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O BOM CURRÍCULO
Vencimentos 30% menores não desmotivam estréia no terceiro setor, que cada vez mais oferece vagas
Profissionais abdicam de salário e carreira
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Até o ano passado, o administrador Felipe Fagundes, 26, tinha
uma carreira promissora no mercado financeiro. Acumulava no
currículo experiência em banco
no exterior e ganhava o suficiente
para manter seus investimentos.
Em agosto, pediu demissão.
"Não queria mais trabalhar em
empresas, que têm foco no lucro."
Ficou seis meses desempregado,
período em que se informou sobre o terceiro setor. Desde janeiro,
trabalha na Ashoka Empreendedores Sociais, entidade de fomento a iniciativas entre ONGs.
Fagundes sabe que seu padrão
de vida dificilmente permanecerá
o mesmo. Mas o salário não é
prioridade, segundo ele. "Estou
mais feliz. A mudança está até na
minha aparência", comemora.
A coordenadora do Ceats (Centro de Empreendedorismo Social
e Administração do Terceiro Setor da USP), Rosa Maria Fischer,
estima que as ofertas de trabalho
nessa área vão crescer.
Mas desestimula quem ambiciona um emprego com benefícios como 14� salário e plano de
saúde custeado pelo empregador.
"Funcionários do terceiro setor
recebem cerca de 30% menos do
que os da iniciativa privada."
Mesmo com um emprego estável na Prefeitura de São Paulo, a
pedagoga Silvia Maria Pereira de
Carvalho, 55, largou a posição para criar, há 19 anos, uma ONG,
hoje chamada Instituto Avisa Lá.
"Morro de medo de não ter verba para pagar as seis pessoas da
entidade", confessa. Mas diz que
o temor não é forte a ponto de fazê-la deixar a organização.
Competição
A idéia de abandonar o emprego em prol de uma causa exige
mais que coragem. Requer também uma boa dose de conhecimento sobre o terceiro setor.
"A tendência de profissionalização do segmento é muito forte",
avalia o coordenador do Cets
(Centro de Estudos do Terceiro
Setor), da Fundação Getulio Vargas, Luiz Carlos Merege. Nos últimos anos, cresceu o número de
cursos sobre o tema, que
vão de empreendedorismo social
à gestão de terceiro setor.
A superintendente do Instituto
Criança é Vida, Regina Stella
Schwandner, 50, apostou em
muita leitura e especialização em
captação de recursos. "É preciso
gerenciar a ONG como uma empresa para dar certo", explica.
Ela dedica cinco horas diárias à
instituição, mas não migrou totalmente: mantém uma consultoria
própria. "Algum dia concentrarei
os esforços no setor", planeja.
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