São Paulo, sábado, 21 de maio de 2005

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FUTEBOL

Um, nenhum e cem mil

JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA

Tomo emprestado o título de um lindo livro de Luigi Pirandello para comentar a recente onda de jogos sem torcida. Como se sabe, os portões fechados ao público são a nova forma de punição a clubes cujos torcedores causaram confusão em alguma partida.
O Corinthians, por exemplo, terá três confrontos com estádios vazios, por conta das invasões do gramado do Pacaembu no clássico em que o time foi goleado pelo São Paulo. O clube da segunda maior torcida do país ficará dois meses longe dela, pois seus outros jogos no período serão fora do Estado de São Paulo.
Não discuto a necessidade de punição rigorosa aos infratores, e já adianto que não tenho a resposta pronta para o problema. Por uma questão de isonomia, até o final do atual campeonato a sanção tem que ser essa mesmo, já que outros clubes, como Santos e Botafogo, foram punidos assim.
Mas algumas coisas devem ser levadas em conta, para que no futuro seja adotada uma solução melhor.
A primeira (e óbvia) constatação é a de que estádio vazio não pune só a torcida infratora e seu clube, mas também o adversário, o cidadão comum, os jogadores em campo, os telespectadores, as emissoras de TV, os patrocinadores etc. Todos saem perdendo, porque o jogo fica frio, sem vibração. As arquibancadas desertas produzem um eco de treino de colégio ou quartel.
Um leitor, cujo nome infelizmente perdi, sugeriu que, em vez de fechar os portões, eles fossem abertos ao público em geral. Ingresso gratuito, em suma, deixando o clube mandante sem o dinheiro da renda. A proposta é interessante, mas alguém poderá argumentar que a entrada franca estimularia a presença do mesmo tipo de arruaceiro que causou o problema.
Talvez a idéia possa ser aperfeiçoada. Por exemplo: e se o ingresso, nesses jogos, custasse um quilo de alimento não perecível ou, no inverno, um agasalho usado? O material arrecadado seria encaminhado à população carente.
Mas e a torcida infratora? Não seria punida? Esse é o nó da questão. O que é pior? Punir uma massa de milhares e milhares de torcedores por causa de um punhado de babacas ou dar chance aos babacas de reincidirem no erro? As duas coisas, a meu ver, são ruins e devem ser evitadas.
A perspectiva mais saudável é aproveitar esses jogos para tentar mudar o perfil e o espírito dos torcedores. Como? Não tenho a fórmula pronta, mas uma sugestão seria a de impedir, apenas nessas partidas, o espectador de entrar com a camisa de seu clube ou de alguma torcida organizada. Entrariam todos "à paisana", misturados, sem divisão de setores.
Esse simples fato tenderia a desarmar os espíritos, retirar do evento o clima bélico, realçar seu caráter de entretenimento popular -e familiar.
Podem me acusar de ingenuidade. Mas, diante das "soluções" atuais, não custaria nada pensar nessas alternativas e, se possível, experimentá-las na prática.

Seleção
Nenhuma surpresa na convocação da seleção que disputará os próximos jogos das eliminatórias e a Copa das Confederações. Santos, São Paulo e Palmeiras, os únicos clubes brasileiros com jogadores convocados, têm razão de reclamar, mas, por outro lado, atletas como Robinho, Ricardinho, Cicinho e Léo não podem perder essa chance de buscar um lugar na Copa de 2006.

Libertadores
Contra a Universidad de Chile, o Santos, mais uma vez, perdeu muitos gols e se mostrou vulnerável na defesa: o time chileno praticamente tentou três vezes, e fez dois belos gols. Já o São Paulo deu um passo enorme para a classificação ao bater o Palmeiras no truncado e feio jogo de ida, no Parque Antarctica.

E-mail jgcouto@uol.com.br


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