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Marsilac é o mais pobre e o menos urbanizado
DA REPORTAGEM LOCAL
O tempo passa diferente em
Marsilac. A 45 km da praça da
Sé, Marsilac é o distrito com os
piores indicadores econômicos
de São Paulo: tem a maior taxa
de desempregados e trabalhadores informais e o maior percentual de moradores que vivem com menos de dois salários mínimos por mês.
Problemas não faltam na região que no papel é urbana,
mas, na prática, rural. Água, só
de poço. Rua esburacada é um
luxo, já que a regra é não ter asfalto. Conseguir consulta com
um médico é demorado. Lazer,
só quando a comunidade faz
festa. Mas parece que ninguém
liga. "É um lugarzinho sossegado", diz Tarzan, como é conhecido Jailton dos Santos, "mais
ou menos 40 anos".
Tarzan ganha um salário mínimo e uma cesta básica por
mês, o que sustenta ele, a mulher e os três filhos. Passa o
tempo abrindo picadas no mato e bolindo com tartarugas das
nascentes. "Nosso relógio biológico é diferente, sim", diz Maria Lúcia Cirillo, presidente da
associação dos moradores do
bairro de Engenheiro Marsilac.
Não fosse o trem de hora em
hora levando e trazendo carga
de Santos, Marsilac seria o paraíso para seus moradores.
Paulo Rodrigues, 50, nasceu ali,
trabalha de caseiro e nem cogita se mudar. Ele vive com a mulher e uma filha e ganha salário
mínimo. Acorda às 4h e dorme
antes das 21h. Quando dá, vai à
"vila" (centro do bairro) buscar
a filha na escola. Espera dar a
hora na praça, conversando.
Quase todo mundo tem história de violência para contar,
de seqüestro a roubo em chácara. Mas medo, quase ninguém
tem. Nem de andar à noite pelas ruas escuras. Entre os pontos positivos, estão a qualidade
do ar, o contato com a natureza
(de vez em quando aparece onça ou jibóia) e a vizinhança. Tudo se resume ao "sossego", coisa que o paulistano médio não
sabe bem o que é.
(ES)
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