São Paulo, sábado, 12 de fevereiro de 2000


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Esporte digital


No skysurfe, em que um brasileiro hoje é o 3� do mundo, o competidor só pode ser avaliado porque há alguém para filmá-lo


JOÃO CARLOS BOTELHO
da Reportagem Local

Imagine um esporte em que o registro em imagens digitais é tão importante quanto a performance do atleta. Pode parecer algo um pouco futurista, mas ele existe e tem hoje um brasileiro em terceiro no ranking mundial.
Modalidade pouco conhecida, o skysurfe pode ser considerado um esporte único. Nele, por exemplo, ter a melhor performance numa competição não é sinônimo de título.
O atleta pode ter feito as manobras com maior grau de dificuldade, mas se não houver um cinegrafista para registrar, e bem, não há como os juízes avaliarem.
O skysurfe é uma modalidade em que o salto de pára-quedas é executado com uma prancha similar à do snowboarding presa aos pés. As evoluções são feitas durante a queda-livre.
Junto com o atleta, salta um cinegrafista, com a câmera parafusada ao seu capacete e que tem a função de registrar tudo.
Além de saber filmar bem, por causa das circunstâncias em que trabalha e porque as imagens precisam ter qualidade, o cinegrafista ainda tem de ser um pára-quedista experiente, para conseguir acompanhar todas as evoluções durante o salto.
Sem o material filmado, os juízes não têm como avaliar a performance dos skysurfers. E mais: a qualidade das imagens feitas também conta no julgamento.
O responsável pelas filmagens é tão importante que o competidor dos campeonatos é a dupla, e não apenas quem salta com a prancha presa aos pés. Até as premiações dos torneios são divididas igualmente entre os dois.
Com isso, um bom cinegrafista é disputado pelos principais atletas. No skysurfe brasileiro, o mais respeitado deles é conhecido por um nome de pássaro, Sabiá.
Em dupla com o norte-americano Dave Briggs, Luiz Henrique dos Santos, o Sabiá, ocupa atualmente o terceiro lugar no Circuito Mundial, que é classificatório para os X-Games, da rede de televisão ESPN, considerada a principal competição da modalidade.
Sabiá também já foi quinto na edição de 1997 dos Jogos, em dupla com o suíço Dani Hainziker. Hoje, o brasileiro se reveza em saltos com Briggs e com o dublê de atleta e apresentador de TV, Luiz Roberto de Moraes, o Formiga.
Quando começou a filmar para o skysurfe, Sabiá já tinha mais de 2.500 saltos como pára-quedista. Perguntado se não tem vontade de mudar de lado, ele diz que prefere continuar como está. "Prefiro muito mais filmar", conta.
A dupla brasileira define o cinegrafista como metade do skysurfe. ""Posso fazer as melhores manobras, mas, se não for registrado, não vale nada", resume Formiga.
Em seus saltos, ele é filmado por uma minicâmera (""do tamanho de dois maços de cigarro") digital de última geração, avaliada em cerca de US$ 2.500.
Além do equipamento do cinegrafista, o atleta ainda costuma saltar com outra câmera presa em seu próprio capacete. ""Eu filmo o Sabiá e ele me filma", conta.
A manutenção e a qualidade do que é usado também têm importância. Se, durante a performance do skysurfer nos X-Games, houver algum problema de filmagem, como o equipamento falhar, o atleta não pode repetir o salto.
""No Circuito Mundial pode, mas só se for provado que houve alguma falha técnica", diz Sabiá. ""Mas para evitar riscos, salto com duas câmeras no capacete."
Ao avaliarem as duplas, os juízes levam em conta a sincronia, a qualidade das imagens e a técnica do atleta. No segundo item, o cinegrafista ainda pode contribuir com ângulos de filmagem inusitados. Sabiá dá um exemplo: ""Girar em torno do atleta cria uma ilusão de velocidade maior".


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