São Paulo, domingo, 20 de maio de 2001

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A BIENAL POR...

AMILCAR DE CASTRO
Artista plástico, 80, participou da 2� e da 6� bienais, dentre outras
IMPORTÂNCIA - A Bienal é de uma importância muito grande para a divulgação de todos os trabalhos, pelo prestígio que dá para quem expõe. Tive numas três ou quatro salas especiais na Bienal e isso me deu grande prestígio
BIENAL MARCANTE - Gostei de muita coisa, mas o que me chamou mais a atenção foi um escultor espanhol chamado Jorge Oteiza, gostei do modo como ele usava o espaço. E, apesar de não ser pintor, gostei muito do Giorgio Morandi
ERRO E ACERTO - A Bienal tem mais desacertos do que acertos. O maior desacerto é ser temática. O acerto é a liberdade absoluta
QUERO VER - Não sei quem eu gostaria de ver, o mundo está muito pobre. Gostaria de ver uma grande retrospectiva do Richard Serra

FRANS KRACJBERG
Artista plástico, 80, participaçou das quatro primeiras bienais, dentre outras
IMPORTÂNCIA - A Bienal não me deu nada. O prêmio ajudou um pouco: quando ganhei, em 57, fui para Paris e depois para Ibiza. Mas, na verdade, a Bienal não me ajudou em nada
BIENAL MARCANTE - Nunca tive uma revelação. Para mim, todos os movimentos foram normais e, de tudo que foi exposto em bienais, nada foi uma revelação específica
ERRO E ACERTO - Acho que tinham de inventar uma Bienal mais original, que saia da crise, que mostre a outra arte que tem o país, como a dos índios, a arte primitiva. Acho que, para os jovens, a Bienal é positiva, pois eles podem conhecer o que se faz fora do Brasil. Mas ela não ajuda a criar uma arte no Brasil
QUERO VER - a Bienal acompanhar o que está acontecendo no mundo. Ela deve ter coragem de ser atual na entrada no século 21, de acompanhar a evolução do homem, como a arte sempre acompanhou

LUIZ SACILOTTO
Artista plástico, 77, participou das cinco primeiras bienais, entre outras
IMPORTÂNCIA - As primeiras bienais foram extremamente importantes. Foi na Bienal que vi um volume grande de pintores concretos suíços e alemães, que marcaram muito
BIENAL MARCANTE - Várias o foram. Não lembro se foi na segunda ou na terceira que houve uma exposição de uns 15 quadros do Piet Mondrian, que eu gostei muito de ver
ERRO E ACERTO - Todas as bienais temáticas, as que apresentaram o cubismo, o dadaísmo, o concretismo, tiveram acertos. Não vejo erros, mas, ao ser temática, há sempre pequenas divergências com a comissão eleita para fazer a curadoria
QUERO VER - Uma obra ou mais de Bridget Riley, uma inglesa que professa o concretismo. Suas ondulações dão um efeito muito impressionante

LYGIA PAPE
Artista plática, 71, participou da 3�, 4� e 5� bienais, dentre outras
IMPORTÂNCIA - A Bienal sempre é interessante, você encontra série de obras que só veria fora do país, e não dá para sair viajando pelo mundo para ver tudo. É bom para o artista e para o público verem o que está acontecendo lá fora
BIENAL MARCANTE - O que eu mais gostei foi de ver o Alexander Calder, um grande escultor, e a Louise Bourgeois. Há certas coisas que eu gosto sempre de reencontrar, como Giorgio Morandi. Gosto de ter reencontros prazerosos, principalmente com pintores
ERRO E ACERTO - Não sei qual é o erro da Bienal. São tantos curadores... Acertos e erros vão acontecendo sucessivamente. As últimas, como as do Nelson Aguilar, tinham propostas interessantes
QUERO VER - As coisas diferentes, ser surpreendida. Gosto das surpresas da Bienal. Por que é aleatório, como ligar o rádio. Em toda Bienal há coisas que você vai adorar e outras que você vai odiar

RUBENS GERSHMAN
Artista plástico, 59, participou da 8� e da, 9� bienais, dentre outras
IMPORTÂNCIA - Já foi maior importância do é hoje. A Bienal continua tendo interesse, mas, num dado momento da minha vida, havia emoção em expor na Bienal. Hoje é comum, é como uma feira de arte, que se vê em qualquer país
BIENAL MARCANTE - Quando tinha uns 15 anos fui a São Paulo ver a Bienal organizada pelo Mário Pedrosa. Vi Paul Klee, Jackson Pollock, Wassily Kandinsky, os construtivistas russos. Quem viu as três primeiras bienais nunca vai se esquecer. Foi aí que tive o desejo de participar de uma Bienal
ERRO E ACERTO - Quem sou eu para julgar um erro? Um pecado foi não ter destinado parte do que se gastava numa Bienal para comprar quadros dos grandes artistas que expunham, como Klee, Pollock, Giorgio Morandi. Naquela época dava, porque o preço era baixo. Apesar de tudo, da megalomania paulista e dos quilômetros de obras, ao apertar o limão, sempre caem gotas suculentas
QUERO VER - Grandes retrospectivas históricas de gente como Lucien Freud, Jackson Pollock, Francis Bacon ou Alexander Calder, já que os artistas jovens vêm sempre

LUIZ PAULO BARAVELLI
Artista Plástico, 58, participou da 9� e da 17� bienais
IMPORTÂNCIA - A Bienal foi fundamental. Na primeira, eu tinha 12 anos e descobri que a arte existia. Fiquei fascinado como estou até hoje
BIENAL MARCANTE - Numa das primeiras, vi um quadro enorme de Robert Motherwell, chamado "Elegia à República Espanhola". Era heróico, visual. É impossível colocar em palavras
ERRO E ACERTO - O maior erro é ignorar a arte do Brasil real. O maior acerto foi o do Ciccillo Matarazzo, que foi ter a coragem de fazer a Bienal
QUERO VER - A Bienal abandonar o modelo obsoleto de exposição de arte

NUNO RAMOS
Artista plástico, 41, participou das três últimas bienais, dentre outras
IMPORTÂNCIA - Quando a Bienal tinha uma representação caracterizada por uma sala para cada artista, isso dava uma dimensão enorme ao artista, pois ressaltava a escala da obra. É claro que tudo depende de como a Bienal é curada. Se ela é mais temática, a importância para o artista é menor. Mas a divulgação é sempre grande
BIENAL MARCANTE - Gostei de ver muita coisa. Philip Guston, o raio do Joseph Beuys, as obras do AnselmKieffer, muita coisa bacana
ERRO E ACERTO - O maior erro foi passar a ser uma Bienal na qual a questão curatorial aparece mais do que o artista. O acerto é a ambição de colocar as questões da arte para o público
QUERO VER - Entre os modernos, gostaria de ver as duas danças do Henri Matisse juntas. Entre os contemporâneos, as elipses do Richard Serra

ROSÂNGELA RENNÓ
Artista plástica, 38, participou da 22� e da 24� bienais
IMPORTÂNCIA - A Bienal foi um ótimo local de exposição para mim, em 1994, quando apresentei uma instalação de grande porte. Fiquei satisfeita porque o trabalho foi muito visto. Em 1998, participei só com três telas
BIENAL MARCANTE - Gostei da Louise Bourgeois, pela melancolia e pela grandiosidade do trabalho dela, e do "Desvio para o Vermelho", do Cildo Meirelles, pelo aspecto histórico. Essa instalação do Cildo tinha sido montada no MAM e só foi montada de novo na bienal curada por Paulo Herkenhoff, em 1998
ERRO E ACERTO - O principal problema da Bienal é a falta de infra-estrutura, que é um problema típico de exposições grandes. A Bienal está sempre tentando acertar, mas é difícil. Cabe uma discussão sobre a eficácia de se ter uma exposição tão grande
QUERO VER - Obras do Jeff Wall e do Stan Douglas. Não sei se eles já vieram para a Bienal, porque a exposição é tão grande que às vezes você só presta atenção naqueles artistas que são destaque. Anos depois, um artista fica famoso e você percebe que já tinha visto a obra dele numa Bienal de São Paulo


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