São Paulo, domingo, 20 de maio de 2001

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

UM DIA NA VIDA BOTAFOGUENSE...

...é sorrir para as câmeras e sonhar

DOS ENVIADOS A RIBEIRÃO PRETO

A calmaria da tarde de maio interiorana contrasta com a agitação de jornalistas, curiosos, fãs apaixonados e dirigentes que povoam o estádio Santa Cruz.
Uma luz outonal deixa mais verde o gramado e ainda mais vivo o vermelho das arquibancadas de cimento.
Os jogadores do Botafogo sobem as escadas que dão acesso do vestiário ao campo. Correm como se estivessem próximos do apito inicial. Mas não há jogo.
Se apresentam na verdade para câmeras e olhares que nos últimos três meses -ou mesmo anos- estiveram apenas na imaginação.
As entrevistas ensaiadas na frente do espelho em noites de concentração podem enfim ser concedidas. O Botafogo está na final do Campeonato Paulista.
Lori Sandri, técnico do time, gaúcho de 52 anos e frases contidas, compreende e se integra ao sentimento dos atletas. Diz que o treino só começará em 30 minutos, tempo suficiente para a imprensa enchê-los de perguntas.
"Esse é o Doni?", pergunta um repórter. "Não, é o Chris", cochicha o outro. A senha está dada.
"Chris, você que vem sendo um dos destaques do time, se pudesse mudar alguma coisa no mundo, o que faria?" "Acabaria com a fome e a miséria, tenho vontade de ver um mundo melhor", responde o jogador, que emenda em seguida a história de sua experiência profissional em Glasgow, na Escócia.
"Poderia fotografar sua tatuagem? Fale um pouco sobre ela", aproveita um repórter fotográfico. Chris segue em frente. Enquanto arregaça a manga da camisa para mostrar o desenho que carrega no braço discorre sobre temas que vão de sua vida pessoal à geopolítica européia.
Soa o apito do preparador físico, e os jogadores se afastam, calmamente, dos repórteres. Correm, fazem poses, abrem largos sorrisos, satisfeitos.
Um motorista de táxi diz que nunca havia visto uma sexta-feira assim no estádio Santa Cruz. "Já começou a festa?", pergunta ele.
Ao final das entrevistas sobra tempo para pedir ao repórter a fita com o gol do final de semana ou a foto publicada no jornal.
De repente, os fotógrafos miram a arquibancada aparentemente vazia. Vê-se então um torcedor de joelhos, vencendo degrau por degrau, em subida lenta e angustiante. "Fiz promessa para o Botafogo chegar à final, tenho que pagar", diz o rapaz suado.
Sandri decreta o fim do treino. O enxame de repórteres corre novamente em cima dos jogadores. Eles, mesmo cansados, atendem de maneira solícita, fazem cera para entrar nos vestiários.
Minutos depois, banho tomado, mala na mão, estarão no hotel concentrados, sem contato com jornalistas, torcedores e até familiares. Vão sonhar com novas entrevistas, voltas olímpicas e polpudos contratos. (JAB e RP)



Texto Anterior: O abismo da final
Próximo Texto: Um dia na vida Corintiana...: ...tem oração, celular e necessaire
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.