São Paulo, domingo, 10 de abril de 2005

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O BOM CURRÍCULO

Altruísmo alavanca trajetória de profissional qualificado; 23% dos pós-graduados exercem a função

Voluntário ajuda aos outros e a si próprio

Rogério Cassimiro/Folha Imagem
A executiva Viveka Kaitila, que dá aulas de inglês a estudantes de escolas públicas em São Paulo


RAQUEL BOCATO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Cuidar de crianças carentes ou dar aulas sobre cidadania é mais que realização pessoal. O voluntariado tem desdobramentos profissionais e conta pontos na seleção de candidatos qualificados.
Um reflexo disso é a participação de pessoas com alto nível de escolaridade: 23% dos pós-graduados brasileiros e 20% dos profissionais com ensino superior completo são voluntários. Essa proporção é bem superior à de outros níveis, como entre analfabetos (3%) e entre quem tem o ensino fundamental completo (9%).
Os dados são de pesquisa recém-concluída pela Ipsos-Marplan com 50.520 pessoas durante o ano de 2004 e foram obtidos com exclusividade pela Folha.
Além do senso de responsabilidade, especialistas em recursos humanos dizem ver no voluntário diferenciais como iniciativa, habilidade para administrar o tempo e capacidade de atuar em equipe.
"Trata-se de um fator importante a ser considerado, caso dois candidatos tenham qualificações semelhantes", explica o consultor da Career Center, Fernando Dias.
Para o publicitário Sergio Silva, 27, as quatro horas semanais dedicadas à ONG AFS (que oferece bolsas de estudo em intercâmbios culturais) foram decisivas para seu ingresso no mercado. "Minha chefe era simpática ao trabalho voluntário e valorizava o caráter multicultural da ONG", lembra.
Segundo ele, a experiência ainda rende frutos: foi escalado para liderar um grupo de trabalho no México e para coordenar reuniões com clientes de outros países.

Raio-X
Segundo a pesquisa da Ipsos-Marplan, 9% dos brasileiros são voluntários. O percentual não inclui os que só contribuem financeiramente com entidades beneficentes (veja quadro ao lado).
E, ao contrário do que se imagina, a superioridade feminina nessa atividade não é tão grande: 47% dos voluntários são homens -as mulheres perfazem 53%. A vendedora Meire Ferreira da Silva, 24, integra as estatísticas há três anos, quando ingressou no Instituto C&A de Desenvolvimento Social. Para ela, a experiência na educação de crianças impulsionou sua promoção. "Até meu gerente diz que mudei. Hoje, sou mais participativa, crítica e receptiva a novidades", avalia.
A atriz Rosângela Valverde, 48, vê outros benefícios: organização, respeito ao próximo e maior estrutura emocional. Ela tem conhecimento de causa. Passa 40 horas por mês em asilos, hospitais e debaixo de viadutos, onde distribui sopa a moradores de rua.
Segundo a consultora de RH da Manager Renata Perrone, a valorização de candidatos com atividades voluntárias no currículo é uma tendência. "Na entrevista, ao ser questionado sobre suas qualidades, o profissional deve sempre ressaltar os benefícios pessoais trazidos pelo trabalho", ensina.
Para os novatos, a presidente do Instituto Faça Parte, Milú Villela, sugere: "Cada pessoa deve refletir sobre com qual causa e público se identifica e depois procurar organizações com um trabalho sério".
Falta de tempo não é desculpa. "Para quem trabalha, uma opção é ser voluntário nos fins de semana, em escolas abertas que participam de programas como o Escola da Família", propõe Villela.


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