São Paulo, domingo, 30 de janeiro de 2005

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Eleições devem esquentar debate sobre retirada

FABIANO MAISONNAVE
DE WASHINGTON

As eleições de hoje no Iraque devem acelerar ainda mais a discussão que vem pressionando o presidente George W. Bush, concentrando a atenção dos centros de análise e ganhando espaço na imprensa: quando e como Washington deverá começar a retirada dos quase 150 mil militares que mantém no país.
Passados quase dois anos do início da Guerra do Iraque, quando, em março de 2003, os Estados Unidos invadiram o país sob o pretexto de que o ex-ditador Saddam Hussein tinha um arsenal de armas de destruição em massa, a violência sem fim e o alto custo para os cofres públicos têm aumentado a pressão sobre Bush para sair rapidamente do Iraque.
Até anteontem, 1.409 militares americanos morreram no Iraque, dos quais apenas 138 entre o início da guerra e o dia 1� de maio de 2003, quando Bush anunciou o fim dos principais combates.
O custo da invasão também não pára de subir. Até agora, os Estados Unidos já gastaram aproximadamente US$ 150 bilhões em operações militares no Iraque.
Para 2005, a previsão é de mais US$ 105 bilhões para o Iraque e o Afeganistão, num momento em que o governo tenta diminuir o enorme déficit fiscal, que neste ano deve ficar em US$ 427 bilhões (R$ 1,1 trilhão).
E há a opinião pública. Pesquisas recentes mostram que a maioria dos americanos considera que os custos da guerra sejam maiores do que os seus benefícios e discorda da forma como Bush conduz o problema.
O tema da retirada tem sido constante em entrevistas que Bush tem concedido. Na última semana, afirmou -pela primeira vez- que retirará as tropas se o novo governo iraquiano pedir.
Bush, no entanto, disse que é um pedido improvável neste momento. "Haverá uma necessidade de tropas da coalizão, pelo menos até que os iraquianos sejam capazes de lutar."

Ingovernável
Mas a reestruturação do Iraque tem sido um constante fiasco. O último relatório do Projeto de Reconstrução Pós-Conflito do CSIS (Centro para Estudos Estratégicos e Internacionais), que desde junho de 2003 mede a evolução do governo iraquiano, traz conclusões desoladoras.
Do início da pesquisa até outubro passado, a situação está estagnada em quase todas as cinco áreas pesquisadas: segurança, governabilidade, oportunidade econômica e serviços. Houve apenas uma mudança significativa -e para pior- na saúde.
O relatório conclui que: 1) o Iraque não está estruturado em nenhuma das cinco áreas analisadas; 2) a reconstrução ainda não começou a se mover numa velocidade sustentável.
"O importante agora é a reconstrução administrativa e da segurança. Temos de dar poder a um governo capaz de conduzir as suas funções e fortalecer as forças de segurança que defenderão este governo depois da nossa saída", disse à Folha W. Andrew Terrill, professor de Segurança Nacional do Instituto de Estudos Estratégicos, responsável por produzir análises para o Pentágono.

Calcanhar-de-aquiles
Com relação ao treinamento das forças iraquianas, Terrill afirma que o principal problema está na motivação. "Há certamente esforços e dinheiro para melhorar os equipamentos, as comunicações e o treinamento. O que é o calcanhar de Aquiles sobre o qual não podemos fazer nada é a motivação. Eles estão preparados para morrer pelo Iraque?"
Terrill disse que, no momento, não é possível estabelecer um cronograma de saída. Questionado se a retirada pode começar neste ano, disse que "só se houver uma melhoria dramática das forças iraquianas".
Mas há quem defenda a saída imediata e incondicional, como o influente Instituto Cato, que na semana passada publicou um relatório no qual diz que a tentativa de impor democracia no Iraque está condenada ao fracasso.
"Não sei o que ocorreria após sairmos, mas essa não é a minha principal preocupação. Estou preocupado em tirar as tropas americanas de lá e minimizar a perda de vidas. Não acho que seja função dos Estados Unidos administrar microquestões políticas no Iraque durante os próximos 50 anos", disse à Folha Ted Carpenter, vice-presidente dos Estudos sobre Defesa e Política Externa do Instituto Cato.

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