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OLHAR EXTERNO
"Acesso à arma deve ser facilitado aos pobres"
IURI DANTAS
DE WASHINGTON
Autor do polêmico livro "Mais
armas, menos crimes", o professor de Direito da Universidade de
Chicago John R. Lott tem uma sugestão no mínimo curiosa para o
governo brasileiro sobre o controle de armas na sociedade: em
vez de banir o comércio, facilitar
às pessoas mais pobres o acesso
aos artefatos. Isso provocaria queda nas taxas de homicídios e crimes, segundo ele.
Depois de levantar suspeita sobre os números oficiais de mortalidade por armas de fogo, Lott insistiu em entrevista à Folha que o
governo quer transferir a sua responsabilidade sobre segurança
pública para um debate desnecessário, quando deveria centralizar
esforços em melhorar as polícias e
o cumprimento da lei.
Folha- O senso comum diz mais
armas, mais mortes.
John Lott- O Brasil certamente
não mostrou essa relação. Só existe cerca de 3,5% que legalmente
possuem armas no país. É muito
pouco. Não há tantos países no
mundo com uma taxa baixa como essa, mesmo assim, o Brasil
tem uma das maiores taxas de
mortalidade. No seu país, parece
que quanto menos armas legais,
mais assassinatos. Na Suíça, temos uma taxa de 70%. Nos Estados Unidos, 45%. Não consigo
pensar em um país europeu com
taxa menor que a do Brasil.
Folha- É razoável pensar que banir o comércio de armas vai reduzir
as mortes?
Lott- Temos muito poucas pessoas que têm armas no Brasil. E as
que têm são relativamente afortunadas, para custear o registro,
manutenção e todo o resto. Os
mais pobres, que também são
mais vítimas de violência, não
têm recursos para manter armas.
O governo deveria facilitar o acesso dessas pessoas. Nos Estados
Unidos, a Pesquisa Nacional de
Vitimização mostra que uma mulher tem 2,5 menos chance de sofrer violência se estiver armada. E
os homens, 1,4 vezes menos.
A classe média brasileira tem
menos chance de sofrer crimes.
Vivem em bairros com muros,
protegidos. Os mais pobres não
pode pagar um guarda-costa, são
os que mais se beneficiariam em
ter uma arma para se proteger.
Folha- O referendo é inócuo?
Lott- O governo na verdade quer
transferir a sua responsabilidade.
O que resolve é aumentar as penas de prisão, elevar as restrições,
fortalecer o cumprimento da lei.
Em 13 anos, o Brasil criou oito diferentes leis para controle de armas na sociedade e, durante todo
esse período, as mortes por arma
de fogo cresceram sem parar no
país. Mais polícia, menos crime.
Folha- Depois da entrada em vigor do Estatuto, as mortes violentas caíram.
Lott- Não acredito nesses números. Para as mortes terem caído
cerca de 8% de julho a dezembro,
seria preciso ter tido uma queda
muito, muito grande. E isso é quase impossível de acontecer.
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