueiros e laterais, e o ofensivo, com a de auxiliar os atacantes. Um desarma e o outro arma as jogadas. Parece que é proibido fazer as duas coisas. Existem algumas exceções, como o Vampeta.
A primeira grande função de um volante (sem ordem de importância) é a de se colocar corretamente em campo; ter a sabedoria de entender o momento de avançar ou recuar; de tentar desarmar ou fechar espaços; de ser um armador ou um terceiro zagueiro. Parece simples, mas não é. Poucos sabem, como Rincón.
Depois de se colocar bem em campo, o volante precisa desarmar o adversário. O bom marcador não é o que chega junto ou atrasado e faz faltas, e sim o que antevê o passe, se antecipa e sai com a bola, como Leandro Ávila e César Sampaio.
Depois de se colocar e desarmar, é preciso iniciar o contra-ataque com um bom e rápido passe. De preferência longitudinal, para a frente. Raríssimos sabem. A maioria demora uma eternidade com a bola nos pés. Não sei o que é mais lento: o pensamento ou a morosidade dos movimentos. Além disso, grande parte dos volantes parece vesga. Só olha para os lados e nunca para a frente. Se o adversário marcar os avanços dos laterais, fica sem saber para quem tocar. Vampeta e Rincón são exceções, mas não se aproximam de Guardiola (Barcelona).
Depois de se colocar, desarmar e dar um bom passe, o volante precisa ter habilidade, mobilidade, ginga e capacidade de driblar em pequenos espaços. No Brasil, somente Vampeta e Felipe fazem isso. Todos os adversários que marcam a seleção brasileira por pressão tomam a bola com facilidade. Redondo, do Real Madrid, é o melhor nesse fundamento. Raramente perde a bola. Deu um show de habilidade contra o Valência, na final da Copa dos Campeões.
Por fim, após se colocar bem, desarmar, passar e driblar, é desejável que o volante saiba finalizar bem de fora da área. Vampeta e Ricardinho, do Cruzeiro, melhoraram muito. Evidentemente, seria muito perfeccionismo exigir que o volante tivesse todas essas qualidades. Vampeta é o único, no Brasil, que reúne várias dessas habilidades. Davids, da Holanda, e Redondo são os que mais se aproximam da perfeição.
Por outro lado, se a perfeição é um ideal, não se aceita que um grande time não tenha um único volante que não execute bem pelo menos um desses fundamentos. Infelizmente, é o que acontece. Muitos só fazem faltas e tocam a bola de lado. Se fosse citar todos, teria de escrever outra coluna.

Palmeiras e Santos fizeram ontem as primeiras partidas da semifinal do Paulista. Enquanto os torcedores enfrentam longas filas e tentam, sem sucesso, comprar os ingressos pela Internet e nas bancas de jornais, os cambistas vendem os bilhetes nas portas dos estádios por preços elevados. Quando será que o Farah e outros dirigentes vão abandonar o discurso delirante e resolver os problemas essenciais do futebol?
Hoje, o Corinthians, com a vantagem de jogar por dois resultados iguais, enfrenta o São Paulo. Se o França não se cansou tanto na partida de ontem, viajou à noite numa confortável poltrona da primeira classe, dormiu bem e sonhou que fazia um gol, será importante hoje para o São Paulo. Caso contrário, é melhor ficar de fora. O mesmo serve para o Dida, já que o goleiro precisa estar com os reflexos afinados.
Assim como o Corinthians, o forte do São Paulo são seus excelentes jogadores do meio-campo e ataque. O time tem uma boa base e pode se tornar, nos próximos anos, o que o Corinthians é hoje. No momento, existe uma desconfiança sobre a capacidade de decisão da equipe, o que não acontece com o Corinthians.
No Rio, Vasco e Flamengo fazem outro clássico. O Vasco jogou muito mal os dois últimos jogos, contra o Fluminense. O Flamengo fez uma boa partida contra o Bahia, no retorno de seu querido técnico Carlinhos, mas a equipe é muito inconstante. Romário, que ia ficar cinco dias sem pisar no chão, segundo os médicos, recuperou-se "milagrosamente" e talvez jogue. Como disseram vários leitores, parece que o desejo do jogador de não atuar nos amistosos da seleção era bem consciente.

O técnico Vicente Del Bosque não moveu um único músculo da face após o Real Madrid marcar o primeiro gol do título contra o Valencia, pela Copa dos Campeões. No dia anterior, Luxemburgo dava saltos espetaculares de alegria, com risco de cair fora do estádio, comemorando o segundo gol do Brasil, no amistoso contra o fraco time do País de Gales. Parecia que o Brasil tinha ganho uma Copa do Mundo. Questão de estilo. Salve os opostos!


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