São Paulo, domingo, 23 de outubro de 2005

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VIOLÊNCIA NO TRABALHO

Estresse pós-traumático é o quadro mais comum apresentado por quem passa por uma situação violenta

Drama persiste para os que sobrevivem

DA REPORTAGEM LOCAL
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Os acidentes de trabalho são um grave problema de saúde pública em São Paulo. Calcula-se que ocorram aproximadamente 180 mil por ano, ligados ao cotidiano do trabalhador paulistano, e que só 10% deles sejam notificados.
A subnotificação dos acidentes de trabalho e, especialmente, dos registros de óbito são o principal entrave para estimar a real dimensão da população atingida.
Para agravar a situação, os registros existentes refletem, em geral, apenas os transtornos ocorridos com funcionários segurados pelo INSS (Instituto Nacional do Seguro Social), excluindo, dessa forma, os empregados informais. Com isso, a luta pelo direito à indenização em casos de acidente de trabalho acaba, muitas vezes, tornando-se maior que o dano.
Impossibilitada de clinicar, a médica Aparecida Suely Messa, 58, evita pensar no passado. A oftalmologista ficou paraplégica ao ser baleada durante um assalto ocorrido há cinco anos.
Agora aposentada por invalidez, ela diz que vive um drama. "Eu tive de esquecer tudo e fazer outra vida", conta. Atualmente, a médica move uma ação contra o Estado, em que pede indenização por danos morais e materiais. E sobrevive com a aposentadoria.
Ao voltar do trabalho para casa, a gerente E.B.S., 30, foi recepcionada em casa por um ladrão e tornou-se vítima de uma quadrilha especializada em bancos. Foram 20 horas como refém junto a seu marido, mais tarde levado a um cativeiro. "Era dia de pagamento. Tive de retirar o dinheiro do cofre, sob a ameaça de que matariam o meu marido." Além de não receber assistência psicológica, ela conta que foi transferida para quatro agências diferentes nos três meses seguintes ao episódio.
"Tiraram-me do cargo de gerência e, mais tarde, fui despedida sem justificativa. Acusaram-me de não ter avisado a polícia, mas, se eu fizesse isso, o meu marido seria assassinado", defende-se.
No momento, a profissional está afastada do trabalho, sofre de síndrome do pânico e passa por um intenso tratamento psiquiátrico para superar o trauma. Com ajuda do Sindicato dos Bancários, move um processo contra o banco, no qual reivindica indenização por danos morais, assédio moral e reintegração à função.

Seqüelas
As complicações de alguém que passa por uma situação violenta podem ser das mais variadas, mas o quadro mais comum é o estresse pós-traumático. "Alguém que vive um trauma no local de trabalho tende a repetir o quadro em um lugar que remeta àquela situação", explica o psiquiatra forense Guido Palomba. Normalmente, a pessoa tem pesadelos, baixo rendimento profissional e depressão.
A reforma do Código Civil, em 2002, possibilitou a indenização por danos psíquicos ao profissional que passa por uma vivência traumática no trabalho. "Se houver nexo em relação ao que está sendo apresentado, o trabalhador certamente ganhará o caso."


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