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Eleições devem esquentar debate sobre retirada
FABIANO MAISONNAVE
DE WASHINGTON
As eleições de hoje no Iraque
devem acelerar ainda mais a discussão que vem pressionando o
presidente George W. Bush, concentrando a atenção dos centros
de análise e ganhando espaço na
imprensa: quando e como Washington deverá começar a retirada dos quase 150 mil militares que
mantém no país.
Passados quase dois anos do
início da Guerra do Iraque, quando, em março de 2003, os Estados
Unidos invadiram o país sob o
pretexto de que o ex-ditador Saddam Hussein tinha um arsenal de
armas de destruição em massa, a
violência sem fim e o alto custo
para os cofres públicos têm aumentado a pressão sobre Bush
para sair rapidamente do Iraque.
Até anteontem, 1.409 militares
americanos morreram no Iraque,
dos quais apenas 138 entre o início da guerra e o dia 1� de maio de
2003, quando Bush anunciou o
fim dos principais combates.
O custo da invasão também não
pára de subir. Até agora, os Estados Unidos já gastaram aproximadamente US$ 150 bilhões em
operações militares no Iraque.
Para 2005, a previsão é de mais
US$ 105 bilhões para o Iraque e o
Afeganistão, num momento em
que o governo tenta diminuir o
enorme déficit fiscal, que neste
ano deve ficar em US$ 427 bilhões
(R$ 1,1 trilhão).
E há a opinião pública. Pesquisas recentes mostram que a maioria dos americanos considera que
os custos da guerra sejam maiores
do que os seus benefícios e discorda da forma como Bush conduz o
problema.
O tema da retirada tem sido
constante em entrevistas que
Bush tem concedido. Na última
semana, afirmou -pela primeira
vez- que retirará as tropas se o
novo governo iraquiano pedir.
Bush, no entanto, disse que é
um pedido improvável neste momento. "Haverá uma necessidade
de tropas da coalizão, pelo menos
até que os iraquianos sejam capazes de lutar."
Ingovernável
Mas a reestruturação do Iraque
tem sido um constante fiasco. O
último relatório do Projeto de Reconstrução Pós-Conflito do CSIS
(Centro para Estudos Estratégicos
e Internacionais), que desde junho de 2003 mede a evolução do
governo iraquiano, traz conclusões desoladoras.
Do início da pesquisa até outubro passado, a situação está estagnada em quase todas as cinco
áreas pesquisadas: segurança, governabilidade, oportunidade econômica e serviços. Houve apenas
uma mudança significativa -e
para pior- na saúde.
O relatório conclui que: 1) o Iraque não está estruturado em nenhuma das cinco áreas analisadas; 2) a reconstrução ainda não
começou a se mover numa velocidade sustentável.
"O importante agora é a reconstrução administrativa e da segurança. Temos de dar poder a um
governo capaz de conduzir as
suas funções e fortalecer as forças
de segurança que defenderão este
governo depois da nossa saída",
disse à Folha W. Andrew Terrill,
professor de Segurança Nacional
do Instituto de Estudos Estratégicos, responsável por produzir
análises para o Pentágono.
Calcanhar-de-aquiles
Com relação ao treinamento
das forças iraquianas, Terrill afirma que o principal problema está
na motivação. "Há certamente esforços e dinheiro para melhorar
os equipamentos, as comunicações e o treinamento. O que é o
calcanhar de Aquiles sobre o qual
não podemos fazer nada é a motivação. Eles estão preparados para
morrer pelo Iraque?"
Terrill disse que, no momento,
não é possível estabelecer um cronograma de saída. Questionado
se a retirada pode começar neste
ano, disse que "só se houver uma
melhoria dramática das forças
iraquianas".
Mas há quem defenda a saída
imediata e incondicional, como o
influente Instituto Cato, que na
semana passada publicou um relatório no qual diz que a tentativa
de impor democracia no Iraque
está condenada ao fracasso.
"Não sei o que ocorreria após
sairmos, mas essa não é a minha
principal preocupação. Estou
preocupado em tirar as tropas
americanas de lá e minimizar a
perda de vidas. Não acho que seja
função dos Estados Unidos administrar microquestões políticas
no Iraque durante os próximos 50
anos", disse à Folha Ted Carpenter, vice-presidente dos Estudos
sobre Defesa e Política Externa do
Instituto Cato.
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