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Salários, conquistas, experiência, fama e sonhos criam
vale entre os finalistas do primeiro Paulista do milênio
O abismo da final
DA REPORTAGEM LOCAL
Na época da economia globalizada, do império dos investidores
e do ocaso do romantismo no futebol, a final do Paulista revive a
luta de classes do século 19.
De um lado, o Corinthians, do
fundo de investimento norte-americano HMTF, da multinacional Pepsi, dos astros milionários
de seleção brasileira, das conquistas e do Clube dos 13.
Do outro, o Botafogo, do patrocinador regional, dos salários enxutos, dos boleiros em busca de
fama, da torcida em busca de títulos e do Clube Brasil -primo pobre do Clube dos 13.
Desde 1989, quando o São Paulo
enfrentou na final o pequeno São
José, o principal Estadual do país
não via uma decisão com tantas
disparidades.
O abismo que separa Botafogo e
Corinthians lembra a realidade
socioeconômica do país, com
uma minoria privilegiada sob os
holofotes e uma multidão de pobres buscando virar emergente.
Como em outras esferas da sociedade, a disputa por uma glória
em igualdade de condições é incomum no futebol brasileiro.
O Paulista, por exemplo, foi dominado nos últimos 60 anos por
uma casta de quatro clubes, da
qual o Corinthians é o maior expoente, pelo menos no que diz
respeito a títulos. O time do Parque São Jorge conquistou 23 Estaduais. O Botafogo chega hoje à
sua primeira final.
O decantado favoritismo do Corinthians, time que chegou a estar
em penúltimo lugar no Paulista e,
após a contratação de Wanderley
Luxemburgo, deu uma guinada
na tabela, será o combustível dos
jogadores do Botafogo hoje.
O lateral Gustavo, do time de Ribeirão Preto, ganha R$ 450 por
mês, mora com os pais e tem como sonho ganhar dinheiro para
ajudá-los -algo que, para Marcelinho, R$ 120 mil mensais, soa
como uma lembrança remota.
Esse é o alento de Lori Sandri e
seus comandados. Dentro de
campo, os botafoguenses acreditam que podem "comer mais grama" que os adversários.
"Nós sabemos que o Botafogo é
uma equipe jovem, motivada e
que busca um lugar ao sol. Por isso, precisamos nos precaver",
afirma o goleiro Maurício, repetindo a cantilena de humildade
que parte dos corintianos vem
desfiando nos últimos dias.
As ambições profissionais embutidas na conquista do Estadual
variam conforme o finalista. No
Botafogo, o título representaria o
maior feito -nenhum atleta do
grupo ganhou um Paulista.
Os corintianos, ao contrário,
têm, só no time titular, seis jogadores que já venceram o torneio.
Enquanto a meta de trabalho
mais imediata dos botafoguenses
é a transferência para uma equipe
de renome nacional, a maioria
dos finalistas do Corinthians mira
dois objetivos a curto prazo: o futebol do exterior e a seleção.
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