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FUTEBOL
Para segurar o rojão
JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA
O Brasil afunda na lama,
Londres conta seus mortos, e
nós aqui, falando de futebol.
Alienação? Escapismo? Não
creio. É preciso sobreviver, é preciso acreditar, mesmo que seja só
por 90 minutos, que os homens
são capazes de fazer coisas melhores e mais belas do que matar e
roubar.
Como cantou o poeta popular,
"sem a cachaça ninguém segura
esse rojão". O futebol é a nossa cachaça -pelo menos nos domingos de clássicos pelo Brasil afora.
Em outros momentos, pode ser
a música, o cinema, a poesia, o
amor. Qualquer coisa que nos
lembre de que somos feitos da
mesma matéria que Beethoven,
Shakespeare e Pelé -ainda que
alguns, ou muitos, prefiram se
mirar em Roberto Jefferson, Marcos Valério ou Osama Bin Laden.
E ontem foi um desses domingos de clássicos. Só pude ver um
na íntegra: Corinthians 3 x 1 Palmeiras. Mas valeu a pena. Foi um
jogo disputado, franco e repleto
de emoções.
Até o gol de empate do Corinthians, a partida estava nivelada.
O alvinegro tinha mais a bola,
mas o Palmeiras era mais incisivo
nos ataques. Era clara, para as
duas equipes, a falta que faz um
centroavante eficiente.
Com o empate corintiano, logo
em seguida ao gol palmeirense, o
alviverde desorganizou seu sistema defensivo e abriu espaços para os contra-ataques do rival.
Márcio Bittencourt, na verdade,
começou a ganhar o jogo no intervalo, quando trocou o irregular e um tanto indolente Carlos
Alberto pelo lépido Rosinei, que
acabou se apresentando nas horas certas como um terceiro atacante e marcando dois gols.
Sem Carlos Alberto em campo,
Roger ficou mais à vontade para
agir como maestro do Corinthians. Seu segundo tempo foi brilhante.
O Palmeiras, por sua vez, se ressentiu da ausência de Juninho
Paulista, jogador que sempre melhora e acelera a chegada ao ataque.
Mas o torcedor alviverde não
tem por que se desesperar. Com a
chegada de Gamarra, a tendência
é o time se tornar mais sólido e
competitivo. Soberano na colocação e na cobertura, o veterano zagueiro ainda chegou na área adversária com perigo, dando um
voleio espetacular no primeiro
tempo e participando do gol de
Leonardo Silva.
O volante Mascherano também
estreou muito bem no Corinthians, mostrando inteligência,
técnica e combatividade. Por
uma curiosa ironia, um momento
crucial do clássico foi uma dividida entre os dois estreantes: o argentino roubou a bola do paraguaio e deu início ao lance do terceiro gol corintiano.
As brigas e expulsões no final da
partida, quase um pré-requisito
nos derbys entre os arqui-rivais
paulistanos, não chegaram a empanar o brilho do clássico.
E veja só: por um par de horas
conseguimos esquecer a existência do "mensalão", dos dólares na
cueca, das bombas terroristas.
Agora voltamos com força renovada para a dura labuta do dia-a-dia.
O roto e o rasgado
Mesmo jogando contra os reservas do São Paulo e tendo um
atleta a mais durante boa parte
do tempo, o Flamengo perdeu
mais uma e segue firme na zona
de rebaixamento. Pior ainda está seu maior rival, o Vasco, que
ontem sofreu outro revés, jogando em casa. A decadência
dos dois clubes mais populares
do Rio é um pesadelo sem fim.
Gols da rodada
Sem Robinho, Deivid e Léo, o
Santos foi a Goiânia e bateu o
Goiás num vira-revira espetacular. O gol de Ricardinho, um
bate-pronto de fora da área, foi
um dos mais bonitos da rodada, ao lado do de Beto, do Flu,
que passou por três oponentes
antes de chutar no ângulo. O segundo do Corinthians, construído pelo trio Roger-Gustavo-Rosinei, também foi lindo.
E-mail jgcouto@uol.com.br
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