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ELEIÇÕES ARMADAS
"Não se pode colocar na mesma categoria todas as correntes da insurgência iraquiana"
JONATHAN STEVENSON
"Vários antigos aliados de Saddam disputam o controle da cena política iraquiana"
ROHAN GUNARATNA
Influência de Saddam não é mais preponderante entre os rebeldes, afirmam analistas
Insurgência iraquiana é sunita, mas multifacetada
DA REDAÇÃO
A INSURGÊNCIA IRAQUIANA é hoje eminentemente sunita, mas heteróclita e multifacetada. Ela é composta, de acordo com especialistas consultados pela Folha,
por três tipos de grupo principais: os majoritariamente iraquianos e resistentes, formados sobretudo por
ex-membros do partido Baath -do ex-ditador Saddam Hussein- e por seus simpatizantes, os que misturam iraquianos árabes ou curdos com combatentes
estrangeiros e os "jihadistas" internacionais, que buscam deflagrar uma "guerra santa contra os infiéis ocupadores" e privilegiam atos terroristas.
"Não se pode colocar na mesma
categoria todas as correntes da insurgência iraquiana. Esta mistura
movimentos de resistência à ocupação com o terror "jihadista", que
tem know-how e contato com a Al
Qaeda, rede de Osama bin Laden", analisou Jonathan Stevenson, do Instituto Internacional
para Estudos Estratégicos (EUA).
"Seria errôneo afirmar que ex-membros do Baath, que sempre
estiveram no poder no Iraque,
têm as mesmas metas que pessoas
como Abu Musab al Zarqawi, um
terrorista contumaz que lutou no
Afeganistão", acrescentou.
Rohan Gunaratna, do Instituto
de Defesa e de Estudos Estratégicos de Cingapura, salientou que
os ex-integrantes do Baath não
são, em sua maioria, "fiéis ao regime de Saddam, mas nacionalistas
sunitas envolvidos numa sangrenta luta pelo poder no Iraque".
"A idéia de que Saddam ainda
exerce forte influência sobre a insurgência é falsa. Contudo vários
de seus antigos aliados a protagonizam porque disputam o controle da cena política iraquiana. Como sabem que a maioria xiita será
mais poderosa em razão da demografia do país, eles tentam impedir a consolidação do processo
político", avaliou Gunaratna.
Outra corrente da insurgência,
que também pratica atos de resistência à invasão, mas não descarta
o uso do terrorismo, é a que mistura curdos e árabes sunitas com
uma pequena parcela de combatentes estrangeiros, cujo combate
é "jihadista" e antiamericano.
O principal grupo dessa categoria é o Ansar al Sunna (defensores
da suna, conjunto de preceitos extraídos das práticas do profeta
Muhammad), uma ramificação
do Ansar al Islam (defensores do
islã), um grupo terrorista curdo
com ligações com o governo do
Irã e com a Al Qaeda. Seu ataque
mais grave ocorreu em Irbil, no
Curdistão iraquiano, contra escritórios de partidos curdos. A ação
de suicidas deixou 117 mortos.
Em dezembro, ademais, o grupo, composto por sunitas curdos,
árabes e estrangeiros, realizou o
ataque mais sangrento contra as
forças americanas no Iraque desde a invasão, ocorrida em 2003.
Um terrorista suicida conseguiu
entrar numa base americana perto de Mossul (norte) e matou 22
pessoas, incluindo 14 americanos.
Outro grupo pertencente a essa
categoria são os Esquadrões Al
Mujahidin, que reivindicaram o
seqüestro do brasileiro João José
Vasconcellos Jr., embora suas
ações estejam, gradativamente, se
tornando mais terroristas ou criminosas e menos de resistência.
A última categoria da insurgência é eminentemente estrangeira e
terrorista. Sua figura mais conhecida é o jordaniano Al Zarqawi,
que lidera a Al Qaeda na Terra do
Tigre e do Eufrates e exerce forte
influência sobre todas as ramificações da rede no Iraque. Ele também teria contato com os líderes
do Ansar al Sunna, no entanto isso nunca foi comprovado.
"Trata-se sobretudo de combatentes estrangeiros de ideologia
"jihadista" ou apocalíptica, que expressam mensagens repletas de
referências à "guerra santa" e aos
"cruzados invasores". A maioria
esteve em campos de treinamento
da Al Qaeda, e alguns deles tiveram contato pessoal com Bin Laden", explicou Stevenson.
Para agravar o quadro, há ainda
grupos iraquianos que se aproveitam do caos reinante no país para
cometer crimes comuns, visando
obter ganhos financeiros.
(MÁRCIO SENNE DE MORAES)
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