São Paulo, sábado, 12 de fevereiro de 2000


Envie esta notícia por e-mail para
assinantes do UOL ou da Folha
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

FUTEBOL
Quando a cobra pica o domador

JOSÉ GERALDO COUTO

Nem bem saiu Rincón, agora é Vampeta que prepara as malas para deixar o Parque São Jorge. Se sua transferência a um clube europeu se concretizar, é provável que a torcida corintiana fique magoada, mas dificilmente o chamará de "mercenário", como fez com Rincón.
A explicação é simples: Vampeta, se for, vai para longe, jogar num time e num campeonato que não nos despertam paixões. Rincón, ao contrário, só desceu a serra do Mar. E para vestir a camisa de um dos maiores rivais do Corinthians, o Santos, principal responsável, na "era Pelé", pelos 23 anos de fila do Timão (sem falar do "tabu" de 11 anos sem vitórias sobre o Peixe).
Uma passagem intermediária pela Europa ou pelo Japão sempre suaviza as "traições" dos jogadores à torcida. Foi o caso, por exemplo, de Viola, que, depois de sair do Corinthians, fez escala (desastrosa, ao que parece) na Espanha, antes de aportar no Parque Antarctica.
Mas o fato é que, depois do desmanche do Palmeiras, estamos presenciando o desmanche do Corinthians. A mola-mestra do time, o meio-campo, principal responsável pela conquista do bicampeonato do Brasileiro, está sendo desmontada.
Se o Corinthians quiser continuar no topo, precisará "repor as peças", como se costuma dizer, de modo um tanto frio.
O problema é exatamente esse: como substituir volantes técnicos e polivalentes, como Rincón e Vampeta? No Brasil, salvo engano, não os há (Alexandre, do São Paulo, é uma promessa cercada de contusões por todos os lados). Seria preciso buscar os substitutos em outros países: Redondo, Seedorf, sei lá.
Acontece que, mesmo com a capitalização do Corinthians (e de parte do futebol brasileiro), ainda não existe por aqui cacife suficiente para trazer estrelas dessa grandeza.
O mais provável, em vista disso, é que o Corinthians continue sendo um bom time, mas um time "normal", ou seja, mais parecido com os outros.
  Na queda-de-braço entre a CBF e os grandes clubes espanhóis, que não querem liberar Rivaldo e Roberto Carlos para uma partida amistosa da seleção brasileira, fico com os clubes.
Não me venham, galvãobuenamente, falar de pátria em chuteiras a propósito de um jogo contra a Tailândia, que parece ter sido marcado com o único objetivo de fazer propaganda da Nike e da candidatura brasileira para a sede da Copa do Mundo de 2006.
Também, para os jogadores, é evidente que o clássico Real Madrid x Barcelona -no meio de um campeonato disputadíssimo, e sob todos os holofotes da mídia- é muito mais importante do que um despropositado jogo de exibição no fim do mundo.
  Na coluna de segunda-feira, classifiquei de antiesportiva e antiprofissional a atitude de Edmundo, ao fugir do jogo entre Palmeiras e Vasco, pelo Rio-São Paulo. Depois de ver na TV a bombástica entrevista do jogador sobre o episódio, sou obrigado a matizar o comentário.
Não que a fuga de Edmundo possa ser justificada. Continua sendo um gesto de desrespeito ao clube e aos torcedores que pagaram ingresso, entre outras cosias, para vê-lo jogar.
Mas as declarações do craque -e as reportagens que se seguiram na imprensa- deixaram tão evidente a armação do Vasco que, no mínimo, há que se dividir o vexame entre Edmundo e o todo-poderoso Eurico Miranda.
Hoje parece claro que o Vasco estava querendo "fritar" Edmundo desde o final de 1999. A contratação de Romário seria a gota d'água que levaria o Animal a se enfurecer e roer a corda, numa saída favorável ao clube e desfavorável a ele. Como Edmundo não se tocou e permaneceu no time, foi necessário apelar para uma provocação mais explícita, a promoção de Romário a capitão.
Seria, aparentemente, uma frivolidade, mas os dirigentes vascaínos conhecem Edmundo como ninguém (afinal, a "cobra" foi criada em São Januário) e sabiam que ele explodiria. Só não contavam com a lavação de roupa suja em público.
Agora, é briga de gente grande.

E-mail jgcouto@uol.com.br


José Geraldo Couto escreve aos sábados e às segundas-feiras

Texto Anterior: Paisagem faz o medo desaparecer
Próximo Texto: Esporte digital
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.