São Paulo, domingo, 30 de janeiro de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ELEIÇÕES ARMADAS

Suprimento de energia em Bagdá encerrou 2004 em situação pior que em julho de 2003

Renda média do iraquiano passou de US$ 860/ano em 2001, para US$ 700 em 2004

Dados reforçam as teses daqueles que vêem motivações econômicas na invasão do Iraque

EUA atingem os seus objetivos com relação ao petróleo

FERNANDO CANZIAN
DA REPORTAGEM LOCAL

CONSIDERADO POR MUITOS como o motivo central para a invasão americana, o petróleo iraquiano representa hoje uma das únicas áreas onde os EUA atingiram seus objetivos. No final de 2004, alcançaram 88% da meta para a produção e passaram a obter uma receita de US$ 1,5 bilhão ao mês. Como comparação, o suprimento de energia elétrica dentro e fora de Bagdá encerrou 2004 em situação pior do que em julho de 2003, logo após o fim da fase dos principais combates.

Os dados, compilados pelo Instituto Brookings, ""think-tank" independente de Washington, reforçam a tese de especialistas que vêem motivações geopolíticas e econômicas para a campanha americana no Iraque.
A invasão, no coração de uma região que concentra dois terços das reservas petrolíferas do mundo, ocorreu ao mesmo tempo em que os EUA deram início ao maior deslocamento de suas tropas militares pelo globo desde a Segunda Guerra Mundial.
Bases militares na Europa começaram a ser desmontadas e houve a criação de novas unidades em regiões da África, onde se concentram outras matérias-primas minerais, e em países vizinhos às principais ""ameaças" à futura hegemonia americana, como a China e a Índia.
Michael O'Hanlon, analista do Brookings, afirma que, com a exceção do setor petrolífero, ""quase nada vem sendo produzido no Iraque ocupado".
Na área de petróleo, cuja produção já alcança 2,1 milhões de barris/dia, foi a Halliburton, empresa já presidida pelo vice-presidente americano, Dick Cheney, a maior beneficiada por contratos.
Além do ódio aos americanos, a total falta de perspectivas econômicas no país é apontada por especialistas como uma das principais fontes de ""incentivo" ao crescimento da insurgência rebelde.
Desemprego acima de 50%, empresas estatais destruídas e a quase total ausência de investimentos privados mantêm um ciclo vicioso: a falta de perspectiva leva à insurgência; a insurgência, à redução das chances de recuperação.
A economia iraquiana sofreu uma queda de 22% em 2003, ano da invasão americana. Nos anos anteriores, 2001 e 2002, já havia caído 12% e 21%, respectivamente, segundo o Banco Mundial.
Já a renda média dos iraquianos, que era de US$ 860/ano em 2001 (e de US$ 3.600 na década de 80), fechou 2004 pouco acima de US$ 700, segundo estimativas.
O Departamento de Estado dos EUA acredita que o crescimento econômico no Iraque tenha atingido a casa dos dois dígitos no ano passado -mas sobre uma base muito deprimida.
Contribuiu para essa recuperação o fato de o governo provisório iraquiano ter praticamente dobrado o salário de seus mais de 1 milhão de funcionários para tentar impulsionar a economia.
David Phillips, analista do Council on Foreign Relations, de Nova York, afirma, no entanto, que mesmo a recuperação iraquiana de 2004 é parcial.
Segundo Phillips, a retomada será ""dramaticamente menor" se for retirada da média do país as áreas curdas ao norte do Iraque, onde a economia não vem sendo afetada pela ação dos insurgentes.

Texto Anterior: Data de julgamento do ex-ditador Saddam Hussein continua incerta
Próximo Texto: Pai da "Não-Constituição" diz que eleição agora é um erro
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.