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FUTEBOL
Ricardo Teixeira faz lobby para evitar investigação na entidade
CBF leva contrato com
"buracos" ao Congresso
MARCELO DAMATO
da Reportagem Local
Os anexos do contrato CBF-Nike levados ao Congresso pelo presidente da CBF, Ricardo Teixeira,
para tentar impedir a instalação
de uma CPI sobre o contrato lançaram mais dúvidas do que esclarecimentos sobre seu alcance.
Teixeira, aproveitando sua presença para falar sobre a medida
provisória que altera a Lei Pelé
(MP do Bingo), fez lobby para evitar a instalação da CPI, pedida pelo deputado federal Aldo Rebelo
(PC do B-SP).
Para convencer senadores e deputados de que o contrato CBF-Nike não fere a soberania da entidade que preside, Teixeira distribuiu cópias do contrato, divulgado pela primeira vez pela Folha
em janeiro do ano passado, e de
seus anexos, que permaneciam
guardados até então.
O anexo que mais provoca dúvidas é um contrato entre a Traffic, empresa que cuida do marketing da CBF, e a empresa inglesa
Wysiwyg, para a transferência de
direitos de exploração de propriedades da CBF, como seu escudo,
fotos oficiais e nome.
O primeiro ponto obscuro é a
data do contrato: 1� de março de
1995, mais de um ano e meio antes da assinatura do contrato
CBF-Nike. Não fica claro qual é a
relação desse contrato com o assinado pela Nike.
Mas o que chama mais a atenção é que o valor do contrato entre essas duas empresas, isto é, o
que a Traffic vai ganhar com o negócio, está em branco.
Como Teixeira apresentou apenas uma cópia xerox do documento, não é possível saber se o
valor jamais foi preenchido, tratando-se aí de uma minuta de
contrato, ou se ele foi apagado
propositalmente. Pelo fato de o
documento estar totalmente rubricado, a segunda hipótese é a
mais provável.
Outro item do contrato provoca
reação, mas pelo lado cômico.
Uma das propriedades cujo uso
foi cedido pela Traffic a Wysiwyg
é a palavra ""Brasil" como se fosse
de sua propriedade.
Em outro anexo, deveria estar
especificada a quantidade de cada
tipo de material esportivo (camisas de jogo, de treino, calções,
meiões, agasalhos, ataduras etc.)
que cabe à Nike entregar à CBF
durante os anos do contrato (dez,
de 1987 a 1996). Mas o quadro que
deveria conter os números também está em branco.
Por fim, na lista das propriedades da CBF, está relacionado o
Código Brasileiro Disciplinar do
Futebol (CBDF), que não pertence à entidade. O CBDF é uma portaria ministerial, que a CBF deve
apenas obedecer.
Uma alteração ilegal no código
promovido pela entidade em
1997, a mudança do artigo que
trata das punições para o clube
que usar um jogador inscrito irregularmente, é, aliás, a causa da
disputa jurídica entre o Gama e a
entidade, que ameaça até paralisar a Copa do Brasil.
Se a Confederação Brasileira de
Futebol tivesse respeitado o texto
original do artigo, o Botafogo-RJ
não teria ganho os pontos de um
jogo do Campeonato Brasileiro
de 1999 contra o São Paulo (que
havia usado o atacante Sandro
Hiroshi em situação irregular) e
assim o Gama não teria sido rebaixado para a Série B.
A entrega dos anexos não demoveu o deputado Aldo Rebelo
da idéia de seguir adiante com a
tentativa de instalação da CPI. Rebelo percebeu as lacunas nos documentos.
A Folha tentou localizá-lo ontem, mas não conseguiu falar com
ele até o fechamento desta edição.
Mesmo que a CPI pedida por
Rebelo não saia, embora ela esteja
virtualmente assegurada por causa do regimento, Teixeira não estará livre de uma investigação. O
senador José Roberto Arruda
(PSDB-DF), torcedor do Gama,
também quer investigar a entidade. Anteontem, ele se recusou a
receber Teixeira em seu gabinete.
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