São Paulo, domingo, 23 de outubro de 2005
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OS PRINCIPAIS TÓPICOS José Gregori - "Votar no referendo é um dever cívico, um aprendizado democrático. Temos que pensar qual é a resposta mais objetiva, mais construtiva, mais estimuladora na luta contra a violência. Estou absolutamente convencido de que é o "sim". Os argumentos do "não" são equivocados. Suas premissas são corretas, mas as conclusões estão erradas." Edson Vidigal - "Minha posição
não considera aspectos sociológicos. Sempre fui uma pessoa prática. Me posicionei pelo "não" depois
que vi o texto do Estatuto do Desarmamento, que está eivado de
erros." Denis Rosenfield - "Não cabe ao
Estado determinar o que é o bem
do cidadão. Fico preocupado
quando o Estado diz como devemos nos comportar. É uma questão que diz respeito à liberdade individual. Se alguém não sabe lidar
com seus direitos, é responsável
por isso, algo que o direito penal
contempla. Se uma pessoa embriagada dirige a 180 km/h e mata
alguém, é responsável por isso.
Devemos valorizar o indivíduo e
sua liberdade de escolha." José Vicente da Silva - "Vou apertar um botãozinho me sentindo
um perfeito otário em votar uma
lei tão malfeita. Acho que não vai
levar a nada, mas tenho a esperança de que o "sim" possa dar uma
brecada na espiral da violência." Edson Vidigal - "Nossa primeira
experiência com uma lei de iniciativa popular foi aquela que resultou na hedionda lei de crimes hediondos, que até hoje sofre contestação nos tribunais e é alvo de ação
direta de inconstitucionalidade. O
Estatuto do Desarmamento é uma
lei dromedária, disforme, feita no
sabor das emoções populares." José Gregori - "Se a lei está mal-formulada, por que não podemos
reformá-la? A missão do ministro
[Edson Vidigal] também é melhorar a lei. Nada impedirá que reajustemos a lei no futuro se a opção
pelo "sim" ganhar." Denis Rosenfield- "A bancada
que defende o "não" quer preservar
o direito de ter uma arma. É algo
justo, porque não vejo uma relação automática entre a população
de bem estar armada e a criminalidade. Além do mais, as pessoas
devem se responsabilizar por seus
atos." José Vicente da Silva - "O grupo
que defende o "não" argumenta
que é preciso respeitar os direitos
individuais. Mas uma sociedade
não faz sentido sem levar em consideração os interesses coletivos." José Gregori - "O "não" é uma resposta que significaria um tipo de
conformidade com o status quo e
que de certa maneira defende a individualização da responsabilidade, fazendo com que a segurança
no seu limite seja um problema de
cada um. E, na verdade, é um problema coletivo." Edson Vidigal - "Precisamos resgatar os valores da família, da fé,
da honestidade e do trabalho. Temos que apostar na educação, a
médio e longo prazo, para ter uma
mudança de mentalidade sobre o
uso da arma. Porque eu não acredito que só a repressão sobre as
ações ilegais vai resgatar um estado de paz plena na sociedade." Denis Rosenfield - "Ter direitos
implica educação. Devemos fortalecer a noção de indivíduo, que
não podem ficar à mercê nem do
Estado nem dos meliantes." José Vicente da Silva - "A arma
não é um instrumento eficiente de
defesa das pessoas. Ela é mais perigosa para quem usa do que se imagina." Edson Vidigal - "Se o "sim" ganhar
o referendo e, conhecendo a criatividade brasileira, a conseqüência
será um grande estímulo ao tráfico
de armamentos no Brasil, com o
surgimento de indústrias de fundo
de quintal fabricando armas de fogo." Denis Rosenfield - "Fotos dos jornais do Rio de Janeiro vêm mostrando granadas e metralhadoras
em posse de traficantes que atuam
nos morros cariocas. Vocês compram granadas? Vocês já tentaram
comprar uma arma hoje? Eu fiz isso semana passada e posso dizer
que é muito complicado, desde
que o Estatuto do Desarmamento
entrou em vigor. É preciso conseguir autorização da Polícia Federal
e uma série de certidões negativas
da Justiça, além de pagar diversas
taxas. Isso já está na lei. Nos venderam a idéia de que o referendo é
sobre o desarmamento. Mas essa
não é a verdade. Falar isso é desonestidade." José Gregori - "É a sociedade civil, através de centenas de ONGs e
personalidades, que vem mobilizando o governo a reverter os números de violência no país. Um
exemplo foi a entrega voluntária
de 600 mil armas. Com o "sim",
daremos seguimento a esse tipo
de esforço historicamente pioneiro de combater a violência. [As 36
mil vítimas de arma de fogo registradas em todo o Brasil em 2004]
mostram números de um país em
guerra civil. Estamos diante de
um problema real, de cada um de
nós." Edson Vidigal - "O Estatuto do
Desarmamento é mais uma infelicidade no nosso movimento democrático. Resulta num instrumento legal que traz dificuldades
para o próprio intérprete da lei, o
juiz. No futuro podemos pensar
em reestudar o tema [do referendo], mas sem demagogia e sem as
emoções de cada momento a que
nós nos sujeitamos no Brasil." |
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