São Paulo, domingo, 20 de maio de 2001

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

FUTEBOL

Clube se vê obrigado a investir nas categorias de base e a caçar patrocínio por não ter como faturar com jogadores

Sem passe, Botafogo precisa ser moderno

JOSÉ ALBERTO BOMBIG
RICARDO PERRONE


ENVIADOS ESPECIAIS A RIBEIRÃO PRETO

O Botafogo pode até não conquistar o título do Paulista deste ano, mas poderá sair da decisão como um clube revolucionário, menos por opção ideológica e mais por contingência.
Se quiser crescer a partir da final inédita em sua história, o clube de Ribeirão Preto, com quase R$ 22 milhões de dívida, terá que consultar a cartilha dos "gurus" que bradaram nos últimos anos pelo fim do passe, pois o desmanche inevitável do time não renderá bons dividendos. Até então, vinha sendo regra: clube pequeno que chega à final, vende todo o time para ganhar dinheiro.
Só que pelo menos seis dos principais atletas do Botafogo têm passe livre e querem sair após a final. Nesses casos, o clube nada recebe pelos negócios.
Diz a cartilha do futebol moderno que as novas fontes de receita dos clubes têm que vir da TV, da bilheteria, da venda de produtos licenciados e dos acordos de patrocínio e parceria.
A diretoria do clube luta para obter com a final bons contratos de patrocínio para o Brasileiro, onde o risco de rebaixamento é grande, já que quatro times cairão para a segunda divisão.
Os contratos dos jogadores que possuem passe livre terminaram antes mesmo da semifinal, mas, diante da classificação surpreendente, a diretoria botafoguense os prorrogou até o final deste mês.
E depois?
"Não gosto de falar sobre o futuro antes da final, mas é claro que tenho pretensão de jogar em uma equipe grande", diz o atacante Robert, que, mesmo aos 20 anos, tem passe livre.
Na mesma condição estão o zagueiro Chris, o lateral Jadílson, o volante Douglas, o zagueiro Augusto e o meia Robson Nesse, todos destaques do time.
Robert, um dos artilheiros do Botafogo (seis gols), conseguiu o passe na Justiça após disputa com o Coritiba, do Paraná. A liberdade veio em janeiro, portanto antes da lei que pôs fim ao passe, baixada por medida provisória em março.
A medida manteve os direitos dos clubes sobre os passes apenas no caso de jogadores formados nas categorias de base.
Para contratos firmados antes de março último, ainda não há consenso no que diz respeito ao direito de o clube obter recursos com a venda dos atletas.
"Daqui pra frente, só vai ganhar com venda de passe quem tiver estrutura e investir na base. É isso que eu digo para o Botafogo fazer, investir em centro de treinamento, caso contrário, disputa o título neste ano e cai no ano que vem", disse o técnico Lori Sandri.
Quase todos os demais "libertos" botafoguenses estão em situação parecida ou igual a do atacante Robert. Chris também ganhou o passe em disputa jurídica e pode voltar a jogar na Escócia, já que o Glasgow Rangers tem a preferência para comprar seu passe, avaliado em US$ 1 milhão.
O presidente do clube, Ricardo Cristiano Ribeiro, disse torcer para que algum jogador que tenha o seu passe preso ao Botafogo se destaque nas finais, o que poderia atrair compradores, antes que o contrato termine.
Esse é o caso do goleiro Doni, que tem compromisso até o fim do ano. "O clube sempre investiu na gente pensando em fazer dinheiro. Não quero sair como um bandido, sem deixar que o Botafogo tenha retorno com a minha saída", afirmou o jogador.



Texto Anterior: Isto é Corinthians
Próximo Texto: O personagem: Reserva torna goleiro expert em decisões
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.