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Os alvinegros opostos do eixo Rio-São Paulo
JUCA KFOURI
Colunista da Folha
Um é o líder com 100% de aproveitamento no Campeonato Brasileiro, 18 pontos em seis jogos,
quase um recorde.
O outro é o lanterna, dois pontos em oito jogos.
Corinthians e Botafogo vivem
situações opostas.
Os paulistas, enfim, no rumo de
virar grande até internacionalmente.
Os cariocas, infelizmente, no caminho da morte até nacionalmente.
A situação corintiana é tão boa
que já há alvinegros mais fanáticos torcendo pela revisão da Lei
Pelé, na esperança de que se revogue a obrigatoriedade de transformação dos clubes em empresas e
de que se volte à situação da Lei
Zico, quando a transformação era
opcional, e ninguém a fez.
Assim, torcem tais fanáticos,
com a parceria firmada com o
grupo HMTF, o Corinthians poria
30 anos de frente sobre seus rivais.
Em campo, o time dá show. Basta lembrar os dois primeiros gols
diante do Juventude.
No primeiro, Ricardinho e Marcelinho trocaram passes de calcanhar antes de a bola chegar à cabeça de Nenê. No segundo, foi
Edílson quem tocou de calcanhar
para Augusto cruzar na cabeça de
Ricardinho liquidar o jogo.
E, como fanáticos são fanáticos,
há ainda quem só lamente as saídas de Gamarra e de Silvinho. Seria, de fato, um time quase imbatível, uma seleção.
Fora de campo, como sempre,
turbulência à vista, embora a vitória de Alberto Dualib nas últimas eleições tenha sido tão aplastrante que custa crer em alguma
consequência mais grave da sábia, e irrecorrível, decisão da Justiça ao decidir pela ilegalidade da
mudança estatutária feita em
1994, sob o pretexto imoral de
adequação à Lei Zico.
Não fosse o fato de o empresário
José Hawilla ser palmeirense,
quem sabe não seria até o caso de
relançar a célebre campanha dos
anos 60, ""basta de intermediários,
Lincoln Gordon para presidente",
quando a oposição à ditadura militar propunha que o embaixador
norte-americano no Brasil assumisse de vez o poder.
No Botafogo, ao que parece, só
Deus. Não há nada mais parecido
com o Fluminense de três anos
atrás do que esse triste Botafogo
de agora.
E é bobagem dizer, como disse
Carlos Alberto Torres, que falta
vergonha na cara aos jogadores,
porque falta mesmo é futebol.
Faltou, sim, um mínimo de
competência à direção botafoguense, que não tratou de montar
uma equipe à altura de disputar o
Campeonato Brasileiro nem mesmo depois da vergonhosa campanha feita no Estadual.
E não há milagres em futebol,
com exceção das exceções e com o
perdão da obviedade.
Resta, portanto, a quem se orgulha do Glorioso da Estrela Solitária -e este colunista passou os
melhores anos de sua infância
torcendo alegremente pelo time
de General Severiano, Garrincha,
Didi, Quarentinha, Paulo Valentim, Zagallo, além de Nilton Santos, Pampolini, Manga, tantos-
rezar pelo milagre que o faça escapar do rebaixamento.
Em nome do que significa o Botafogo na história do futebol brasileiro, principal fornecedor de talentos para a seleção bicampeã
mundial em 1958 e 1962, resta fazer um apelo ao torcedor alvinegro: não é hora de ir ao estádio cobrar do time e nem mesmo dos
cartolas; não é hora, também, de
não ir ao estádio; é hora, isto sim,
de empurrar o Botafogo para fora
da zona de rebaixamento.
Cobranças, depois, aí sim, serão
muito bem-vindas.
Juca Kfouri escreve aos domingos, às terças
e às sextas-feiras
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