São Paulo, domingo, 20 de maio de 2001

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FUTEBOL

O primeiro aborto da Fifa

RODRIGO BUENO
DA REPORTAGEM LOCAL

O Mundial da Espanha de 1982 entrou para a história como a primeira Copa com 24 equipes. O Mundial de Clubes da Fifa da Espanha de 2003 deve fazer o mesmo.
A decisão de adiar o recente campeonato interclubes por dois anos demorou o mesmo tempo que a novela sobre a falência da ISL.
Independentemente dos motivos alegados pela máxima entidade do futebol para postergar o evento, a imagem da Fifa sofreu inédito golpe.
Mundiais já foram cancelados devido à Segunda Guerra Mundial, país-sede já perdeu a condição de anfitrião da Copa faltando alguns meses para o torneio, mas nada parecido com o que vimos agora já tinha acontecido.
Confederações mobilizadas, clubes definidos, sorteio realizado, patrocinadores acertados, direitos negociados, técnicos e atletas contratados, pacotes para torcedores vendidos. O foguete já tinha sido lançado.
O aborto, se podemos comparar dessa forma, foi feito no nono mês de gestação.
O Mundial de Clubes da Fifa ainda está vivo, mas respira por aparelhos. Terá que sofrer uma mutação para continuar existindo. Além de as razões apontadas pela Fifa para adiar o torneio terem que ser superadas, o que é difícil, sua fórmula terá que ser modificada.
Organizadores já trabalham com um Mundial com 24 equipes em 2003. Pela rasteira levada, os 12 clubes que jogariam neste ano não têm como ficar de fora do evento.
E, em dois anos, pelo menos mais 12 clubes terão direito técnico a jogar.
Há a possibilidade de o Barcelona, potência espanhola que não jogaria este ano, e o Corinthians, campeão da primeira edição, entrarem na disputa. Mas a possibilidade maior é de queda no nível técnico, comum em competições que são inchadas (se o melhor time da Oceania é limitado, imagine o segundo melhor).
Não é à toa que a Uefa discute retomar a antiga fórmula da Copa dos Campeões, só com times que venceram seus torneios nacionais, e que muitos entendem que a Copa Mercosul tem nível técnico superior à Libertadores (depois que a segunda foi inchada, a Mercosul virou a Superliga sul-americana).
A Fifa alega que países de times que jogariam o Mundial este ano estão com dificuldades financeiras. Em 2003, estarão também. E, com mais participantes, serão mais países em crise representados.
A Fifa fala que o Mundial prejudicaria neste ano calendários nacionais e internacionais. Em 2003, mesmo com um sonhado calendário mundial, vai atrapalhar também. E provavelmente mais, pois uma competição com 24 times pede mais jogos e quase um mês de duração, entre fase de preparação e final.
A Fifa anunciou o fim da ISL e disse que a Traffic teria dificuldade em negociar os direitos do evento neste momento. A agência de J. Hawilla tem os direitos de transmissão garantidos para as próximas três edições do Mundial de Clubes.
E sozinha, o que não acontece com outras competições organizadas pela Fifa.
Cansamos de ouvir que o que começa errado será sempre errado. Eu não penso assim, mas o Mundial de Clubes da Fifa, uma idéia acertada, vê erros desde o seu começo.

Mundial de Clubes 1
O presidente da Fifa, Joseph Blatter, ergueu a bandeira do novo torneio e tentará a reeleição em 2002. Deve ganhar, mas há chance de deixar o cargo antes da próxima edição de seu filho.

Mundial de Clubes 2
J. Hawilla, principal executivo da Traffic, vai renegociar os direitos de TV acertados com emissoras de vários países. Quem comprou a transmissão do Mundial-2000, teve preferência para adquirir o Mundial-2001. Quem adquiriu os direitos do Mundial-2001, ganhou preferência na aquisição dos direitos do Mundial-2003. Agora, já será dada preferência até para 2005.

Mundial de Clubes 3
O Mundial interclubes em Tóquio ganhou fôlego por mais dois anos. Olho vivo, portanto, na final da Copa dos Campeões entre Bayern de Munique e Valencia (se ela não for cancelada).

E-mail rbueno@folhasp.com.br



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