São Paulo, Sexta-feira, 27 de Agosto de 1999
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Os alvinegros opostos do eixo Rio-São Paulo

JUCA KFOURI
Colunista da Folha

Um é o líder com 100% de aproveitamento no Campeonato Brasileiro, 18 pontos em seis jogos, quase um recorde.
O outro é o lanterna, dois pontos em oito jogos.
Corinthians e Botafogo vivem situações opostas.
Os paulistas, enfim, no rumo de virar grande até internacionalmente.
Os cariocas, infelizmente, no caminho da morte até nacionalmente.
A situação corintiana é tão boa que já há alvinegros mais fanáticos torcendo pela revisão da Lei Pelé, na esperança de que se revogue a obrigatoriedade de transformação dos clubes em empresas e de que se volte à situação da Lei Zico, quando a transformação era opcional, e ninguém a fez.
Assim, torcem tais fanáticos, com a parceria firmada com o grupo HMTF, o Corinthians poria 30 anos de frente sobre seus rivais.
Em campo, o time dá show. Basta lembrar os dois primeiros gols diante do Juventude.
No primeiro, Ricardinho e Marcelinho trocaram passes de calcanhar antes de a bola chegar à cabeça de Nenê. No segundo, foi Edílson quem tocou de calcanhar para Augusto cruzar na cabeça de Ricardinho liquidar o jogo.
E, como fanáticos são fanáticos, há ainda quem só lamente as saídas de Gamarra e de Silvinho. Seria, de fato, um time quase imbatível, uma seleção.
Fora de campo, como sempre, turbulência à vista, embora a vitória de Alberto Dualib nas últimas eleições tenha sido tão aplastrante que custa crer em alguma consequência mais grave da sábia, e irrecorrível, decisão da Justiça ao decidir pela ilegalidade da mudança estatutária feita em 1994, sob o pretexto imoral de adequação à Lei Zico.
Não fosse o fato de o empresário José Hawilla ser palmeirense, quem sabe não seria até o caso de relançar a célebre campanha dos anos 60, ""basta de intermediários, Lincoln Gordon para presidente", quando a oposição à ditadura militar propunha que o embaixador norte-americano no Brasil assumisse de vez o poder.
No Botafogo, ao que parece, só Deus. Não há nada mais parecido com o Fluminense de três anos atrás do que esse triste Botafogo de agora.
E é bobagem dizer, como disse Carlos Alberto Torres, que falta vergonha na cara aos jogadores, porque falta mesmo é futebol.
Faltou, sim, um mínimo de competência à direção botafoguense, que não tratou de montar uma equipe à altura de disputar o Campeonato Brasileiro nem mesmo depois da vergonhosa campanha feita no Estadual.
E não há milagres em futebol, com exceção das exceções e com o perdão da obviedade.
Resta, portanto, a quem se orgulha do Glorioso da Estrela Solitária -e este colunista passou os melhores anos de sua infância torcendo alegremente pelo time de General Severiano, Garrincha, Didi, Quarentinha, Paulo Valentim, Zagallo, além de Nilton Santos, Pampolini, Manga, tantos- rezar pelo milagre que o faça escapar do rebaixamento.
Em nome do que significa o Botafogo na história do futebol brasileiro, principal fornecedor de talentos para a seleção bicampeã mundial em 1958 e 1962, resta fazer um apelo ao torcedor alvinegro: não é hora de ir ao estádio cobrar do time e nem mesmo dos cartolas; não é hora, também, de não ir ao estádio; é hora, isto sim, de empurrar o Botafogo para fora da zona de rebaixamento.
Cobranças, depois, aí sim, serão muito bem-vindas.


Juca Kfouri escreve aos domingos, às terças e às sextas-feiras

Texto Anterior: Carpegiani mantém equipe em clássico
Próximo Texto: Autobiográfico
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.