São Paulo, Domingo, 21 de Novembro de 1999
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EVENTO
Festa em Viena, semelhante ao show do cinema norte-americano, premia principais nomes do esporte
Atletas do século vivem noite de Oscar

France Presse
Pelé marca sua mão no concreto na Calçada dos Vencedores durante festa de premiação dos "Atletas do Século", em Viena




FÁBIO SEIXAS
enviado especial a Viena

Com quase todos os grandes esportistas vivos reunidos, Viena organizou na noite de anteontem uma festa semelhante à do Oscar para celebrar o prêmio "Atletas do Século".
Até nos discursos de palco o evento lembrou o show do cinema norte-americano.
Premiado com o título de jogador de futebol do século, anteontem à noite, em Viena, Áustria, Pelé resolveu incorporar o discurso por mais segurança no Brasil.
À imprensa internacional, presente ao evento, preocupou-se em enaltecer o esporte. "Tanto faz ganhar ou perder. O que importa é que o esporte junte as pessoas."
Após a premiação, porém, falou à Folha sobre seus receios com a falta de segurança.
"Infelizmente, há 30 anos, eu pedi para darem educação e escola para as crianças. Estamos vivendo um momento difícil na parte da segurança porque as crianças daquela época já são pais dos trombadinhas de hoje."
"A educação não melhorou nada nesse tempo. O Brasil vai mal."
Na noite em que comemorava 30 anos de seu milésimo gol, Pelé recebeu o prêmio "World Sports Awards of the Century", junto com outros dez esportistas, vencedores de outras categorias.
Promovido pelo Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância) e financiado em parte pelo governo austríaco e pela cidade de Viena, o evento reuniu cerca de 2.600 pessoas e procurou seguir a linha de uma cerimônia do Oscar.
Intercalando as homenagens, shows como o do italiano Eros Ramazzotti e do inglês Cliff Richards. Jogos de luzes, piadinhas encenadas. E homenagens.
A apresentação começou com a atriz Brigitte Nielsen, com a relação dos oito indicados para a categoria de esportes a motor. Entre os concorrentes, os ex-pilotos de F-1 Alain Prost, Niki Lauda e Jackie Stewart e o motociclista Michael Doohan. "O vencedor é um baixinho, engraçadinho, com um nariz esquisito", disse Nielsen, chamando Prost para o palco.
Em seu discurso de agradecimento, o tetracampeão lembrou dos "grandes rivais" que teve nas pistas. Citou, no entanto, apenas um nome: o do brasileiro Ayrton Senna (leia texto ao lado). "Tenho que pensar nas pessoas que morreram praticando esse esporte."
Pelo regulamento, apenas atletas vivos concorriam.
Em sua cadeira, na platéia, o australiano Doohan aplaudia, tendo ao seu lado um par de muletas. E, para um curioso que lhe perguntou, garantiu que volta a competir. "Já estou pilotando minha moto", declarou o pentacampeão das 500 cc, acidentado na primeira metade da temporada.
Em seguida, vieram as premiações para os melhores atletas em esportes com bola, nas categorias masculino e feminino. Vieram, também, as primeiras -e únicas- gafes de todo o evento.
Os dois premiados, a ex-tenista Steffi Graf e o ex-jogador de basquete Michael Jordan, não compareceram à premiação. O motivo alegado foi o mesmo: compromisso pessoais em Nova York.
Seguiu-se a premiação, agora nos esportes atléticos.
Como previsto, no feminino o troféu ficou com a romena Nadia Comaneci, primeira ginasta a conseguir uma nota 10 em Jogos Olímpicos, em Montreal-76.
Uma das mais festejadas em Viena, ela lembrou de Bela Karolyi, seu técnico desde os 6 anos.
"Certamente, os outros atletas que estão aqui encontraram pessoas como Bela ao longo de suas carreiras", afirmou -por ter sido proibida pelo governo de treinar com Karolyi, na adolescência, Comaneci chegou a tentar o suicídio, bebendo xampu.
No masculino, outra barbada. Carl Lewis, nove medalhas de ouro em Jogos Olímpicos, foi o primeiro a ser aplaudido de pé.
Foi, também, o primeiro a dedicar seu prêmio para a juventude.
"Quero garantir algo para os jovens. Se eu estou aqui, qualquer um pode estar. Como eu, a maioria dos que estão aqui começaram a praticar esportes em suas cidades pequenas e só depois, trabalhando duro, tiveram sucesso."
A próxima categoria foi a dos esportes aquáticos.
A australiana Dawn Fraser, ouro nos 100 m livre em três Olimpíadas consecutivas (de 1956 a 1964) superou a favorita Janet Evans e levou a premiação.
No masculino, o troféu ficou com o nadador norte-americano Mark Spitz, vencedor de nove medalhas olímpicas de ouro -sete delas nos Jogos de Munique-72.
Mantendo a marca de falastrão que traz desde o início da carreira, foi um dos que mais tempo ficaram no palco. Agradeceu aos membros do comitê, ao júri. E acabou fazendo o melhor discurso da noite.
"Vou contar o que me levou a fazer tudo o que fiz. Foi o mistério, a inocência, a magia, de querer fazer algo que ninguém nunca havia conseguido", afirmou.
Festa para os austríacos, uma esportista do país foi premiada na categoria dos esportes de inverno: Annemarie Moser-Proll, pentacampeã mundial e campeã olímpica em 80, no esqui alpino.
No masculino, apesar do favoritismo do italiano Alberto Tomba, o troféu foi para o francês Jean-Claude Killy, três ouros olímpicos em 68 e campeão mundial em 66.
Após uma apresentação de Ramazzotti, a premiação dos atletas do século chegou a sua conclusão. Propositalmente, ficaram para o fim as categorias que levavam, talvez, os dois maiores nomes do esporte nos últimos cem anos. Dois mitos que subiram sucessivamente ao palco do Ópera.
Primeiro o brasileiro Pelé, aplaudido de pé pela platéia.
Em seguida, dando um toque emotivo à noite de gala, Muhammad Ali (leia ao lado). Que mesmo sem conseguir se expressar, tendo nas mãos trêmulas o troféu de cristal, avaliado em US$ 40 mil, tentou mais uma vez provar ser verdadeira a frase que se tornou seu rótulo: "Eu sou o maior".


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