São Paulo, domingo, 23 de outubro de 2005

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VIOLÊNCIA NO TRABALHO

No município de São Paulo, 1 em cada 4 profissionais que perdem a vida em serviço é assassinado a tiros na empresa

Disparo de arma de fogo é a maior causa de morte

Renato Stockler/Folha Imagem
O funcionário do Metrô Raimundo Cordeiro foi vítima de assalto duas vezes no trabalho e diz sofrer de síndrome do pânico


ANDRESSA ROVANI
DA REPORTAGEM LOCAL

MARIANA BERGEL
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Assassinato por arma de fogo é a principal causa de morte no trabalho na cidade de São Paulo. Dentro da empresa, 1 em cada 4 empregados que sofrem agressões fatais é vítima de tiros.
Os dados, do Pro-Aim (Programa de Aprimoramento das Informações de Mortalidade), ligado à Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo, revelam, ainda, que 30% dos óbitos ocorridos em serviço são resultado de agressão. Ao todo, de 174 mortes no trabalho registradas entre 2003 e 2004, 53 tiveram origem na violência.
"Certamente, homicídio é a principal causa de morte de trabalhadores dentro da empresa", confirma a pesquisadora Bernardette Cunha Waldvogel, gerente de indicadores e estudos populacionais da Fundação Seade.
Um dos piores reflexos da violência urbana no cotidiano do trabalhador paulistano aconteceu há quatro anos, quando seis pessoas foram mortas por criminosos em uma loja de assistência técnica, ocorrência que ficou conhecida como a "chacina da rua Clélia".
Tiros também causaram a morte de M.J.S., 30, há dois meses. Depois de exercer por oito anos a função de motorista de uma empresa de ônibus municipal, ele foi assassinado à queima-roupa enquanto trabalhava. No dia anterior à sua morte, M.J.S. teria sido vítima de ameaças de perueiros, os quais o acusavam de estar "roubando" seus passageiros.
"Quero que a justiça seja feita. Os assassinos têm que ser presos, e a firma precisa me dar alguma ajuda", reivindica a mãe do rapaz, que preferiu não se identificar.
Além das armas de fogo, aparecem nas estatísticas de óbito do Pro-Aim os homicídios com objetos como facas, ferramenta utilizada no assassinato de um estagiário da Rádio USP durante o expediente, no último dia 14.
Segundo o levantamento, entre todos os tipos de acidentes fatais de trabalho -como queda, transporte e agressão-, o último aparece como a principal causa de óbito. Waldvogel, porém, afirma que, fora da empresa, os eventos que mais matam são aqueles ligados ao transporte, como colisões de veículos e atropelamentos.
"Ao contrário do que se via antes, hoje não são mais as quedas que matam o funcionário. Dentro do local de trabalho, é o homicídio e, fora, são os acidentes de transporte", diz a pesquisadora.
Já para o Sivat (Sistema de Vigilância de Acidente do Trabalho), também ligado à Secretaria Municipal de Saúde, foram as quedas as principais responsáveis pelo óbito de trabalhadores no exercício da profissão em 2004 . "Mas a violência já extrapolou o ambiente doméstico e também tem crescido como motivo de acidentes de trabalho fatais", assinala a funcionária do Sivat Rita Bessa.
Pela lei, o acidente de trabalho ocorre durante o expediente, no percurso casa-trabalho-casa, no horário do almoço ou quando o empregado está em serviço externo. A falta de um sistema confiável de mensuração das ocorrências, porém, leva à subnotificação dos casos.


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