São Paulo, Domingo, 21 de Novembro de 1999
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Ali protagoniza principal momento de celebração

do enviado a Viena

Assim como aconteceu na festa de abertura dos Jogos Olímpicos de Atlanta em 1996, o ex-pugilista norte-americano Muhammad Ali foi o responsável pelo principal momento de comoção anteontem durante a cerimônia do "World Sports Awards", a eleição dos melhores atletas do século.
A escolha dos organizadores em conceder o último prêmio da noite à categoria de esportes de combate era mais do que conveniente.
Até mesmo o espanhol Juan Antonio Samaranch, presidente do Comitê Olímpico Internacional, em discurso modesto e apolítico, foi encaixado antes dele.
Ao lado de Pelé, Ali era o sujeito mais fotografado em Viena desde que desembarcou na capital austríaca, no dia da premiação.
E a noite de gala prometida pelos organizadores austríacos só poderia ser encerrada por ele.
De tão evidente, seu nome não foi nem citado no momento da premiação. O mestre de cerimônia, em vez de falar Muhammad Ali, disse apenas: "Aquele que um dia se disse o maior".
E não era necessário falar mais. Todos sabiam. Ali estava lá para ser homenageado, não apenas para fazer figuração, como muitos que compareceram ao evento.

Sugar Ray Leonard
A lista de indicados na categoria já era um óbvio indício: além dele, o único pugilista entre medalhistas olímpicos de luta, judocas e lutadores de sumô era Sugar Ray Leonard, outro espetacular boxeador, mas que em nenhuma lista séria conseguiria superar Ali.
Talvez mais pela doença do que por seu currículo como boxeador internacional, ativista político ou simples figura pública, Ali se transformou em uma espécie de pessoa a ser adorada.
Em Viena não foi diferente. Sua premiação, de longe a mais aplaudida de toda a premiação -o público que lotou o Ópera o aclamou de pé por cerca de três minutos-, acabou por resumir seu discurso de duas simples frases.
Até os organizadores contribuíram para isso, considerando que Ali estava incapaz de falar.
Sua reação não poderia ser melhor. Ao primeiro que apareceu em sua frente, Ali ergueu os pulsos e simulou jabs na direção do infeliz. Justamente o mestre de cerimônias, que, quase em pranto, tentava entregar-lhe o troféu, em vez de ouvir o que ele tinha para falar.
Apesar de o contrato lhe livrar dessa obrigação, o mais notável campeão dos pesos pesados teve, porém, tempo suficiente para murmurar que "nenhum campeonato, nenhum combate, fora capaz de produzir maior emoção" do que aquela que ele sentia naquele momento.
Um discurso pronto, como foram todos em Viena, mas carregado pela dramaticidade provocada pela doença que Ali sofre há anos: o mal de Parkinson, que o faz tremer a toda instante, a ponto de obrigar as pessoas a reconhecê-lo como o maior de todos os tempos neste final de século, concordem ou não com isso. (FSx)

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