São Paulo, domingo, 10 de abril de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

O BOM CURRÍCULO

Vencimentos 30% menores não desmotivam estréia no terceiro setor, que cada vez mais oferece vagas

Profissionais abdicam de salário e carreira

COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Até o ano passado, o administrador Felipe Fagundes, 26, tinha uma carreira promissora no mercado financeiro. Acumulava no currículo experiência em banco no exterior e ganhava o suficiente para manter seus investimentos.
Em agosto, pediu demissão. "Não queria mais trabalhar em empresas, que têm foco no lucro." Ficou seis meses desempregado, período em que se informou sobre o terceiro setor. Desde janeiro, trabalha na Ashoka Empreendedores Sociais, entidade de fomento a iniciativas entre ONGs.
Fagundes sabe que seu padrão de vida dificilmente permanecerá o mesmo. Mas o salário não é prioridade, segundo ele. "Estou mais feliz. A mudança está até na minha aparência", comemora.
A coordenadora do Ceats (Centro de Empreendedorismo Social e Administração do Terceiro Setor da USP), Rosa Maria Fischer, estima que as ofertas de trabalho nessa área vão crescer.
Mas desestimula quem ambiciona um emprego com benefícios como 14� salário e plano de saúde custeado pelo empregador. "Funcionários do terceiro setor recebem cerca de 30% menos do que os da iniciativa privada."
Mesmo com um emprego estável na Prefeitura de São Paulo, a pedagoga Silvia Maria Pereira de Carvalho, 55, largou a posição para criar, há 19 anos, uma ONG, hoje chamada Instituto Avisa Lá.
"Morro de medo de não ter verba para pagar as seis pessoas da entidade", confessa. Mas diz que o temor não é forte a ponto de fazê-la deixar a organização.

Competição
A idéia de abandonar o emprego em prol de uma causa exige mais que coragem. Requer também uma boa dose de conhecimento sobre o terceiro setor.
"A tendência de profissionalização do segmento é muito forte", avalia o coordenador do Cets (Centro de Estudos do Terceiro Setor), da Fundação Getulio Vargas, Luiz Carlos Merege. Nos últimos anos, cresceu o número de cursos sobre o tema, que vão de empreendedorismo social à gestão de terceiro setor.
A superintendente do Instituto Criança é Vida, Regina Stella Schwandner, 50, apostou em muita leitura e especialização em captação de recursos. "É preciso gerenciar a ONG como uma empresa para dar certo", explica.
Ela dedica cinco horas diárias à instituição, mas não migrou totalmente: mantém uma consultoria própria. "Algum dia concentrarei os esforços no setor", planeja.


Texto Anterior: Empresa até paga por colaboração
Próximo Texto: "Sou mais feliz hoje", afirma ex-executiva
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.