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Só faltava dizer muito obrigado
JUCA KFOURI
Colunista da Folha
Minha primeira coluna nesta
Folha saiu no dia da graça de 2 de
julho de 1995.
O título era "Um alegre corintiano", pois eu saudava o fato de estar
começando a trabalhar num jornal que me garantia plena liberdade e respaldo.
O título da coluna de hoje deveria ser, portanto, ""Um triste corintiano", porque estou deixando a
Folha. Mas não, diga-se logo, por
falta de liberdade.
A vida tem uma porção de encruzilhadas, e às vezes pegamos uma
estrada diferente da que supúnhamos, sempre na esperança de que
tudo dê certo.
É o meu caso, agora.
Dê no que dê o novo caminho,
importa dizer que em julho de 1995
eu estava inseguro.
Sim, por mais que os jovens não
acreditem, profissionais experimentados também se sentem assim diante do mundo.
Então, aos 45 anos de idade, eu
largava um quarto de século passado na Editora Abril, onde aprendi o pouco que sei e até me achava
meio dono das coisas que fazia.
Hoje, quase cinquentão, a situação é outra.
A convivência quase diária com
os leitores da Folha, e com os companheiros da Folha, resultou em
segurança.
E é exatamente por isso que a
gratidão que levo pelo apoio aqui
recebido é dessas coisas que se carregam para sempre.
São só boas lembranças e muitas
lições. De verdade.
Como esquecer o primeiro contato, quando, numa negociação
que deveria ser apenas profissional, ouvi de Otavio Frias Filho que
o Frias pai queria porque queria
que eu viesse para a Folha? Sua
missão, ouvi dele, era me contratar
e ponto final.
Ou como esquecer a calorosa recepção do Matinas-san?
Mal sabem eles, e talvez eu nem
devesse contar, que naquele dia, 30
de junho, eu viria para o jornal até
se fosse de graça, porque certas atitudes não têm preço.
De lá para cá, só alegria.
A alegria da convivência, mesmo
que via telefone, com o Melk, com
o Marcelo, com o Júlio, Edgard,
João Carlos, Alex, Cobos, Ohata,
Dias, Marcílio, Bueno, Mário, no
Rio, tantos profissionais de primeira, não só no trato com a profissão,
mas no relacionamento pessoal.
A felicidade de uma cobertura de
Copa do Mundo que juntou uma
garotada 1.000% com a velha
guarda tão bem representada pelo
Rossi, Cony, Janio, Macaco Simão
(ele vai ficar bravo), meu inseparável Helena, na campeoníssima
França.
Houve, é claro, muitos momentos de tensão. Ora, não houvesse e
não estaríamos vivendo intensamente um jornal.
À tentativa canhestra de não me
darem credenciamento para cobrir a Copa o jornal respondeu
com estupenda energia.
E nas poucas, porém renhidas,
divergências, outra lição, principalmente para quem avalia de fora e imagina que esta Folha seja
um símbolo da arrogância que caracteriza quase todos nós, jornalistas: a preocupação constante em
não fazer do jornal uma arma
contra quem quer que seja, mesmo
que esse alguém mereça, e que, às
vezes, não consigamos.
Os mais de quatro anos aqui
passados valeram por uma vida,
de tal maneira que não há mais
nada lá fora que assuste, embora
cada recomeço seja sempre uma
experiência assustadora.
Lamento deixar o vizinho Tostão, exemplo de brasileiro. Sinto
por não dividir mais este espaço
com o Zé Geraldo e com o Torero,
gente tão boa, limpa, talentosa.
Mas levo, por metido que sou,
também o sentimento do dever
cumprido, além de um certo aperto no coração, aquele que sempre
dá quando o navio parte, o trem
apita, o avião decola ou o ônibus
dobra a esquina.
E nenhuma sensação de que já
vou tarde.
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