São Paulo, domingo, 23 de outubro de 2005

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"Proibição do comércio é passo na direção certa"

DE WASHINGTON

Apesar de apenas uma das medidas necessárias para diminuir as estatísticas de morte arma de fogo, a proibição definitiva do comércio de armas no Brasil é um passo inequívoco na direção certa, pois até hoje não há evidência científica que mostre benefícios para a sociedade que mantém muitas armas em circulação.
A avaliação foi feita à Folha pelo diretor do Centro de Controle e Pesquisa de Ferimentos da Universidade de Harvard, David Hemenway, autor de diversos livros sobre o tema. Na avaliação do professor, há o risco de retorno a uma sociedade de barbárie, quando não há cumprimento da lei e muitas armas. (IURI DANTAS)
 

Folha- Banir o comércio de armas é uma boa saída?
David Hemenway-
Sim. Há um excesso de evidência mostrando que, quanto mais armas, mais mortes. Não necessariamente menos crimes. Se eu quero matar um policial, matar o presidente ou assaltar um banco preciso de uma arma. Mas para agressão, estupro ou roubar uma bolsa, não. As armas não nos protegem. Nos EUA há muito mais armas que no Brasil, muito menos regulações, e muito, muito mais homicídios.

Folha- Há pessoas que pregam o direito e a liberdade de terem armas para se defenderem.
Hemenway-
Não há verdadeira evidência de que ter uma arma torna a pessoa menos sujeita a sofrer violência. Há sempre outras possibilidades. Você pode correr, chamar a polícia. Comparar direitos e armas é como comparar maçãs e laranjas. Mais armas geralmente significa um número maior de mortes.

Folha- Mas numa sociedade com baixa eficiência policial não é uma alternativa?
Hemenway-
Permita-me ser direto. O problema com as armas é que elas matam pessoas. Quando há uma regulamentação forte e cumprimento das leis sobre controle de armas, há menos crimes. Veja o caso do Japão, ou do Canadá, por exemplo. Depende de cada país, não se pode generalizar.

Folha- O movimento pelo "não" no referendo vem crescendo. Como o sr. vê isso?
Hemenway-
Propaganda. Quem tiver dinheiro para colocar em anúncios de televisão, muda a opinião das pessoas, porque mostra apenas um lado da história, uma visão dos fatos. Por isso que dinheiro é tão importante na política. Também há um receio maior. Se as armas forem ilegais e a polícia não conseguir fazer cumprir essa determinação, a situação pode ficar mais perigosa.
É melhor viver numa sociedade em que se cumpre a lei e há menos armas do que numa sociedade sem cumprimento da lei e em que todos podem ter armas. Seria como voltar a uma sociedade de barbárie. O Brasil seria um país bem melhor se em vez de ter muitas armas, banisse o comércio.

Folha- O sr. votaria "sim"?
Hemenway-
Claro.


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