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TENDÊNCIAS INTERNACIONAIS
Europa também reage ao poderio de Bill Gates
GILSON SCHWARTZ
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS
As autoridades dos
EUA não são as únicas
preocupadas com o poder de
mercado da Microsoft. Bill Gates também está às voltas com
uma frente européia.
A Comissão Européia abriu
fogo contra a expansão dos negócios da Microsoft no setor de
TV a cabo. Aliás, entre os investimentos da empresa nesse segmento se inclui uma participação na Globo Cabo, do Brasil.
Segundo a Comissão Européia, a Microsoft não é digna de
confiança e representa uma
ameaça ao mercado emergente
de televisão digital interativa.
Com US$ 3 bilhões, a Microsoft quer (junto com a AT&T)
comprar a Telewest Communications, inglesa. Para os europeus, a entrada da Microsoft
criaria um "estrangulamento
técnico" em serviços interativos,
Internet e comércio eletrônico
por cabo. De novo, o risco é o de
surgir um monopólio.
Os setores mais dinâmicos da
nova infra-estrutura da nova
economia estão passando neste
momento por uma intensa
guerra regulatória de bastidores.
Outro exemplo é o da definição de regras para o uso de frequências (está em curso uma
negociação em Istambul, na
Turquia, na "World Radiocommunication Conference", no
âmbito da "International Telecommunication Union").
Cada região do mundo tem
seus padrões, colonizou o ar de
modo diferente (satélites, operações militares etc.). Europeus e
norte-americanos disputam
uma guerra de padrões cujos detalhes não chegam às publicações que promovem, de modo
aparentemente inocente, softwares, máquinas e tecnologias
que parecem estáveis, com soluções para tudo. Mas são incertas
a vida útil de cada produto e a
rentabilidade de cada empresa.
No Brasil, discute-se por
exemplo as regras da banda C de
telefonia celular. Empresas pedem mudanças nas telecomunicações para concentrar mercado
e operar com escalas mais rentáveis. Também podem entrar novos atores, ameaçando tecnologias e investimentos.
Outro grande risco é o do conluio entre fornecedores de infra-estrutura (como empresas
de telefonia ou de TV a cabo) e
fornecedores de conteúdo.
Quem domina a oferta de infra-estrutura pode barrar a difusão de conteúdos produzidos de
concorrentes. E vice-versa.
Os reguladores nos EUA já
examinam acusações de que fabricantes de roteadores (máquinas para gerenciar o tráfego virtual) incluem em seus equipamentos mecanismos que impedem ou dificultam o tráfego para certas regiões do ciberespaço.
Mais que nunca é perigoso ser
ingênuo, acreditar que uma tecnologia é só uma ferramenta
que não orienta ou condiciona a
forma de usar ou o tipo de conteúdo que se conseguirá acessar.
A tecnologia de informação,
portanto, não pode ser vista como objeto alheio à política.
Mais do que isso, a construção
de máquinas e softwares traz
sempre embutida uma série de
opções sobre como as pessoas
devem se comunicar, se organizar, de como as sociedades devem tratar e mesmo legislar sobre suas formas de produção de
informação e conhecimento.
A julgar pela difusão de informações sobre esses temas e pelas oportunidades abertas para
discuti-los, o Brasil permanece
na pré-história da construção de
sua sociedade do conhecimento.
Convite
Convido os leitores de Brasília
para o lançamento do meu livro
"O Capital em Jogo - Fundamentos Filosóficos da Especulação Financeira" (Ed. Campus),
na próxima terça-feira, a partir
das 19h, no restaurante Nação
Nordestina.
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