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FUTEBOL
O primeiro aborto da Fifa
RODRIGO BUENO
DA REPORTAGEM LOCAL
O Mundial da Espanha de
1982 entrou para a história
como a primeira Copa com 24
equipes. O Mundial de Clubes
da Fifa da Espanha de 2003 deve fazer o mesmo.
A decisão de adiar o recente
campeonato interclubes por
dois anos demorou o mesmo
tempo que a novela sobre a falência da ISL.
Independentemente dos motivos alegados pela máxima entidade do futebol para postergar o
evento, a imagem da Fifa sofreu
inédito golpe.
Mundiais já foram cancelados
devido à Segunda Guerra Mundial, país-sede já perdeu a condição de anfitrião da Copa faltando alguns meses para o torneio, mas nada parecido com o
que vimos agora já tinha acontecido.
Confederações mobilizadas,
clubes definidos, sorteio realizado, patrocinadores acertados,
direitos negociados, técnicos e
atletas contratados, pacotes para torcedores vendidos. O foguete já tinha sido lançado.
O aborto, se podemos comparar dessa forma, foi feito no nono mês de gestação.
O Mundial de Clubes da Fifa
ainda está vivo, mas respira por
aparelhos. Terá que sofrer uma
mutação para continuar existindo. Além de as razões apontadas pela Fifa para adiar o torneio terem que ser superadas, o
que é difícil, sua fórmula terá
que ser modificada.
Organizadores já trabalham
com um Mundial com 24 equipes em 2003. Pela rasteira levada, os 12 clubes que jogariam
neste ano não têm como ficar de
fora do evento.
E, em dois anos, pelo menos
mais 12 clubes terão direito técnico a jogar.
Há a possibilidade de o Barcelona, potência espanhola que
não jogaria este ano, e o Corinthians, campeão da primeira
edição, entrarem na disputa.
Mas a possibilidade maior é de
queda no nível técnico, comum
em competições que são inchadas (se o melhor time da Oceania é limitado, imagine o segundo melhor).
Não é à toa que a Uefa discute
retomar a antiga fórmula da
Copa dos Campeões, só com times que venceram seus torneios
nacionais, e que muitos entendem que a Copa Mercosul tem
nível técnico superior à Libertadores (depois que a segunda foi
inchada, a Mercosul virou a Superliga sul-americana).
A Fifa alega que países de times que jogariam o Mundial este ano estão com dificuldades financeiras. Em 2003, estarão
também. E, com mais participantes, serão mais países em crise representados.
A Fifa fala que o Mundial prejudicaria neste ano calendários
nacionais e internacionais. Em
2003, mesmo com um sonhado
calendário mundial, vai atrapalhar também. E provavelmente
mais, pois uma competição com
24 times pede mais jogos e quase
um mês de duração, entre fase
de preparação e final.
A Fifa anunciou o fim da ISL e
disse que a Traffic teria dificuldade em negociar os direitos do
evento neste momento. A agência de J. Hawilla tem os direitos
de transmissão garantidos para
as próximas três edições do
Mundial de Clubes.
E sozinha, o que não acontece
com outras competições organizadas pela Fifa.
Cansamos de ouvir que o que
começa errado será sempre errado. Eu não penso assim, mas o
Mundial de Clubes da Fifa, uma
idéia acertada, vê erros desde o
seu começo.
Mundial de Clubes 1
O presidente da Fifa, Joseph Blatter, ergueu a bandeira do novo
torneio e tentará a reeleição em 2002. Deve ganhar, mas há
chance de deixar o cargo antes da próxima edição de seu filho.
Mundial de Clubes 2
J. Hawilla, principal executivo da Traffic, vai renegociar os direitos de TV acertados com emissoras de vários países. Quem
comprou a transmissão do Mundial-2000, teve preferência para
adquirir o Mundial-2001. Quem adquiriu os direitos do Mundial-2001, ganhou preferência na aquisição dos direitos do
Mundial-2003. Agora, já será dada preferência até para 2005.
Mundial de Clubes 3
O Mundial interclubes em Tóquio ganhou fôlego por mais dois
anos. Olho vivo, portanto, na final da Copa dos Campeões entre
Bayern de Munique e Valencia (se ela não for cancelada).
E-mail rbueno@folhasp.com.br
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