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UM DIA NA VIDA BOTAFOGUENSE...
...é sorrir para as câmeras e sonhar
DOS ENVIADOS A RIBEIRÃO PRETO
A calmaria da tarde de maio interiorana contrasta com a agitação de jornalistas, curiosos, fãs
apaixonados e dirigentes que povoam o estádio Santa Cruz.
Uma luz outonal deixa mais
verde o gramado e ainda mais vivo o vermelho das arquibancadas
de cimento.
Os jogadores do Botafogo sobem as escadas que dão acesso do
vestiário ao campo. Correm como
se estivessem próximos do apito
inicial. Mas não há jogo.
Se apresentam na verdade para
câmeras e olhares que nos últimos
três meses -ou mesmo anos-
estiveram apenas na imaginação.
As entrevistas ensaiadas na
frente do espelho em noites de
concentração podem enfim ser
concedidas. O Botafogo está na final do Campeonato Paulista.
Lori Sandri, técnico do time,
gaúcho de 52 anos e frases contidas, compreende e se integra ao
sentimento dos atletas. Diz que o
treino só começará em 30 minutos, tempo suficiente para a imprensa enchê-los de perguntas.
"Esse é o Doni?", pergunta um
repórter. "Não, é o Chris", cochicha o outro. A senha está dada.
"Chris, você que vem sendo um
dos destaques do time, se pudesse
mudar alguma coisa no mundo, o
que faria?" "Acabaria com a fome
e a miséria, tenho vontade de ver
um mundo melhor", responde o
jogador, que emenda em seguida
a história de sua experiência profissional em Glasgow, na Escócia.
"Poderia fotografar sua tatuagem? Fale um pouco sobre ela",
aproveita um repórter fotográfico. Chris segue em frente. Enquanto arregaça a manga da camisa para mostrar o desenho que
carrega no braço discorre sobre
temas que vão de sua vida pessoal
à geopolítica européia.
Soa o apito do preparador físico, e os jogadores se afastam, calmamente, dos repórteres. Correm, fazem poses, abrem largos
sorrisos, satisfeitos.
Um motorista de táxi diz que
nunca havia visto uma sexta-feira
assim no estádio Santa Cruz. "Já
começou a festa?", pergunta ele.
Ao final das entrevistas sobra
tempo para pedir ao repórter a fita com o gol do final de semana ou
a foto publicada no jornal.
De repente, os fotógrafos miram a arquibancada aparentemente vazia. Vê-se então um torcedor de joelhos, vencendo degrau por degrau, em subida lenta
e angustiante. "Fiz promessa para
o Botafogo chegar à final, tenho
que pagar", diz o rapaz suado.
Sandri decreta o fim do treino.
O enxame de repórteres corre novamente em cima dos jogadores.
Eles, mesmo cansados, atendem
de maneira solícita, fazem cera
para entrar nos vestiários.
Minutos depois, banho tomado,
mala na mão, estarão no hotel
concentrados, sem contato com
jornalistas, torcedores e até familiares. Vão sonhar com novas entrevistas, voltas olímpicas e polpudos contratos.
(JAB e RP)
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