São Paulo, segunda-feira, 16 de dezembro de 2002

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FUTEBOL

Final feliz

JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA

Uma grande final para consagrar um grande campeão.
Foi isso o que se viu na tarde de ontem no Morumbi.
Quem imaginava uma partida truncada e descolorida se enganou completamente.
Houve muitos gols, reviravoltas no placar, defesas milagrosas, jogadas espetaculares.
Foi uma verdadeira celebração do futebol, enfim.
O Santos foi campeão porque, na fase decisiva do campeonato, soube combinar marcação e ofensividade, futebol solidário e talento individual.
O time parece ter amadurecido e crescido no momento certo.
Sua vitória sobre o São Paulo, nas quartas-de-final, foi simbólica: suplantou a equipe que chegou ao ápice antes da hora.
Dali para a frente, foi só alegria.
Ontem, o time não foi tão perfeito quanto na primeira partida da final (o que deu chance para o Corinthians ganhar força), mas dois de seus jogadores estavam em estado de graça e fizeram a diferença: o milagroso Fábio Costa e o endiabrado Robinho.
Se não fosse a defesa extraordinária do goleiro santista no primeiro minuto de jogo, quando o time sofria o baque da contusão de Diego, talvez a história da final fosse diferente.
Depois disso, ele defendeu mais quatro ou cinco outras bolas ""impossíveis".
Robinho, por sua vez, desmontou a defesa corintiana com seus dribles desconcertantes e com a mera ameaça de sua presença.
O garoto nasceu com estrela.
Para ser considerado craque, um bom jogador depende de regularidade e de títulos, mas depende também de brilhar no momento certo.
Com a saída de Diego, todos os olhos do país estavam fixos no jovem atacante -e ele brindou a todos com um futebol leve e feliz como uma molecagem de rua.
O torcedor corintiano, por sua vez, se reencontrou com sua vocação sofredora.
Viu o time ser ferido no primeiro tempo, soube reerguê-lo com seus gritos e sua energia, assistiu à virada sensacional, voltou a ter esperança e tomou por fim a ducha de água fria do gol de empate santista, sacramentado depois pelo tiro de misericórdia de Léo.
Penso que, tudo somado, foi um jogo abençoado, do qual santistas e corintianos podem se orgulhar.
Os primeiros, porque conquistaram com méritos um título esperado há quase duas décadas.
Os últimos, porque seu time mostrou força e disposição, vendendo muito caro a derrota.
Encerrado com fecho de ouro o campeonato nacional de 2002, ficam no ar algumas dúvidas para o ano que vem.
O torcedor santista quer saber se o clube vai conseguir manter seus jovens craques na equipe para enfrentar os grandes desafios que tem pela frente, sendo o principal deles a Taça Libertadores da América.
O corintiano sente a necessidade de reforçar a equipe, sobretudo com jogadores de criatividade no meio-de-campo, onde havia fartura algum tempo atrás (Ricardinho, Marcelinho, Rincón).
Com relação ao campeonato em si, a dúvida é quanto à fórmula a ser adotada. Turno e returno? Pontos corridos? Mata-mata (neste caso, a partir de que fase)?
Conforme publicado na edição desta Folha de ontem, deverá prevalecer no ano que vem um Campeonato Brasileiro em turno e returno coroado com um mata-mata, provavelmente a partir da fase de semifinais.

Ainda o racismo
A coluna de anteontem, sobre racismo, provocou fortes reações. Foram tantas as mensagens (a favor e contra) que não consegui responder a cada uma delas individualmente. Os protestos mais pertinentes são contra o fato de eu ter assumido como verdade a ofensa racista denunciada por jogadores corintianos. Talvez eu tenha mesmo me precipitado. É a palavra do atleta santista Diego contra a de três jogadores do Corinthians (Deivid, Renato e Kléber). Nunca teremos certeza do que realmente ocorreu. Mas discordo radicalmente dos que disseram que xingamentos desse tipo devem ser relevados porque são corriqueiros dentro do campo de futebol. Se são, não deveriam ser. É corriqueiro também impedir empregados de usarem o elevador dito social. Há quem queria manter a situação assim. Não contem comigo.

E-mail:jgcouto@uol.com.br


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