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Direta ou indiretamente, lucrativas siderúrgicas brasileiras fortalecem
os clubes vizinhos de suas fábricas
Aço constrói as zebras que balançam finais estaduais
PAULO COBOS
DA REPORTAGEM LOCAL
SÉRGIO RANGEL
ENVIADO ESPECIAL A VOLTA REDONDA
Não é só nos balanços financeiros que a indústria siderúrgica
brasileira está em alta recorde.
O mais lucrativo setor industrial
do país em 2004 brilha também
nos campos de futebol, como fica
evidente na reta final de alguns
dos principais campeonatos estaduais da temporada -a maioria
deles inicia suas decisões hoje.
As quatro maiores empresas do
ramo ajudam, de forma direta ou
indireta, a impulsionar times que
são vizinhos de suas fábricas.
A Usiminas é o principal patrocinador do Ipatinga, que duela a
partir de hoje no Mineiro com o
Cruzeiro. Foi graças à CSN (Companhia Siderúrgica Nacional) que
o Volta Redonda, rival do Fluminense na decisão do Estadual do
Rio de Janeiro, foi criado.
Líder disparado do Campeonato Capixaba, o Serra tem como
trunfo a prosperidade criada na
cidade pela CST (Companhia Siderúrgica de Tubarão). Efeito parecido acontece como o 15 de Novembro de Campo Bom, que vai
decidir o Gaúcho com o Internacional e fica no Vale dos Sinos, a
região onde a Gerdau começou e
até hoje mantém boa parte de seu
parque fabril. A empresa também
tem negócios em Juazeiro do Norte, sede do Icasa, que disputa a final do Cearense com o Fortaleza.
Todos esses municípios se beneficiam da prosperidade de um
setor que faturou mais de R$ 50
bilhões no ano passado.
"A Usiminas é essencial para a
gente", reconhece Itair Machado,
presidente do Ipatinga, sobre a indústria que banca a maior parte
das despesas do clube há sete anos
-uma parceria com o Cruzeiro,
o adversário de hoje, ajuda no fornecimento de jogadores.
O Volta Redonda possui como
principal mecenas a prefeitura da
cidade, que tem boa parte da sua
arrecadação gerada pelos impostos pagos pela CSN.
Serra se transformou na segunda economia do Espírito Santo
-e deve ser a primeira já no próximo ano, graças ao dinheiro movimentado pela CST e às centenas
de empresas de serviço que giram
em torno dela. E aí está a principal
fonte de receita do time da cidade.
"A riqueza do município é ótima para a gente. Conseguimos arrumar vários patrocinadores
[muitos deles prestam serviço para a CST], que aproveitam a visibilidade da nossa equipe", afirma
Jorge Euclides, o presidente do
clube do Espírito Santo.
Efeito privatização
Principais times siderúrgicos,
Ipatinga e Volta Redonda exaltam
o aço até em seus hinos, mas têm
uma relação bem diferente com
seus mecenas depois das privatizações dessas companhias.
Depois que a CSN deixou as
mãos do governo federal, o Volta
Redonda viu o financiamento direto da empresa para o clube acabar. O clube do Rio foi fundado
pela siderúrgica, que nos tempos
de estatal fazia um pequeno desconto no salário de 10 mil funcionários para bancar a equipe. Hoje,
o clube sofre os efeitos de uma rixa entre o município e a empresa.
Já o Ipatinga nasceu apenas em
1998, quando a Usiminas já era
uma companhia privada. Mas
contou com a ajuda da siderúrgica da fundação até os dias de hoje.
"A Usiminas abraçou o nosso
projeto desde o início. Sem ela,
provavelmente não existiríamos",
diz Machado. Segundo presidente
do Ipatinga, o investimento da siderúrgica cobre 60% dos gastos
da equipe. O valor do patrocínio é
sigiloso, mas a reportagem apurou que no ano passado o repasse
ficou em quase R$ 400 mil.
A empresa diz que colabora
com o time para ajudar a cidade
que o abriga e também como estratégia de marketing.
"O patrocínio é mais uma ação
da Usiminas dentre as várias iniciativas que temos para incentivar
o esporte e melhorar a qualidade
de vida em Ipatinga. O retorno de
imagem que hoje estamos percebendo com o Ipatinga tem sido
bastante gratificante", disse à Folha, por meio de sua assessoria,
Rinaldo Campos Soares, o presidente da indústria que lucrou
mais de R$ 3 bilhões em 2004.
A amigável relação dos mineiros não acontece no Rio.
Desde a privatização da empresa, em 1993, os atuais administradores da CSN decidiram se desligar do "Voltaço". A empresa cortou até o repasse dos funcionários
para o clube. A partir daí, o Volta
Redonda entrou em crise. No início dos anos 90, o time chegou a
ser rebaixado e quase acabou.
O clube só voltou a reaparecer
no futebol fluminense com a ajuda do ex-prefeito Antônio Francisco Neto no final da década passada. Presidente de honra do clube, ele decidiu abrir os cofres públicos e já gastou quase R$ 20 milhões, incluindo a construção do
mais moderno estádio do Rio.
Apesar de a CSN não investir no
clube de forma direta, a prefeitura
local, uma das principais parceiras do clube, tem na siderúrgica
uma das maiores fontes de renda
na arrecadação municipal. O aço
paga R$ 14 milhões dos R$ 23 milhões que o município recebe somente com o IPTU. A direção da
empresa não tem planos de gastar
dinheiro com o clube, segundo
sua assessoria de imprensa.
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