São Paulo, domingo, 20 de maio de 2001

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Salários, conquistas, experiência, fama e sonhos criam vale entre os finalistas do primeiro Paulista do milênio

O abismo da final

DA REPORTAGEM LOCAL

Na época da economia globalizada, do império dos investidores e do ocaso do romantismo no futebol, a final do Paulista revive a luta de classes do século 19.
De um lado, o Corinthians, do fundo de investimento norte-americano HMTF, da multinacional Pepsi, dos astros milionários de seleção brasileira, das conquistas e do Clube dos 13.
Do outro, o Botafogo, do patrocinador regional, dos salários enxutos, dos boleiros em busca de fama, da torcida em busca de títulos e do Clube Brasil -primo pobre do Clube dos 13.
Desde 1989, quando o São Paulo enfrentou na final o pequeno São José, o principal Estadual do país não via uma decisão com tantas disparidades.
O abismo que separa Botafogo e Corinthians lembra a realidade socioeconômica do país, com uma minoria privilegiada sob os holofotes e uma multidão de pobres buscando virar emergente.
Como em outras esferas da sociedade, a disputa por uma glória em igualdade de condições é incomum no futebol brasileiro.
O Paulista, por exemplo, foi dominado nos últimos 60 anos por uma casta de quatro clubes, da qual o Corinthians é o maior expoente, pelo menos no que diz respeito a títulos. O time do Parque São Jorge conquistou 23 Estaduais. O Botafogo chega hoje à sua primeira final.
O decantado favoritismo do Corinthians, time que chegou a estar em penúltimo lugar no Paulista e, após a contratação de Wanderley Luxemburgo, deu uma guinada na tabela, será o combustível dos jogadores do Botafogo hoje.
O lateral Gustavo, do time de Ribeirão Preto, ganha R$ 450 por mês, mora com os pais e tem como sonho ganhar dinheiro para ajudá-los -algo que, para Marcelinho, R$ 120 mil mensais, soa como uma lembrança remota.
Esse é o alento de Lori Sandri e seus comandados. Dentro de campo, os botafoguenses acreditam que podem "comer mais grama" que os adversários.
"Nós sabemos que o Botafogo é uma equipe jovem, motivada e que busca um lugar ao sol. Por isso, precisamos nos precaver", afirma o goleiro Maurício, repetindo a cantilena de humildade que parte dos corintianos vem desfiando nos últimos dias.
As ambições profissionais embutidas na conquista do Estadual variam conforme o finalista. No Botafogo, o título representaria o maior feito -nenhum atleta do grupo ganhou um Paulista.
Os corintianos, ao contrário, têm, só no time titular, seis jogadores que já venceram o torneio.
Enquanto a meta de trabalho mais imediata dos botafoguenses é a transferência para uma equipe de renome nacional, a maioria dos finalistas do Corinthians mira dois objetivos a curto prazo: o futebol do exterior e a seleção.



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