São Paulo, domingo, 28 de maio de 2000


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FUTEBOL
Após duas mortes e dezenas de feridos em jogos da Copa da Uefa, dirigente pretende investigar o "sensacionalismo"
Europa culpa a imprensa pela violência

RODRIGO BUENO
DA REPORTAGEM LOCAL

A Uefa, entidade que controla o futebol na Europa, está acusando a imprensa ""sensacionalista" de ter participação nos conflitos que vêm ocorrendo recentemente em partidas no continente.
Gerhard Aigner, chefe executivo da Uefa, concordou com a abertura de uma investigação da cobertura feita pela imprensa nos jogos que tiveram incidentes.
O anúncio foi feito poucos dias após choques entre torcedores ingleses e turcos terem deixado 19 feridos e mais de 40 presos na Dinamarca, antes da final da Copa da Uefa, entre Arsenal e Galatasaray -na semifinal da competição, dois torcedores já haviam sido mortos.
Markus Studer, outro chefe executivo da Uefa, acredita que as televisões, especialmente, têm contribuído com a violência.
""Por que as câmeras de TV estão sempre na hora em que a primeira garrafa ou a primeira pedra é atirada? Por que os torcedores reagem quando vêem os jornalistas os filmando?", disse Studer.
O dirigente está comandando as investigações nas ruas e nos locais de Copenhague onde ocorreram brigas e confrontos de torcedores.
""Nós precisamos questionar a atitude de certos setores da imprensa que veiculam reportagens sensacionalistas. Nós vamos investigar o papel da imprensa em tudo isso, especialmente o jornalismo sensacionalista que vimos na semana passada", disse.
Algumas emissoras de televisão, como a norte-americana CNN, exibiram durante vários minutos imagens dos confrontos entre os torcedores ingleses e turcos.
Boa parte das brigas ocorreu na madrugada, em locais distantes do estádio onde foi o jogo.
O temor de novos casos de violência é grande na Europa, pois em junho acontecerá a Eurocopa, torneio que levará torcedores de pelo menos 16 países para Bélgica e Holanda (leia texto abaixo).
No Brasil, onde uma nova ""onda" de mortos e feridos no futebol foi detectada, o promotor Fernando Capez, inimigo número um das torcidas organizadas, concorda com a tese de que a imprensa contribui para a violência.
""Uma pessoa que vê a imagem da televisão tem vontade de imitar. Quando você mostra um rosto de um torcedor violento, ele passa a ser o protagonista do espetáculo. O identificado recebe às vezes aplausos de seus companheiros. Encontrei cartas de crianças, em uma torcida que foi extinta, que tratavam os torcedores como ídolos", disse Capez.
De abril para cá, foram registradas duas mortes de torcedores em meio ao Campeonato Paulista.
Capez entende que o trabalho da imprensa é ambíguo.
""Tem um caráter duplo. Acho que a cobertura da imprensa no Brasil contribuiu até mais do que prejudicou. É claro que há um malefício, mas o prejuízo foi menor. A imprensa foi uma forte aliada quando começou o combate à violência", disse o promotor.
Capez descartou qualquer investigação do trabalho da imprensa em São Paulo, como acontecerá na Europa. ""A gente consagra a Lei de Imprensa. Está em nossa Constituição", declarou.
O promotor convocou uma reunião inédita com os líderes das torcidas organizadas. Pediu a ajuda dos mesmos para identificar grupos da periferia que estariam deixando a situação da violência em São Paulo ""fora de controle".
Após a reunião, Capez prometeu que não haverá mais mortes de torcedores até o término do Campeonato Paulista.


Com agências internacionais

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