São Paulo, domingo, 28 de maio de 2000


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TENDÊNCIAS INTERNACIONAIS

Europa também reage ao poderio de Bill Gates


GILSON SCHWARTZ
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

As autoridades dos EUA não são as únicas preocupadas com o poder de mercado da Microsoft. Bill Gates também está às voltas com uma frente européia.
A Comissão Européia abriu fogo contra a expansão dos negócios da Microsoft no setor de TV a cabo. Aliás, entre os investimentos da empresa nesse segmento se inclui uma participação na Globo Cabo, do Brasil.
Segundo a Comissão Européia, a Microsoft não é digna de confiança e representa uma ameaça ao mercado emergente de televisão digital interativa.
Com US$ 3 bilhões, a Microsoft quer (junto com a AT&T) comprar a Telewest Communications, inglesa. Para os europeus, a entrada da Microsoft criaria um "estrangulamento técnico" em serviços interativos, Internet e comércio eletrônico por cabo. De novo, o risco é o de surgir um monopólio.
Os setores mais dinâmicos da nova infra-estrutura da nova economia estão passando neste momento por uma intensa guerra regulatória de bastidores.
Outro exemplo é o da definição de regras para o uso de frequências (está em curso uma negociação em Istambul, na Turquia, na "World Radiocommunication Conference", no âmbito da "International Telecommunication Union").
Cada região do mundo tem seus padrões, colonizou o ar de modo diferente (satélites, operações militares etc.). Europeus e norte-americanos disputam uma guerra de padrões cujos detalhes não chegam às publicações que promovem, de modo aparentemente inocente, softwares, máquinas e tecnologias que parecem estáveis, com soluções para tudo. Mas são incertas a vida útil de cada produto e a rentabilidade de cada empresa.
No Brasil, discute-se por exemplo as regras da banda C de telefonia celular. Empresas pedem mudanças nas telecomunicações para concentrar mercado e operar com escalas mais rentáveis. Também podem entrar novos atores, ameaçando tecnologias e investimentos.
Outro grande risco é o do conluio entre fornecedores de infra-estrutura (como empresas de telefonia ou de TV a cabo) e fornecedores de conteúdo.
Quem domina a oferta de infra-estrutura pode barrar a difusão de conteúdos produzidos de concorrentes. E vice-versa.
Os reguladores nos EUA já examinam acusações de que fabricantes de roteadores (máquinas para gerenciar o tráfego virtual) incluem em seus equipamentos mecanismos que impedem ou dificultam o tráfego para certas regiões do ciberespaço.
Mais que nunca é perigoso ser ingênuo, acreditar que uma tecnologia é só uma ferramenta que não orienta ou condiciona a forma de usar ou o tipo de conteúdo que se conseguirá acessar.
A tecnologia de informação, portanto, não pode ser vista como objeto alheio à política.
Mais do que isso, a construção de máquinas e softwares traz sempre embutida uma série de opções sobre como as pessoas devem se comunicar, se organizar, de como as sociedades devem tratar e mesmo legislar sobre suas formas de produção de informação e conhecimento.
A julgar pela difusão de informações sobre esses temas e pelas oportunidades abertas para discuti-los, o Brasil permanece na pré-história da construção de sua sociedade do conhecimento.

Convite
Convido os leitores de Brasília para o lançamento do meu livro "O Capital em Jogo - Fundamentos Filosóficos da Especulação Financeira" (Ed. Campus), na próxima terça-feira, a partir das 19h, no restaurante Nação Nordestina.


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