São Paulo, domingo, 28 de maio de 2000


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ARGENTINA

"Custo deve ser dividido"

Paridade deve acabar, afirma economista


CLAUDIA ANTUNES
DA SUCURSAL DO RIO

O fim da conversibilidade, pela qual um peso argentino vale US$ 1 desde 1991, é inevitável. Trata-se agora de buscar fórmulas que distribuam seus custos, fazendo com que paguem mais os setores que mais se beneficiaram da política econômica dos últimos anos -os bancos e as concessionárias das empresas de serviços públicos privatizadas.
Essa é a opinião do economista argentino Carlos Vilas, presidente do Instituto Argentino para o Desenvolvimento Econômico, um centro de estudos independente. Vilas afirma que há várias alternativas para distribuir o custo do fim da paridade -e a consequente desvalorização do peso. Uma delas seria a cobrança única de um imposto que minimize as perdas dos devedores e diminua o ganho dos credores. Outra seria manter a proporção 1 peso/US$ 1 para as dívidas.
"Senão ninguém paga e os bancos quebram, como aconteceu em 1994 no México", diz Vilas, que participou no Rio, semana passada, da inauguração do Laboratório de Políticas Públicas da Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro).
Para o economista, qualquer pacote de ajuste lançado agora pelo governo terá duração curta, pois a situação do balanço de pagamentos e do déficit público tornou o país um "devedor duvidoso". A Argentina pagará cada vez mais caro para atrair os capitais que sustentam a conversibilidade -que exige que o país mantenha reservas em dólar equivalentes ao meio circulante em pesos.
"Estão esperando milagres, mas este governo não adia o problema por três anos e meio", diz Vilas, referindo-se ao fim do mandato de Fernando de la Rúa.
Na sua opinião, o governo argentino está assumindo com o FMI compromissos em relação ao déficit público "que não pode cumprir, porque pensa que com isso emite mensagens positivas ao mercado". "Mas, se não cumprir as promessas, é pior."
Segundo Carlos Vilas, o fim da conversibilidade já era óbvio há mais de dois anos, quando acabou o ciclo das privatizações -em que todas as estatais, com exceção do Banco de la Nación, foram vendidas- e o governo começou a ter dificuldades para sustentar suas contas.
Embora os quase dez anos de estabilidade monetária tenham beneficiado a todos, o economista acredita que os grupos privilegiados foram os que controlam as finanças e os serviços -que não sofrem competição externa. "A dívida pública se expressa nas altas taxas de lucros dessas áreas mais concentradas", diz Vilas. "A Argentina contrata a dívida a juros de 6% a 7% ao ano e os bancos a repassam, com juros maiores, aos setores de alta rentabilidade."
O economista aponta também a necessidade de uma reforma tributária para mudar o perfil dos impostos, que hoje incidem principalmente sobre o consumo.


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