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FUTEBOL
O brilho do apagão
TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA
Um pequeno mas influente
número de brasileiros representa o país dos espertos, do
fisiologismo, do consumismo, do
desperdício, da injustiça e da ditadura do entretenimento (está
substituindo a cultura).
Agora, o Brasil é também o
país do apagão. Pela falta de
planejamento, pela privatização malconduzida, pelo desperdício do governo e da população
e pelo castigo de São Pedro, viveremos, literalmente, momentos na escuridão.
Talvez o apagão nos torne
mais parcimoniosos, humildes,
cidadãos conscientes, organizados, solidários, humanos e brilhantes.
Com a proibição de jogos noturnos (se os geradores não entrarem em campo), descansaremos da mesmice das partidas,
aproveitaremos a noite para refletirmos sobre os problemas do
esporte e enxergaremos com
mais clareza e brilho.
Há muito tempo o futebol brasileiro vive na penumbra. A desorganização reflete nos gramados. O Brasil não tem mais o
melhor futebol do mundo. A Fifa e os ufanistas demoraram a
perceber.
O público abandonou os estádios por causa da violência, do
desconforto e do mau futebol.
Nove e quarenta da noite também não é hora de ir ao estádio.
Na escuridão é que surge a luz.
As CPIs estão iluminando o
caminho, mostrando o que todos suspeitavam e/ou sabiam.
Os depoimentos do presidente
da Federação Mineira, Élmer
Guilherme, do ex-presidente do
Santos Samir Abdul-Hak e do
presidente da CBF, Ricardo Teixeira, sintetizam a desorganização, as irregularidades e a incompetência no futebol brasileiro. Antes da instalação das
CPIs, o presidente da CBF percebeu que o modelo de clientelismo e amadorismo havia chegado ao fim. Como não sabe trabalhar de outra maneira, decidiu sair no final de seu mandato, em 2003.
Para impressionar, contratou
a respeitada Fundação Getúlio
Vargas para elaborar um projeto de estruturação do futebol
brasileiro. Isso daria à CBF um
atestado de seriedade e boas intenções.
Com o surgimento das CPIs e
as suspeitas de transações ilegais, era preciso fazer algo de
maior impacto. Para isso, Ricardo Teixeira associou-se ao Pelé.
Nesse "acordão" pode até estar
combinado que o Rei será o presidente de transição.
Aí apareceram novos ruídos.
Sócrates e Zico, ex-jogadores
respeitados, com cursos teóricos
e práticos de administração esportiva, entraram no páreo.
Zico é mais bem aceito pela
cartolagem. Os dirigentes
acham Sócrates muito radical.
Para eles, seria o Lula da sucessão. Os dois poderão reviver as
tabelinhas da Copa de 82.
O ministro Carlos Melles botou mais lenha na fogueira, numa entrevista ao jornal "Estado
de Minas": "Se preciso, vou intervir na CBF. Apesar de ainda
não terem terminado as investigações, o material recolhido já é
motivo de revolta".
De uma forma ou de outra, independentemente de nomes, haverá, até 2003, grandes mudanças na CBF, nas federações estaduais e nos clubes. A sociedade
não aceita mais o clientelismo e
o continuísmo.
Vivemos um momento histórico. O apagão vai iluminar o
país e o futebol.
Decisões estaduais
As decisões estaduais, em todo
o Brasil, vão empolgar os torcedores. O fato evidencia a força e
a rivalidade desses campeonatos. Nesse momento de euforia,
a maioria dos dirigentes esquece
os quatro meses de prejuízos.
O único favorito é o Corinthians contra o Botafogo de Ribeirão Preto. No Sul, Grêmio e
Atlético-PR -talvez- têm
uma ligeira vantagem sobre Juventude e Paraná, respectivamente.
Luxemburgo recuperou parte
de seu prestígio. Discordo quando não contestam a competência do treinador.
Ele foi brilhante nas outras
equipes e no Corinthians (apesar da escalação do Paulo Nunes), mas foi incompetente na
seleção. Deu muitas caneladas
dentro e fora de campo. Nos
grandes desafios é que o craque
mostra que é craque.
Por falar em Luxemburgo, o
ponto eletrônico utilizado pelo
treinador na partida contra o
Santos foi uma inovação tecnológica interessante e surpreendente, mas ilegal.
Disseram que o técnico falou,
no ponto, para o Ricardinho gritar ao Marcelinho que deixasse
a bola passar para ele fazer o
gol. Isso é demais! Ninguém é
idiota.
No Rio, talvez haja equilíbrio
técnico. O Vasco tem mais talento no ataque, mas os zagueiros do Flamengo são melhores.
Romário e Gamarra podem ficar fora. As outras posições se
equivalem. No túnel, o Mengo
leva vantagem.
Nos últimos dois anos, o Vasco
era o grande favorito e perdeu.
Hoje, seus jogadores provavelmente estarão mais humildes.
No Flamengo pode acontecer o
contrário. O fato de ter um time
de melhor qualidade em relação
ao de anos anteriores pode diminuir a garra da equipe.
São apenas impressões. Só saberemos a verdade quando a
bola rolar. O futebol e a mente
humana têm razões e histórias
próprias, independentemente
da lógica e do pretenso conhecimento de um cronista.
E-mail
tostao.folha@uol.com.br
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