São Paulo, segunda-feira, 11 de julho de 2005

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FUTEBOL

Para segurar o rojão

JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA

O Brasil afunda na lama, Londres conta seus mortos, e nós aqui, falando de futebol.
Alienação? Escapismo? Não creio. É preciso sobreviver, é preciso acreditar, mesmo que seja só por 90 minutos, que os homens são capazes de fazer coisas melhores e mais belas do que matar e roubar.
Como cantou o poeta popular, "sem a cachaça ninguém segura esse rojão". O futebol é a nossa cachaça -pelo menos nos domingos de clássicos pelo Brasil afora.
Em outros momentos, pode ser a música, o cinema, a poesia, o amor. Qualquer coisa que nos lembre de que somos feitos da mesma matéria que Beethoven, Shakespeare e Pelé -ainda que alguns, ou muitos, prefiram se mirar em Roberto Jefferson, Marcos Valério ou Osama Bin Laden.
E ontem foi um desses domingos de clássicos. Só pude ver um na íntegra: Corinthians 3 x 1 Palmeiras. Mas valeu a pena. Foi um jogo disputado, franco e repleto de emoções.
Até o gol de empate do Corinthians, a partida estava nivelada. O alvinegro tinha mais a bola, mas o Palmeiras era mais incisivo nos ataques. Era clara, para as duas equipes, a falta que faz um centroavante eficiente.
Com o empate corintiano, logo em seguida ao gol palmeirense, o alviverde desorganizou seu sistema defensivo e abriu espaços para os contra-ataques do rival.
Márcio Bittencourt, na verdade, começou a ganhar o jogo no intervalo, quando trocou o irregular e um tanto indolente Carlos Alberto pelo lépido Rosinei, que acabou se apresentando nas horas certas como um terceiro atacante e marcando dois gols.
Sem Carlos Alberto em campo, Roger ficou mais à vontade para agir como maestro do Corinthians. Seu segundo tempo foi brilhante.
O Palmeiras, por sua vez, se ressentiu da ausência de Juninho Paulista, jogador que sempre melhora e acelera a chegada ao ataque.
Mas o torcedor alviverde não tem por que se desesperar. Com a chegada de Gamarra, a tendência é o time se tornar mais sólido e competitivo. Soberano na colocação e na cobertura, o veterano zagueiro ainda chegou na área adversária com perigo, dando um voleio espetacular no primeiro tempo e participando do gol de Leonardo Silva.
O volante Mascherano também estreou muito bem no Corinthians, mostrando inteligência, técnica e combatividade. Por uma curiosa ironia, um momento crucial do clássico foi uma dividida entre os dois estreantes: o argentino roubou a bola do paraguaio e deu início ao lance do terceiro gol corintiano.
As brigas e expulsões no final da partida, quase um pré-requisito nos derbys entre os arqui-rivais paulistanos, não chegaram a empanar o brilho do clássico.
E veja só: por um par de horas conseguimos esquecer a existência do "mensalão", dos dólares na cueca, das bombas terroristas. Agora voltamos com força renovada para a dura labuta do dia-a-dia.

O roto e o rasgado
Mesmo jogando contra os reservas do São Paulo e tendo um atleta a mais durante boa parte do tempo, o Flamengo perdeu mais uma e segue firme na zona de rebaixamento. Pior ainda está seu maior rival, o Vasco, que ontem sofreu outro revés, jogando em casa. A decadência dos dois clubes mais populares do Rio é um pesadelo sem fim.

Gols da rodada
Sem Robinho, Deivid e Léo, o Santos foi a Goiânia e bateu o Goiás num vira-revira espetacular. O gol de Ricardinho, um bate-pronto de fora da área, foi um dos mais bonitos da rodada, ao lado do de Beto, do Flu, que passou por três oponentes antes de chutar no ângulo. O segundo do Corinthians, construído pelo trio Roger-Gustavo-Rosinei, também foi lindo.

E-mail jgcouto@uol.com.br

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