São Paulo, sábado, 12 de fevereiro de 2000


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FUTEBOL
Ricardo Teixeira faz lobby para evitar investigação na entidade
CBF leva contrato com "buracos" ao Congresso

MARCELO DAMATO
da Reportagem Local

Os anexos do contrato CBF-Nike levados ao Congresso pelo presidente da CBF, Ricardo Teixeira, para tentar impedir a instalação de uma CPI sobre o contrato lançaram mais dúvidas do que esclarecimentos sobre seu alcance.
Teixeira, aproveitando sua presença para falar sobre a medida provisória que altera a Lei Pelé (MP do Bingo), fez lobby para evitar a instalação da CPI, pedida pelo deputado federal Aldo Rebelo (PC do B-SP).
Para convencer senadores e deputados de que o contrato CBF-Nike não fere a soberania da entidade que preside, Teixeira distribuiu cópias do contrato, divulgado pela primeira vez pela Folha em janeiro do ano passado, e de seus anexos, que permaneciam guardados até então.
O anexo que mais provoca dúvidas é um contrato entre a Traffic, empresa que cuida do marketing da CBF, e a empresa inglesa Wysiwyg, para a transferência de direitos de exploração de propriedades da CBF, como seu escudo, fotos oficiais e nome.
O primeiro ponto obscuro é a data do contrato: 1� de março de 1995, mais de um ano e meio antes da assinatura do contrato CBF-Nike. Não fica claro qual é a relação desse contrato com o assinado pela Nike.
Mas o que chama mais a atenção é que o valor do contrato entre essas duas empresas, isto é, o que a Traffic vai ganhar com o negócio, está em branco.
Como Teixeira apresentou apenas uma cópia xerox do documento, não é possível saber se o valor jamais foi preenchido, tratando-se aí de uma minuta de contrato, ou se ele foi apagado propositalmente. Pelo fato de o documento estar totalmente rubricado, a segunda hipótese é a mais provável.
Outro item do contrato provoca reação, mas pelo lado cômico. Uma das propriedades cujo uso foi cedido pela Traffic a Wysiwyg é a palavra ""Brasil" como se fosse de sua propriedade.
Em outro anexo, deveria estar especificada a quantidade de cada tipo de material esportivo (camisas de jogo, de treino, calções, meiões, agasalhos, ataduras etc.) que cabe à Nike entregar à CBF durante os anos do contrato (dez, de 1987 a 1996). Mas o quadro que deveria conter os números também está em branco.
Por fim, na lista das propriedades da CBF, está relacionado o Código Brasileiro Disciplinar do Futebol (CBDF), que não pertence à entidade. O CBDF é uma portaria ministerial, que a CBF deve apenas obedecer.
Uma alteração ilegal no código promovido pela entidade em 1997, a mudança do artigo que trata das punições para o clube que usar um jogador inscrito irregularmente, é, aliás, a causa da disputa jurídica entre o Gama e a entidade, que ameaça até paralisar a Copa do Brasil.
Se a Confederação Brasileira de Futebol tivesse respeitado o texto original do artigo, o Botafogo-RJ não teria ganho os pontos de um jogo do Campeonato Brasileiro de 1999 contra o São Paulo (que havia usado o atacante Sandro Hiroshi em situação irregular) e assim o Gama não teria sido rebaixado para a Série B.
A entrega dos anexos não demoveu o deputado Aldo Rebelo da idéia de seguir adiante com a tentativa de instalação da CPI. Rebelo percebeu as lacunas nos documentos.
A Folha tentou localizá-lo ontem, mas não conseguiu falar com ele até o fechamento desta edição.
Mesmo que a CPI pedida por Rebelo não saia, embora ela esteja virtualmente assegurada por causa do regimento, Teixeira não estará livre de uma investigação. O senador José Roberto Arruda (PSDB-DF), torcedor do Gama, também quer investigar a entidade. Anteontem, ele se recusou a receber Teixeira em seu gabinete.


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