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PARAOLÍMPIADA
Banco do Brasil quer repetir com desporto paraolímpico o sucesso que teve com o apoio ao vôlei
Deficiente vira filão de investimento
LUÍS CURRO
enviado especial ao México
O desporto paraolímpico brasileiro, até hoje relegado a um segundo plano, está para fechar um
acordo que deve mudar inteiramente seu rumo -para melhor.
O Comitê Paraolímpico Brasileiro (CPB) deve assinar ainda
neste ano um contrato de patrocínio com o Banco do Brasil (BB),
instituição estatal que há dez anos
começou a apoiar o vôlei -posteriormente, também direcionou
investimentos ao vôlei de praia.
Com o suporte do BB, coincidência ou não, o Brasil começou a
conquistar grandes vitórias internacionais -a primeira delas, no
vôlei indoor, foi a medalha de ouro olímpica, no masculino, em
Barcelona-92.
O sucesso emergente das seleções brasileiras atraiu a atenção
do público e, por consequência,
de várias empresas privadas (como Nestlé, BCN, Report e Olympikus), que planejaram estratégias de marketing juntamente
com a CBV (Confederação Brasileira de Vôlei) e passaram a investir pesado nesse esporte.
Houve um "boom", e o vôlei
tornou-se o segundo esporte na
preferência dos brasileiros
-atrás do imbatível futebol.
Agora, o BB se propôs a outro
desafio: tentar fazer o mesmo
com o desporto paraolímpico.
E a diretoria do banco assegura
que não é um plano com objetivos
sociais, mas sim sócio-econômicos. Ou seja: o banco visa ao lucro
nessa empreitada -como no vôlei, no qual investe nas seleções do
país, em todas as categorias, cerca
de R$ 4,5 milhões.
"Para cada R$ 1 investido no vôlei, há um retorno de R$ 4 só de
imagem", afirmou Rinaldo Feitosa, 39, assessor sênior de marketing e comunicação do BB.
Em entrevista à Folha durante
os Jogos Pan-Americanos Paraolímpicos, encerrados no final de
semana passado, na Cidade do
México, Feitosa disse que a decisão do BB de apoiar o desporto
paraolímpico foi cuidadosamente
estudada e é definitiva.
"Dentro de seu marketing esportivo, o banco definiu que queria outro campo estratégico de
ação, e escolhemos o desporto paraolímpico", declarou ele.
A aprovação veio justamente
após o Pan, que fechou uma etapa
de observação do BB que incluiu
um Mundial, na Nova Zelândia, e
um Sul-Americano, na Venezuela, ambos no mês passado.
"Esses eventos serviram de laboratório para o banco saber se
poderia emprestar seu nome (ao
desporto paraolímpico). Agora,
passaremos à fase de planejamento", disse Feitosa, explicando que
haverá dois projetos paralelos.
O primeiro é com vistas à Paraolímpíada de Sydney, que acontecerá em outubro de 2000, pouco
depois dos Jogos Olímpicos.
O BB dará apoio financeiro ao
CPB (os valores ainda serão definidos), para que o Brasil possa
participar de mais eventos internacionais e seus atletas de ponta
ganharem experiência -para subirem ao pódio na Austrália.
O segundo projeto, do qual o
primeiro será o maior promotor,
visa à massificação do desporto
paraolímpico no Brasil, país que
tem cerca de 15 milhões de deficientes, mas somente 10 mil praticam esportes de maneira organizada, segundo o CPB.
O BB colocará à disposição dos
deficientes toda a estrutura das
unidades da AABB (Associação
Atlética Banco do Brasil) no país,
a fim de que eles possam desenvolver alguma atividade esportiva
disponível nesses clubes.
Para Feitosa, se o planejamento
der certo, em breve o Brasil terá
ídolos no desporto paraolímpico,
deficientes buscando seguir o
exemplo deles e, dessa forma, ganharem retorno profissional.
"O esporte potencializa o indivíduo, faz a pessoa passar a se sentir
capaz. Se elas tiverem oportunidade de ter mais espaço na sociedade, poderemos erradicar das
empresas a discriminação ao deficiente", afirmou ele.
"Há também uma auto-discriminação, com apoio das famílias", continuou, com a concordância de João Batista Carvalho e
Silva, presidente do CPB. "A família dificilmente incentiva os deficientes no esporte, pois acha que é
colocar um sacrifício a mais para
eles. É preciso quebrar esse estigma", disse Carvalho e Silva, que
espera ver em breve cartazes dos
destaques brasileiros afixados em
agências do Banco do Brasil.
"Se isso for superado (as dúvidas de empresários em relação à
capacidade dos deficientes), haverá mais pessoas no processo de
trabalho, e o país ganhará em produtividade", completou o representante de marketing do BB.
O jornalista Luís Curro viajou a convite do
Comitê Paraolímpico Brasileiro
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