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"Proibição do comércio
é passo na direção certa"
DE WASHINGTON
Apesar de apenas uma das medidas necessárias para diminuir
as estatísticas de morte arma de
fogo, a proibição definitiva do comércio de armas no Brasil é um
passo inequívoco na direção certa, pois até hoje não há evidência
científica que mostre benefícios
para a sociedade que mantém
muitas armas em circulação.
A avaliação foi feita à Folha pelo
diretor do Centro de Controle e
Pesquisa de Ferimentos da Universidade de Harvard, David Hemenway, autor de diversos livros
sobre o tema. Na avaliação do
professor, há o risco de retorno a
uma sociedade de barbárie, quando não há cumprimento da lei e
muitas armas.
(IURI DANTAS)
Folha- Banir o comércio de armas
é uma boa saída?
David Hemenway- Sim. Há um
excesso de evidência mostrando
que, quanto mais armas, mais
mortes. Não necessariamente
menos crimes. Se eu quero matar
um policial, matar o presidente
ou assaltar um banco preciso de
uma arma. Mas para agressão, estupro ou roubar uma bolsa, não.
As armas não nos protegem. Nos
EUA há muito mais armas que no
Brasil, muito menos regulações, e
muito, muito mais homicídios.
Folha- Há pessoas que pregam o
direito e a liberdade de terem armas para se defenderem.
Hemenway- Não há verdadeira
evidência de que ter uma arma
torna a pessoa menos sujeita a sofrer violência. Há sempre outras
possibilidades. Você pode correr,
chamar a polícia. Comparar direitos e armas é como comparar maçãs e laranjas. Mais armas geralmente significa um número
maior de mortes.
Folha- Mas numa sociedade com
baixa eficiência policial não é uma
alternativa?
Hemenway- Permita-me ser direto. O problema com as armas é
que elas matam pessoas. Quando
há uma regulamentação forte e
cumprimento das leis sobre controle de armas, há menos crimes.
Veja o caso do Japão, ou do Canadá, por exemplo. Depende de cada país, não se pode generalizar.
Folha- O movimento pelo "não"
no referendo vem crescendo. Como
o sr. vê isso?
Hemenway- Propaganda. Quem
tiver dinheiro para colocar em
anúncios de televisão, muda a
opinião das pessoas, porque mostra apenas um lado da história,
uma visão dos fatos. Por isso que
dinheiro é tão importante na política. Também há um receio
maior. Se as armas forem ilegais e
a polícia não conseguir fazer cumprir essa determinação, a situação
pode ficar mais perigosa.
É melhor viver numa sociedade
em que se cumpre a lei e há menos
armas do que numa sociedade
sem cumprimento da lei e em que
todos podem ter armas. Seria como voltar a uma sociedade de
barbárie. O Brasil seria um país
bem melhor se em vez de ter muitas armas, banisse o comércio.
Folha- O sr. votaria "sim"?
Hemenway- Claro.
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