São Paulo, Sexta-feira, 27 de Agosto de 1999
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Defesa de Elisângela aposta em "novidade científica'

da Reportagem Local

A defesa da brasileira Elisângela Adriano, medalha de ouro no lançamento de disco no Pan-Americano de Winnipeg, vai apostar numa espécie de "novidade científica" para sustentar a inocência.
Segundo Sérgio Coutinho Nogueira, presidente da equipe Funilense -à qual pertence Elisângela-, a maneira mais usual de utilização da nandrolona é por meio de um produto chamado deca-durabolin. "Isso a gente sabe que ela não usou. Ela fez quatro exames seguidos, e apenas um deu positivo, o que seria impossível no caso do deca-durabolin."
O dirigente diz que o problema de Elisângela pode estar relacionado a uma onda de casos de nandrolona -só neste mês, foram pegos por doping da substância dois importantes atletas: o britânico Linford Christie (ouro em Barcelona-92) e a jamaicana Marlene Ottey (dona da terceira melhor marca da história nos 100 m).
"Todos disseram não ter injetado nada. Podem ter tomado algo sem saber, algo que ainda não se saiba que pode resultar num teste positivo para nandrolona", diz.
O resultado positivo de Elisângela ocorreu em exame feito na Universíade, Espanha, em julho. Depois, ela competiu no Pan, ganhando o ouro. O doping ainda não estava oficializado -embora Elisângela admita que, informalmente, já sabia do resultado.
Em seguida, já conhecendo oficialmente o problema, Elisângela foi à Espanha para o Mundial.
Lá chegando, ficou sabendo que teria de aguardar o resultado da contraprova para poder competir -mas acabou sendo barrada.
Ontem, após uma reunião com Elisângela, o brasileiro Eduardo de Rose, membro da comissão médica do Comitê Olímpico Internacional, decidiu analisar os medicamentos que a atleta tomou para auxiliar na defesa.
Para corroborar a tese de ingestão acidental, Coutinho enviou à Folha trechos de uma reportagem do jornal holandês "De Volkskrant", em que Arne Ljungvist, chefe da comissão antidoping da Iaaf (federação de atletismo), diz que os casos de nandrolona podem estar ligados ao consumo de suplementos alimentares.
"Pode haver pequenas quantidades de anabólicos nesses suplementos, apesar de isso não ser mencionado nas bulas. Isso poderia ser a causa dos resultados positivos", afirma Ljungvist.
O sueco, no entanto, faz uma ressalva: "Os atletas continuam sendo responsáveis pelo que é encontrado em seu organismo".
Marcelo Regazzini, especialista em medicina esportiva da USP (Universidade de São Paulo), diz que certas substâncias, chamadas precursores de nandrolona, poderiam ser ingeridas misturadas a outros componentes. E, dentro do organismo, poderiam se transformar em nandrolona.
O destino de Elisângela está nas mãos da Iaaf, que, caso a condene (o resultado pode sair só no fim do ano), deverá anular seus resultados desde a Universíade. Com isso, o Brasil deixaria para a Argentina o quarto lugar no Pan.


Texto Anterior: Equipe tem 2 chances de pódio hoje
Próximo Texto: Tênis: Forte calor faz Kuerten reduzir ritmo
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.