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ARGENTINA
"Custo deve ser dividido"
Paridade deve acabar, afirma economista
CLAUDIA ANTUNES
DA SUCURSAL DO RIO
O fim da conversibilidade, pela
qual um peso argentino vale US$
1 desde 1991, é inevitável. Trata-se
agora de buscar fórmulas que distribuam seus custos, fazendo com
que paguem mais os setores que
mais se beneficiaram da política
econômica dos últimos anos -os
bancos e as concessionárias das
empresas de serviços públicos
privatizadas.
Essa é a opinião do economista
argentino Carlos Vilas, presidente
do Instituto Argentino para o Desenvolvimento Econômico, um
centro de estudos independente.
Vilas afirma que há várias alternativas para distribuir o custo do
fim da paridade -e a consequente desvalorização do peso. Uma
delas seria a cobrança única de
um imposto que minimize as perdas dos devedores e diminua o
ganho dos credores. Outra seria
manter a proporção 1 peso/US$ 1
para as dívidas.
"Senão ninguém paga e os bancos quebram, como aconteceu
em 1994 no México", diz Vilas,
que participou no Rio, semana
passada, da inauguração do Laboratório de Políticas Públicas da
Uerj (Universidade do Estado do
Rio de Janeiro).
Para o economista, qualquer
pacote de ajuste lançado agora
pelo governo terá duração curta,
pois a situação do balanço de pagamentos e do déficit público tornou o país um "devedor duvidoso". A Argentina pagará cada vez
mais caro para atrair os capitais
que sustentam a conversibilidade
-que exige que o país mantenha
reservas em dólar equivalentes ao
meio circulante em pesos.
"Estão esperando milagres, mas
este governo não adia o problema
por três anos e meio", diz Vilas,
referindo-se ao fim do mandato
de Fernando de la Rúa.
Na sua opinião, o governo argentino está assumindo com o
FMI compromissos em relação ao
déficit público "que não pode
cumprir, porque pensa que com
isso emite mensagens positivas ao
mercado". "Mas, se não cumprir
as promessas, é pior."
Segundo Carlos Vilas, o fim da
conversibilidade já era óbvio há
mais de dois anos, quando acabou o ciclo das privatizações
-em que todas as estatais, com
exceção do Banco de la Nación,
foram vendidas- e o governo
começou a ter dificuldades para
sustentar suas contas.
Embora os quase dez anos de
estabilidade monetária tenham
beneficiado a todos, o economista
acredita que os grupos privilegiados foram os que controlam as finanças e os serviços -que não
sofrem competição externa. "A
dívida pública se expressa nas altas taxas de lucros dessas áreas
mais concentradas", diz Vilas. "A
Argentina contrata a dívida a juros de 6% a 7% ao ano e os bancos
a repassam, com juros maiores,
aos setores de alta rentabilidade."
O economista aponta também a
necessidade de uma reforma tributária para mudar o perfil dos
impostos, que hoje incidem principalmente sobre o consumo.
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