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FUTEBOL
Quando a cobra pica o domador
JOSÉ GERALDO COUTO
Nem bem saiu Rincón, agora é
Vampeta que prepara as malas
para deixar o Parque São Jorge. Se
sua transferência a um clube europeu se concretizar, é provável
que a torcida corintiana fique
magoada, mas dificilmente o chamará de "mercenário", como fez
com Rincón.
A explicação é simples: Vampeta, se for, vai para longe, jogar
num time e num campeonato que
não nos despertam paixões. Rincón, ao contrário, só desceu a serra do Mar. E para vestir a camisa
de um dos maiores rivais do Corinthians, o Santos, principal responsável, na "era Pelé", pelos 23
anos de fila do Timão (sem falar
do "tabu" de 11 anos sem vitórias
sobre o Peixe).
Uma passagem intermediária
pela Europa ou pelo Japão sempre
suaviza as "traições" dos jogadores à torcida. Foi o caso, por exemplo, de Viola, que, depois de sair
do Corinthians, fez escala (desastrosa, ao que parece) na Espanha,
antes de aportar no Parque Antarctica.
Mas o fato é que, depois do desmanche do Palmeiras, estamos
presenciando o desmanche do Corinthians. A mola-mestra do time,
o meio-campo, principal responsável pela conquista do bicampeonato do Brasileiro, está sendo desmontada.
Se o Corinthians quiser continuar no topo, precisará "repor as
peças", como se costuma dizer, de
modo um tanto frio.
O problema é exatamente esse:
como substituir volantes técnicos
e polivalentes, como Rincón e
Vampeta? No Brasil, salvo engano, não os há (Alexandre, do São
Paulo, é uma promessa cercada
de contusões por todos os lados).
Seria preciso buscar os substitutos
em outros países: Redondo, Seedorf, sei lá.
Acontece que, mesmo com a capitalização do Corinthians (e de
parte do futebol brasileiro), ainda
não existe por aqui cacife suficiente para trazer estrelas dessa grandeza.
O mais provável, em vista disso,
é que o Corinthians continue sendo um bom time, mas um time
"normal", ou seja, mais parecido
com os outros.
Na queda-de-braço entre a CBF
e os grandes clubes espanhóis, que
não querem liberar Rivaldo e Roberto Carlos para uma partida
amistosa da seleção brasileira, fico com os clubes.
Não me venham, galvãobuenamente, falar de pátria em chuteiras a propósito de um jogo contra
a Tailândia, que parece ter sido
marcado com o único objetivo de
fazer propaganda da Nike e da
candidatura brasileira para a sede da Copa do Mundo de 2006.
Também, para os jogadores, é
evidente que o clássico Real Madrid x Barcelona -no meio de
um campeonato disputadíssimo,
e sob todos os holofotes da mídia- é muito mais importante
do que um despropositado jogo de
exibição no fim do mundo.
Na coluna de segunda-feira,
classifiquei de antiesportiva e antiprofissional a atitude de Edmundo, ao fugir do jogo entre Palmeiras e Vasco, pelo Rio-São Paulo. Depois de ver na TV a bombástica entrevista do jogador sobre o
episódio, sou obrigado a matizar
o comentário.
Não que a fuga de Edmundo
possa ser justificada. Continua
sendo um gesto de desrespeito ao
clube e aos torcedores que pagaram ingresso, entre outras cosias,
para vê-lo jogar.
Mas as declarações do craque
-e as reportagens que se seguiram na imprensa- deixaram tão
evidente a armação do Vasco que,
no mínimo, há que se dividir o vexame entre Edmundo e o todo-poderoso Eurico Miranda.
Hoje parece claro que o Vasco
estava querendo "fritar" Edmundo desde o final de 1999. A contratação de Romário seria a gota d'água que levaria o Animal a se enfurecer e roer a corda, numa saída
favorável ao clube e desfavorável
a ele. Como Edmundo não se tocou e permaneceu no time, foi necessário apelar para uma provocação mais explícita, a promoção
de Romário a capitão.
Seria, aparentemente, uma frivolidade, mas os dirigentes vascaínos conhecem Edmundo como
ninguém (afinal, a "cobra" foi
criada em São Januário) e sabiam
que ele explodiria. Só não contavam com a lavação de roupa suja
em público.
Agora, é briga de gente grande.
E-mail jgcouto@uol.com.br
José Geraldo Couto escreve aos sábados e
às segundas-feiras
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