São Paulo, sábado, 21 de maio de 2005

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MOTOR

Sinais de entressafra

FÁBIO SEIXAS
DA REPORTAGEM LOCAL

Mônaco é o GP para ver e ser visto, diz uma máxima da F-1. No paddock improvisado no porto, executivos circulam pra lá e pra cá atrás de bons negócios, modelos desfilam ao lado de celebridades na esperança de serem clicadas, pilotos de categorias de base tentam se fazer conhecidos.
Como Heikki Kovalainen. Finlandês, 23 anos, líder da GP2, ele estava ontem em frente à catraca que dá acesso a esse mundo de fantasia. Do lado de fora, junto a torcedores e curiosos, ainda de macacão. E atendia a todos que pediam para serem fotografados ao seu lado, mesmo sabendo que aqueles novos "fãs" muito provavelmente não sabiam seu nome.
Sem credencial para superar a barreira, Kovalainen estava esperando alguém da FIA puxá-lo para o paddock, onde concederia entrevista coletiva por ter conquistado a pole para a corrida de hoje. Assim que a obrigação acabasse, porém, seria escoltado até a saída. E se reuniria aos curiosos.
Um dia talvez essa imagem precise ser resgatada. O finlandês é um dos melhores da safra, ao lado de Scott Speed e Adam Carroll. Já tem contrato com a Renault, deve colocar uma credencial de F-1 no peito em dois anos, e, sei lá, vai que um dia conquista um título...
Ontem, pelo menos, cumpriu seu papel. Foi pra pista num dia de folga para a categoria-mãe, ficou em primeiro lugar no grid, atravessou o paddock -ainda que rapidamente. Foi visto. Mais importante ainda, foi notado.
O que chamou a atenção foi o contraste com cenas registradas pouco antes, por ali mesmo.
Primeiro, Xandinho Negrão, atual campeão da F-3 sul-americana, perdeu o controle do carro na Sainte Devote, bateu, só voltou à pista no final do treino classificatório e ficou fora do limite de 107% para largar hoje. Logo depois, Nelsinho Piquet, que em 2004 faturou a F-3 inglesa, acertou em cheio o turco Can Artam, que estava lento, esquentando os pneus. Voltou a pé para os boxes, também acima do tempo limite.
Os dois pediram -e conseguiram- autorização para largar.
Para alcançar a F-1, porém, o buraco é mais embaixo. Nelsinho deve até chegar lá, tem sobrenome famoso, o pai conhece todo mundo, e o rapaz passou a quinta-feira no caminhão da Minardi. Mas o fato é que não há, no cenário, um Kovalainen, um Speed ou um Carroll brasileiros.
Pode ser coincidência. Pode ser resultado do esfacelamento das categorias nacionais de monopostos. Pode ser reflexo do boom dos campeonatos de turismo. Pode ser outro diagnóstico qualquer. Mas o sintoma que começa a se formar é de entressafra.
Barrichello deve correr mais dois ou três anos, se tanto. Massa ainda precisa desencantar. Pizzonia, Zonta e Bernoldi, hoje pilotos de testes, têm mínimas chances de serem promovidos. A disponibilidade de apenas 20 vagas no grid complica ainda mais a situação.
E, assim, ou surge um Guga do volante, um fenômeno espontâneo, um "salvador da pátria" que até agora passou despercebido, ou daqui a alguns anos não haverá um brasileiro no paddock, para ver ou ser visto. Pelo menos não do lado que interessa da catraca.

Seca
Segundo o "Tuttosport", diário esportivo da Itália, a Ferrari já cogita dispensar Barrichello. Na fase ruim, sua função de tomar pontos de adversários deixou de fazer sentido. A saída seria mandá-lo para a Red Bull, que terá os motores italianos em 2006.

Estiagem
Prestes a anunciar a compra da Sauber, a BMW quer pilotos alemães. A opção lógica para Massa, mantido na estufa pela Ferrari, seria a Red Bull. Mas se Barrichello for para lá...

Aridez
Para completar, a Toyota anunciou que Panis, e não Zonta, será seu terceiro piloto em Magny-Cours.

E-mail fseixas@folhasp.com.br


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