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FUTEBOL
Um, nenhum e cem mil
JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA
Tomo emprestado o título
de um lindo livro de Luigi Pirandello para comentar a recente
onda de jogos sem torcida. Como
se sabe, os portões fechados ao
público são a nova forma de punição a clubes cujos torcedores
causaram confusão em alguma
partida.
O Corinthians, por exemplo, terá três confrontos com estádios
vazios, por conta das invasões do
gramado do Pacaembu no clássico em que o time foi goleado pelo
São Paulo. O clube da segunda
maior torcida do país ficará dois
meses longe dela, pois seus outros
jogos no período serão fora do Estado de São Paulo.
Não discuto a necessidade de
punição rigorosa aos infratores, e
já adianto que não tenho a resposta pronta para o problema.
Por uma questão de isonomia, até
o final do atual campeonato a
sanção tem que ser essa mesmo,
já que outros clubes, como Santos
e Botafogo, foram punidos assim.
Mas algumas coisas devem ser
levadas em conta, para que no futuro seja adotada uma solução
melhor.
A primeira (e óbvia) constatação é a de que estádio vazio não
pune só a torcida infratora e seu
clube, mas também o adversário,
o cidadão comum, os jogadores
em campo, os telespectadores, as
emissoras de TV, os patrocinadores etc. Todos saem perdendo,
porque o jogo fica frio, sem vibração. As arquibancadas desertas
produzem um eco de treino de colégio ou quartel.
Um leitor, cujo nome infelizmente perdi, sugeriu que, em vez
de fechar os portões, eles fossem
abertos ao público em geral. Ingresso gratuito, em suma, deixando o clube mandante sem o dinheiro da renda. A proposta é interessante, mas alguém poderá
argumentar que a entrada franca
estimularia a presença do mesmo
tipo de arruaceiro que causou o
problema.
Talvez a idéia possa ser aperfeiçoada. Por exemplo: e se o ingresso, nesses jogos, custasse um quilo
de alimento não perecível ou, no
inverno, um agasalho usado? O
material arrecadado seria encaminhado à população carente.
Mas e a torcida infratora? Não
seria punida? Esse é o nó da questão. O que é pior? Punir uma
massa de milhares e milhares de
torcedores por causa de um punhado de babacas ou dar chance
aos babacas de reincidirem no erro? As duas coisas, a meu ver, são
ruins e devem ser evitadas.
A perspectiva mais saudável é
aproveitar esses jogos para tentar
mudar o perfil e o espírito dos torcedores. Como? Não tenho a fórmula pronta, mas uma sugestão
seria a de impedir, apenas nessas
partidas, o espectador de entrar
com a camisa de seu clube ou de
alguma torcida organizada. Entrariam todos "à paisana", misturados, sem divisão de setores.
Esse simples fato tenderia a desarmar os espíritos, retirar do
evento o clima bélico, realçar seu
caráter de entretenimento popular -e familiar.
Podem me acusar de ingenuidade. Mas, diante das "soluções"
atuais, não custaria nada pensar
nessas alternativas e, se possível,
experimentá-las na prática.
Seleção
Nenhuma surpresa na convocação da seleção que disputará
os próximos jogos das eliminatórias e a Copa das Confederações. Santos, São Paulo e Palmeiras, os únicos clubes brasileiros com jogadores convocados, têm razão de reclamar,
mas, por outro lado, atletas como Robinho, Ricardinho, Cicinho e Léo não podem perder
essa chance de buscar um lugar
na Copa de 2006.
Libertadores
Contra a Universidad de Chile,
o Santos, mais uma vez, perdeu
muitos gols e se mostrou vulnerável na defesa: o time chileno
praticamente tentou três vezes,
e fez dois belos gols. Já o São
Paulo deu um passo enorme
para a classificação ao bater o
Palmeiras no truncado e feio jogo de ida, no Parque Antarctica.
E-mail jgcouto@uol.com.br
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