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DEBATE
Especialistas foram unânimes em afirmar que as ações na área de segurança pública são tímidas e não evitam a violência
"Sim" e "não" criticam inércia do governo
DA REPORTAGEM LOCAL
Defensores do "sim" e do "não"
no referendo de hoje divergem
sobre aspectos filosóficos, criminais e jurídicos. Mas ao menos em
um ponto eles concordam: as
ações do governo federal na área
de segurança pública são muito tímidas e não evitam a violência,
que mata mais civis no Brasil que
em países em guerra declarada.
Essa foi a opinião unânime dos
quatro especialistas que participaram na noite da última quinta-feira do debate organizado pela
Folha sobre a proibição do comércio de armas e munição no
Brasil, tema do referendo de hoje.
Estiveram presentes o ministro
Edson Vidigal, presidente do STJ
(Superior Tribunal de Justiça), José Gregori, ex-ministro da Justiça
no governo Fernando Henrique
Cardoso (PSDB), José Vicente da
Silva Filho, ex-secretário nacional
da Segurança Pública, e Denis
Lerrer Rosenfield, professor de filosofia da UFRGS (Universidade
Federal do Rio Grande do Sul). A
mediação foi do jornalista Gilberto Dimenstein, membro do Conselho Editorial da Folha.
Para eles, independentemente
do resultado da urna, a violência
-e conseqüentemente as mortes
por armas de fogo- só diminuirá
se houver prioridade na aplicação
de recursos em ações de segurança preventivas e repressivas.
Para Edson Vidigal, que votará
"não", o principal problema está
"na área econômica" do governo,
que não libera nem mesmo os recursos previstos no orçamento.
Verba reduzida
Dados oficiais do Ministério da
Justiça revelam que apenas 5,5%
da verba prevista no orçamento
deste ano para o Fundo Nacional
de Segurança Pública havia sido
liquidada (gastos que tiveram o
pagamento determinado pelo governo) até o último dia 10.
Isso significa que só R$ 23 milhões dos R$ 412 milhões previstos foram repassados até agora
para Estados e municípios comprarem carros e equipamentos e
fazerem capacitação de pessoal.
José Vicente, que votará "sim",
é ainda mais duro nas críticas.
"Lamentavelmente, o governo
preferiu dar prioridade para outras áreas, como o Ministério da
Pesca. O fundo de segurança pública se destina a dar condições
para que as polícias domem os
bandidos, que não vão entregar
suas armas mesmo que a opção
pelo "sim" ganhe o referendo",
afirma o ex-secretário nacional de
Segurança Pública.
Depois do referendo
Para ele, a grande questão é o
"day after" [o dia seguinte]. "Na
segunda-feira vamos olhar para o
governo e, independentemente
do resultado do referendo, dizer:
fizemos nossa parte. E vocês, o
que vão fazer agora para diminuir
a violência que nos atinge diariamente?", questiona.
Denis Rosenfield, professor de
filosofia -e que hoje votará
"não"-, afirma que o referendo
acontece em um momento de
completa ausência de políticas
públicas de segurança. "A verba
aplicada pelo governo é muito pequena. Estamos gastando quantia
próxima ao orçamento total do
fundo de segurança só na organização do referendo."
Dados do Tribunal Superior
Eleitoral (TSE) e estimativas das
campanhas pelo "sim" e pelo
"não" embasam a afirmação de
Rosenfield -que somam os R$
200 milhões que o tribunal já gastou e os R$ 200 milhões que TVs e
rádios irão abater do Imposto de
Renda por causa da veiculação do
horário eleitoral.
"O governo federal tem apoiado
o "sim" no referendo. Mas a sociedade deve cobrar ações concretas
e não se contentar com paliativos
ou factóides. A União deve assumir sua responsabilidade, que ultimamente está sendo posta de lado", afirma Rosenfield.
Problema da violência
Defensor do "sim", José Gregori, que hoje preside a Comissão
Municipal de Direitos Humanos,
órgão da gestão do prefeito de São
Paulo, José Serra (PSDB), afirma
que o governo federal atual e os
futuros não devem considerar o
problema da violência como uma
questão menor.
"Se ganhar o "sim", acredito que
os candidatos à sucessão presidencial de 2006 terão programas
específicos bem-feitos para a área
de segurança pública. Se o "não"
vencer, a violência continuará
sendo uma questão de menor importância, como é tratada hoje pelo governo", diz o ex-ministro.
O governo federal sustenta que
essas críticas não estão considerando todo o dinheiro destinado
pelo Ministério da Justiça ao combate à violência no país. Leia abaixo os
principais trechos do debate realizado pela Folha.
(FABIO SCHIVARTCHE)
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