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"Soca-tempero" faz rapaz lucrar com
o desarmamento
DA ENVIADA A MINADOR DO NEGRÃO (AL)
O estudante Jacó Ricardo
Gomes, 24, Jacozinho do Minuca, como o chamam em
homenagem ao pai, descobriu um jeito engenhoso de
faturar com a campanha do
desarmamento.
Inteligente, o rapaz que sonha virar jornalista ou agente da Polícia Federal, percebeu no decreto presidencial
de julho de 2004, o que previa indenização de R$ 100 a
R$ 300 para quem entregasse à polícia uma arma de fogo, a chance de se transformar em uma espécie de Senhor das Armas da Bacia do
Leite alagoana.
Acostumado à vida em fazenda (ele mesmo é dono da
Fazenda Lagoa do Caminho,
na zona rural de Minador do
Negrão, em que cria gado
leiteiro), Jacó sabia que muitos sertanejos tinham sua
própria arma de caça, na
verdade um artefato primitivo, conhecido em Alagoas
como espingarda "soca-tempero".
Até a publicação do Estatuto do Desarmamento, em
dezembro de 2003, toda feira
do interior do Estado tinha
uma ou mais barracas que
vendiam essas espingardas.
O preço? Entre R$ 20 e R$
30. Para efeito de comparação, uma pistola Rugger pode superar os R$ 3 mil.
O segredo da pechincha é
o mecanismo de funcionamento das "soca-tempero".
Essas espingardas nem mesmo trabalham com balas.
Em vez disso, o caçador enfia cano adentro a pólvora, o
chumbo e a bucha. Soca tudo com um pilão comprido
e... BAM.
Tiro dado, o caçador tem
de reabastecer a espingarda
-um exercício de paciência. Se errou, a presa já era.
Jacó avisou que estava
comprando as "soca-tempero". Pagava como se novas
fossem. Revendia-as depois
à PF por R$ 100.
Subtraídos os custos com
gasolina para o leva-e-traz
de armas entre Minador e a
delegacia da PF em Maceió,
sobram em média R$ 50.
Os olhos dos invejosos
cresceram. Na cidade, o boato é que Jacozinho comprou
500 "soca-tempero" para revender. Um lucro total de R$
25 mil. "Põe aí que sou um
colaborador na campanha
pelo desarmamento", pede o
empreendedor. Em tempo:
no referendo, ele votará
"não".
(LC)
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